Entrevista

Lucas Uriel, coordenador de negócios internacionais da Fecomércio : “O processo de exportação precisa ser pensado a longo prazo”.

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Laércio Oliveira, presidente da Fecomércio Foto: Márcio Oliveira

O mercado internacional constantemente despertou o interesse de segmentos empresariais de Sergipe. Mas ter os produtos comercializados no exterior não é tarefa simples e precisa de orientação especializada. O comércio exterior sempre esteve no foco do Sistema Fecomércio, desde 2016. “O tema ‘negócios internacionais’ compõe, desde o início da atual gestão do presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/ Senac, Laércio Oliveira, um dos 5 pilares principais de atuação da federação no estado”, disse  Lucas Uriel, coordenador de negócios internacionais da Federação do Comércio do Estado de Sergipe (Fecomércio).

Para que as empresas possam exportar, a Fecomércio mantém um convênio com a Continental Co., empresa com sede na China, cuja CEO é a sergipana Daniela Sena. “Visando uma maior aproximação entre as partes, a empresa contratou neste ano uma pessoa para cuidar da região Nordeste do Brasil”,  afirmou Lucas Uriel. Mas não é só isso. “A Fecomércio Sergipe será uma das entidades conveniadas à Câmara Nordeste de Negócios Internacionais (CNNI), que deverá ser lançada em breve para abranger esse tipo de demanda comercial que o empresariado tanto tem interesse”, ressaltou.

Negócios Internacionais, um dos 5 pilares principais de atuação da federação no estado

Mesmo com esse aparato para orientar o empresário, Lucas Uriel salienta que é necessário “haver todo um planejamento para começar a exportar o seu produto e enxergar o processo como algo além da oportunidade de somente aproveitar a desvalorização do real para faturar mais do que no mercado interno. O processo precisa ser pensado a longo prazo”.

Sergipano graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Sergipe, Lucas Uriel  tem experiência. Antes de assumir a coordenação na Fecomércio,  Lucas Uriel trabalhou na São Paulo Chamber of Commerce, braço internacional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e no Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras  Exportadores (CECIEx), entre 2017 e março deste ano.

Portanto, é alguém que sabe o caminho para que as empresas ganhem o mercado internacional.

Leia entrevista e conheça os caminhos a serem trilhados para exportar produtos.

SÓ SERGIPE – Qual o papel da coordenadoria de negócios internacionais da Fecomércio?

Sergipana Daniela Sena, CEO da Continental Co, na ação de marketing da AliExpress

LUCAS URIEL: A área de negócios internacionais da Fecomércio tem o papel primordial de servir como plataforma de internacionalização ao setor produtivo sergipano, oferecendo apoio técnico através de orientações e esclarecimento de dúvidas acerca do processo de importação e exportação.  Também aproximar o empresariado do estado a empresas e entidades internacionais, acompanhar os movimentos no que se refere à atração de investimentos estrangeiros por parte da nossa região e atuar em conjunto com demais entidades sergipanas entendendo e esclarecendo ao empresariado os gargalos e soluções logísticas no escoamento e recebimento de produtos de fora do país. A atuação da área inclui também a cooperação com atores internacionais que contribuem com aspectos que vão além do lado comercial, incluindo também o intercâmbio tecnológico e cultural, marketing digital, prospecção de oportunidades de investimento estrangeiro e exposição às tendências e feiras internacionais em todos os setores aplicáveis. Atualmente, possuímos convênio de cooperação assinado com a empresa chinesa Continental Co., que tem como CEO, a sergipana Daniela Sena. Inclusive, visando uma maior aproximação entre as partes, a empresa contratou neste ano uma pessoa para cuidar da região Nordeste do Brasil.

SÓ SERGIPE – Desde 2016, a Fecomércio faz tratativas sobre comércio exterior. Quando ocorreu a criação desta coordenadoria e qual a meta?

LUCAS URIEL: O tema “negócios internacionais” compõe, desde o início da atual gestão do presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/ Senac, Laércio Oliveira, um dos 5 pilares principais de atuação da federação no estado. Sendo assim, mesmo que a contratação de um colaborador para cuidar da área tenha ocorrido oficialmente apenas no início do segundo semestre deste ano, não é de hoje que a entidade trabalha com esta pauta, contando com grande apoio de diretores, conselheiros e do superintendente Maurício Gonçalves, um entusiasta da área. Desde 2019, existe um programa de internacionalização de negócios chamado “Sua Empresa Mundo Afora”, que contava anteriormente com o apoio direto da Fecomércio Alagoas e da Câmara de Negócios Internacionais de Alagoas (CNIA), e que continuam sendo grandes parceiras. A principal diferença agora é que a federação possui um ponto focal em Sergipe para atender in loco e com acompanhamento mais próximo às demandas que a área recebe, dando apoio contínuo a todo o processo. Dessa forma, a meta principal é alavancar o setor produtivo sergipano, aumentando a sua competitividade e gerando emprego e renda, através da internacionalização destas empresas. Obviamente não é uma coisa que ocorrerá da noite para o dia, mas é importante que sejam dados os primeiros passos.

