Manhã de sábado, 19 de março, as chuvas de março caem copiosamente, banhando nossa Ilha. Somos abençoados, mesmo fazendo parte da Região Nordeste, a mais seca do país, temos água em abundância no Maranhão.
Acordo cedo, vejo em um dos grupos de WhatsApp a notícia de que nesta manhã chuvosa Luísa Helena havia feito a passagem.
Leila Amum, querida amiga dos bancos escolares do Colégio Batista, mãe de Luana, nora de Luísa Helena, quem fez a postagem comunicando seu falecimento.
Rebobinando a memória, vem imagens e lembranças da amiga que agora nos deixa. Poucas pessoas em meu entorno, ao longo da vida, foram tão gentis e generosas como Luísa Helena. Mulher simples, educada, disponível, daquelas que se prejudicavam para não contrariar o outro; era de uma elegância única no trato pessoal. Toda a educação de Luísa Helena era fruto da excelente criação que teve.
Preocupada com o próximo, foi o exemplo vivo da verdadeira cristã, uma filha de Jesus Cristo. Mulher de fé no Deus Vivo.
Em julho de 2003, enquanto trabalhava no Incra, sofri um grave acidente de carro que mudaria para sempre minha vida. Até então, como perito federal agrário trabalhava no piso superior da sede do órgão, localizado na avenida Santos Dumont, Anil. Após cinco anos afastado do trabalho, em tratamento da perna esquerda, consequência do acidente automobilístico que sofri em uma BR no interior do Rio Grande do Norte, impossibilitando-me de subir escadas no retorno ao trabalho, fui lotado no setor de cadastro, no térreo do prédio.
Ao me apresentar à minha nova chefe, Luísa Helena me acolheu não como um colega, mas como um filho, tamanho era o amor, carinho, cuidado, zelo para comigo. Como é bom ser bem tratado, gosto dos que me dão atenção, sou carente de afetos.
Em um ambiente de trabalho onde existe todo tipo de pessoas, que sobressai os que não constroem, que prejudicam os outros, que têm prazer em fazer o mal, Luísa Helena era um oásis de bondade e companheirismo. Privar de sua amizade, atenção, apoio e generosidade foram fundamentais para eu continuar no órgão até minha aposentadoria.
“Tem pessoas que vêm ao mundo já prontas”, costumava repetir minha saudosa mãe, ao se referir às pessoas boas, que só sabem dar amor, mesmo espremidas por situações adversas. Luísa era doce, leve, sem arroubos.
Ao ficar viúva do companheiro de jornada, José Ribamar Réis, nosso colega Ribão, sua partida precoce a deixou desnorteada, com dois filhos adolescentes. Teve que se readaptar à nova realidade, seguir em frente, mas incompleta. Nunca mais foi a mesma. Foi em Deus que se apegou para continuar a caminhada.
Apaixonada pelos filhos, foi a melhor mãe que Neto e Robson poderiam ter tido na terra. Louca pelas netas Maria Beatriz, Choe e Lilah, eram o orgulho da afetuosa e amorosa avó. Amiga dos animais, o cãozinho Billy Paul, em homenagem ao cantor norte americano, que veio cantar em nossa Ilha do Amor, em duas apresentações, em junho de 2011. Billy foi seu companheiro fiel e inseparável, a alegrava sobremaneira. Sofreu muito quando Billy Paul partiu após longo e doloroso tratamento de saúde.
Sempre que vinha em nossa casa, alegria contagiante, tornava-se criança, modulava a voz para falar com nossos dogs Fiona, Duck e Brown. Eles ficavam atentos a observar aquela encantadora de cães. Heloísa, Rodrigo e Frederico eram teus fãs, sabias cativar por onde passavas. Deixastes um ótimo e fecundo legado.
Nesta manhã chuvosa, dia de São José, cujas águas lavam nossa cidade, presságio de fartura na lavoura, partistes, deixando uma imensa saudade; deixastes de viver entre nós para viver em nós.
Viver é administrar perdas, é rasgar-se e cingir-se continuamente. A vida segue seu curso, mais triste com as perdas das pessoas que amamos, e que deixam marcas indeléveis em nós.
Luísa Helena Góis Réis, meu respeito e admiração por cada gesto teu de amor, carinho, gentileza e generosidade para comigo. Você foi fundamental para eu vencer muitos momentos difíceis em meio ao mar de pessoas difíceis. Querida Lulu, você deixa o mundo em tempos difíceis, em meio a tanto desamor, guerra de homens insanos e desumanos. Você fará falta, muita falta.
Querida Luísa Helena, em tua homenagem, na vitrola toca Billy Paul cantando a maravilhosa “Me & Mrs Jones”, faço uma oração em agradecimento ao bom Deus por nossa amizade. Vejo pela janela, chove lá fora…
Assista ao vídeo abaixo feito por Thadeu e veja o amor de Luísa Helena pelos animais.
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Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.
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