Luiz Thadeu Nunes (*)
Desde garoto sou apaixonado por velhos. Sou antigo e nada politicamente correto, não gosto do termo “idoso”, acho feio, é pesado. Ainda menino, era com meus avós, tios e tias de minha mãe Dinha, e de meu pai Luiz Magno, que tinha os maiores colóquios. Me encantava ouvi-los. Quantas histórias boas, quanta sabedoria, quantos ensinamentos. Depois foi com os amigos de meu pai que as conversas fluíram, e novos conhecimentos adquiridos.
Há poucos dias, em um final de tarde, com o motorista a me esperar, para conduzir-me a um evento da Secretaria de Turismo, uma senhorinha me abordou. “Moço, o senhor sabe me dizer se esse prédio vai voltar a funcionar?”, me perguntou ela, apontando para o prédio do antigo Hotel Central, localizado no centro de São Luís. O prédiok, hoje, é a sede da Setur, onde trabalho. “Frequentei muito esse hotel, foi aí que tomei o melhor sorvete de ameixa de minha vida”. Me disse ela.
“Sim, vai voltar a funcionar”, disse-lhe. Ainda tive tempo de perguntar-lhe o nome, e pela vivacidade, a idade.
“Maria do Patrocínio Corrêa, e no próximo final de semana completo 91 anos”. Despedi-me na correria de D. Maria e pedi para ela voltar com calma, para um colóquio. Entrei no carro; vi a pequenina Maria a caminhar pela praça Pedro II, banhada pelo avermelhado do entardecer.
Dias depois, ao entrar no supermercado, próximo da minha casa, encontrei d. Maria, já com seus 91 anos de vida e muitas histórias. Me contou que foi enfermeira, mora com netos, filhos de seus filhos do coração. Ativa, anda São Luís toda de ônibus. “Sozinha?”, perguntei, “Sozinha, não, com Deus”, respondeu-me.
Em um evento do governo federal, na sede do Ceprama, conheci o senhor José Wilson Pereira, residente em Brasília, que estava em São Luís, como um dos coordenadores do evento. Seu Wilson viaja o Brasil todo, participando dessa força tarefa federal. José Wilson completa 90 anos no próximo dia 09 de janeiro.
Disse que trabalha há 72 anos, e não pensa em parar. No dia de seu aniversário, lançará o livro “Retalhos de lembranças do menino do toró”.
Atleta olímpico, José Wilson nada todos os dias, nas primeiras horas da manhã, e sai para bater ponto no Palácio do Planalto, em Brasília.
Há uma semana recebi uma mensagem, via WhatsApp, de uma amiga querida. Vera Cabral, uma garota de 73 anos, contou-me que uma colega de Academia tinha lido uma crônica minha no Jornal Pequeno. Gostou, fotocopiou e distribuiu para os colegas da academia. Fez somente uma ressalva, que na crônica me referia a pessoas de sessenta, setenta e oito anos, e deixara de fora as de noventa. Fui convidado por Vera para uma roda de conversa no clube onde fazem ginástica.
Conheci d. Isabel Champoudry, neta de francês, e mãe de meu contemporâneo de faculdade, Noel Matos. Com alegria e vitalidade, aos 90 anos, completados no último dia 28/11, d. Isabel transborda saúde, vitalidade, alegria de viver. No encontro falei um pouco do meu acidente, de como voltei a andar com ajuda das muletas, e ganhei o mundo. Ouvi perguntas. Foi uma troca rica e interessante.
Saí do encontro, da manhã de segunda-feira, revigorado e feliz, como um garoto que tinha encontrado acolhimento por pessoas que no outono da vida estão em busca de saúde, qualidade de vida, de satisfação com suas caminhadas.
Que maravilha ver que as pessoas estão buscando bem-estar, e têm alegria e projetos de futuro. Continuam construindo oportunidades para seguirem em frente com essa coisa mágica que é a vida.
Na recente pesquisa do IBGE, cujo resultado foi divulgado agora, as pessoas com 65 anos ultrapassaram o número de crianças e jovens. O Brasil está se tornando um país de velhos.
Sempre que posso, paro tudo para ouvir os velhos, sigo aprendendo com eles.
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