Ainda na mesma linha, é importante mencionar também que a Fecomércio Sergipe será uma das entidades conveniadas à Câmara Nordeste de Negócios Internacionais (CNNI), que deverá ser lançada em breve para abranger esse tipo de demanda comercial que o empresariado tanto tem interesse.

SÓ SERGIPE – Nessas duas últimas semanas, representantes de duas empresas sergipanas procuraram a coordenadoria que o senhor dirige visando exportar os seus produtos. Em que andamento estão essas conversas?

LUCAS URIEL: Enquanto a reunião com a Brasil Sabores na segunda-feira. 1º, foi o primeiro contato pessoal que tivemos com a empresa, as conversas junto à NP Aquicultura Sustentável já estão mais adiantadas. No momento, estamos trabalhando em conjunto para colocá-los em contato com empresas e entidades no exterior que os auxiliem a abrir o mercado-alvo fora do Brasil.

SÓ SERGIPE – Uma dessas empresas, a Brasil Sabores, produz cachaça, pimentas especiais e óleo de coco.  Seus representantes já fizeram prospecção de clientes em Portugal e na Espanha. Isso significa que o processo de exportação pode começar a acontecer dentro de pouco tempo?

LUCAS URIEL: Conhecemos a Brasil Sabores na última segunda-feira, 1º, e, pessoalmente, fiquei surpreso, de maneira positiva, com a qualidade dos produtos e das embalagens. Como a empresa trabalha já com foco no mercado externo, eles já buscaram adaptar a “cara” dos produtos para que haja uma maior receptividade no mercado europeu, que é o mercado prioritário deles no momento. Além disso, pelo que foi dito na reunião, já há, inclusive, demanda por parte de clientes que eles mantiveram contato em visita à Espanha. Sendo assim, penso que os próximos passos deverão incluir na escolha pela exportação direta ou indireta; no caso da exportação direta, o registro da empresa no Radar | Siscomex, planejamento de logística, estoque, distribuição, negociação junto ao cliente, emissão de certificações, a depender do produto, no Brasil e no exterior etc.

SÓ SERGIPE – Recentemente, a Fecomércio renovou o contrato com a Continental Co. e houve uma reunião para discutir a exportação de pescados para o mercado chinês. Se isso acontecer será um ganho, tanto para a empresa sergipana quanto para Sergipe. Como estão as conversas?

LUCAS URIEL: De fato. A relação entre a Fecomércio SE e a Continental Co. não é de hoje. Ela veio sendo construída ao longo dos anos, o que acabou culminando na formalização da parceria através de convênio assinado no ano passado e posterior renovação neste ano. Sobre as conversas entre as empresas sergipana e chinesa acerca da exportação de pescados, estamos ainda nos primeiros passos. Pudemos conhecer um pouco mais sobre o mercado chinês para esse tipo de produto e sobre as exigências cobradas pelos órgãos anuentes na China para a importação de pescados no país asiático.

SÓ SERGIPE – Além dessas reuniões, já existem outras conversas agendadas ao longo das próximas semanas?

LUCAS URIEL: Com certeza. Nessa última semana tivemos uma reunião deveras interessante com uma empresa paulistana que atua com internacionalização de startups e deseja nos apresentar um projeto moldado para startups sergipanas. Aproveitando o ensejo, na próxima terça-feira acompanharemos uma startup parceira da entidade em uma reunião no Sebrae onde será discutido um projeto que envolve empreendedorismo jovem. Faremos também uma visita à Fabise, em Nossa Senhora do Socorro, para conhecermos a empresa e conversarmos sobre exportação. Deveremos ter também uma segunda reunião com empresários da região sul do estado, com o apoio da CDL Estância, para pensar em uma capacitação conjunta sobre comércio exterior, envolvendo também a Reina e a Continental Co.. Na primeira reunião, realizada na semana passada, estreitamos os laços com a secretária de desenvolvimento econômico do município de Estância, discutindo sobre negócios e turismo internacional. Existe ainda, dentro do planejamento de eventos da entidade para os próximos meses, o lançamento da plataforma e-Comex do Brasil em Sergipe. O programa, uma extensão do trabalho já realizado pela Câmara de Negócios Internacionais de Alagoas (CNIA) e apoiado pela Fecomércio Sergipe, irá preparar as empresas do nordeste do Brasil a venderem os seus produtos pelos seus próprios sites para os EUA, a Europa e o Brasil.

Reunião da Coordenadoria de Negócios Internacionais, esta semana, na Fecomércio

SÓ SERGIPE – A coordenadoria tem o papel, também, de estimular os empresários a exportarem os produtos?

LUCAS URIEL: A área de negócios internacionais tem, antes de tudo, o papel de orientar o empresário sobre os processos, tanto de exportação quanto de importação. Normalmente, quando somos procurados pelas empresas, já há uma vontade e um estímulo para vender os seus produtos no mercado externo, por vários motivos. O que acredito ser importante salientar é que existe a necessidade de haver todo um planejamento para começar a exportar o seu produto e enxergar o processo como algo além da oportunidade de somente aproveitar a desvalorização do real para faturar mais do que no mercado interno. O processo precisa ser pensado a longo prazo.

SÓ SERGIPE – Vocês procuram os empresários e os chamam para dizer que a coordenadoria está à disposição para ajudá-los nos negócios no exterior?

LUCAS URIEL: Também. Recebemos demandas de reuniões de empresários indicados por entidades parceiras, alguns que tomaram ciência da área por meio das redes sociais, outros que já frequentam a entidade com frequência. Buscamos divulgar o trabalho da entidade, seja recebendo os empresários para conversarem aqui, seja agendando reuniões de apresentação e visitando a empresa, inclusive participando de eventos e encontros promovidos para discussão de temas de interesse comum do setor produtivo. O exemplo mais recente foi a reunião mensal ordinária do Fórum Empresarial de Sergipe, na qual apresentamos as ações da área de negócios internacionais, dividindo o espaço com a empresa júnior de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (Reina) – parceira da entidade -, e com a ASEOPP.

SÓ SERGIPE – O senhor, no seu dia a dia, percebe o interesse dos empresários sergipanos em exportarem suas produções? Ou alguma insegurança?

LUCAS URIEL: Existem as duas coisas, inclusive ao mesmo tempo. O interesse por vezes não anula a insegurança. Porém, de alguns anos para cá, tenho percebido que a vontade de fazer tem superado a insegurança no processo. Mês a mês o saldo da balança comercial brasileira vem batendo recordes em termos de valor, e talvez esse fator faça o empresário olhar com mais interesse para a exportação.

SÓ SERGIPE – Sergipe tem um porto importante, tanto para escoamento da nossa produção, como também para recebimento de mercadorias. A Fecomércio tem conversado com a VLI?

Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB) Foto: Ascom/Sedetec

LUCAS URIEL: As conversas entre Fecomércio e VLI já aconteciam antes mesmo da criação oficial da área de negócios internacionais na entidade, inclusive com apresentações do Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB) ao empresariado e entidades do setor produtivo em reunião em nossa sede, visitas técnicas etc. O que vem sendo feito ultimamente com mais afinco é um acompanhamento regular da situação do terminal marítimo e de proposições alternativas logísticas envolvendo não só a VLI, mas também os setores interessados em comércio exterior no estado de Sergipe, operadores logísticos e empresas internacionais e entidades estaduais. A importância desta ação é imensa, pois informa o empresariado sergipano e a sociedade sobre como o porto consegue operar e quais são as alternativas aos gargalos atualmente enfrentados pelo setor logístico internacional em nosso estado. Por exemplo, entre os meses de setembro e outubro foram realizadas reuniões que envolveram a VLI, a representação Hamburg Süd | Grupo Maersk na Bahia, Sebrae SE, FIES, empresários dos setores agropecuário, industrial e comercial do estado, Continental Co. Todas as reuniões ocorreram com o intuito de aproximar as partes, entender os problemas enfrentados pelo setor produtivo no segmento logístico e buscar soluções que promovam o desenvolvimento econômico do estado.

SÓ SERGIPE – Aquele empresário que sonha em exportar sua produção, o que ele deve fazer para buscar orientação junto à coordenadoria que o senhor dirige?

LUCAS URIEL: As portas da entidade estão abertas a qualquer empresário que tenha interesse ou curiosidade sobre internacionalização. Estamos à disposição para atendê-los, seja presencialmente, por ligação, e-mail, WhatsApp, redes sociais. O nosso número para contato é o (79) 3214-2270. Toda a equipe é extremamente solícita e pronta para conversar com as pessoas que nos procuram.

SÓ SERGIPE – Como surgiu o convite para cuidar desta coordenadoria?

LUCAS URIEL:  O convite surgiu a partir da criação da área de negócios internacionais da entidade e da necessidade de ter uma pessoa que cuidasse desse segmento na federação. Desde a minha graduação, a minha vontade era passar um tempo fora do estado para adquirir mais experiência e conhecimento e retornar para aplicá-lo, para o bem da minha querida terra natal. Tive conhecimento das ações que a Fecomércio vinha desenvolvendo no que se refere à internacionalização de empresas pelas redes sociais e, ao retornar a Aracaju, fui convidado pela presidência e superintendência da federação para assumir esta missão.

 

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Antônio Carlos Garcia

CEO do Só Sergipe

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