Basta ligar a TV, ouvir o rádio, abrir o jornal, para ver que o desemprego e outras mazelas dominam o noticiário. Não só no Brasil, é mundial. Após a guerra na Europa, entre a Rússia e Ucrânia, as economias dos países saíram do compasso. E, junto vieram inflação e desemprego em diferentes partes do mundo. Os EUA estão vivendo a maior taxa de inflação em 41 anos; na Inglaterra, a taxa passou de dois dígitos. Por aqui, basta ir ao supermercado para ver como nosso poder de compra encolheu.
A taxa de desemprego no Brasil ficou no 11,1% no 1º trimestre de 2022, mostrando estabilidade frente ao 4º trimestre, com a falta de trabalho ainda atingindo 11,949 milhões de brasileiros, segundo divulgou recentemente o IBGE.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao semestre encerrado, o número de desempregados era 12 milhões de pessoas.
Mas não quero falar de mazelas, por vocação, sou arauto de boas histórias. Atraído por uma matéria no portal G1, vi a história de dona Maria Cardoso, de Promissão, SP, que estava comemorando um ano de emprego. Mas o que isso tem de interessante? Pode estar perguntando o caro leitor, a amiga leitora.
Tudo começou em 2021, quando dona Maria Cardoso, aos 102 anos – isso mesmo, 102 anos -, surpreendeu uma recrutadora de uma empresa que recebeu o currículo com a demonstração do interesse dela em trabalhar.
À época, a aposentada explicou que o objetivo era conseguir uma renda extra para comprar as coisas que gosta sem depender dos familiares, dentre elas o vinho. Diante do desejo da centenária, a sua família teve a ideia de fazer o currículo como forma de brincadeira, mas ele logo viralizou nas redes sociais.
“Eu quero trabalhar para comprar meus ‘vinhozinhos’, minha ‘carninha’, para não depender só da filha, ajudar um pouco”, contou dona Maria Cardoso na entrevista.
Como a notícia viralizou nas redes sociais, logo apareceu uma empresa querendo contratá-la. Uma companhia de vinho logo se encantou pela história, e Dona Maria foi contratada para ações pontuais de marketing, com participações em vídeos e fotos de divulgação da empresa. Após pouco mais de um ano como “contratada”, as mudanças já são sentidas no dia a dia.
“Com o emprego, além da ocupação e da brincadeira, ela conseguiu reformar a casa. Ela só se mantinha com a aposentadoria. Agora, com o dinheiro que ela ganha, já trocou o sofá, trocou a geladeira, deu uma renovada no guarda-roupa, porque ela é bem vaidosa. Ela está toda renovada e bem feliz”, contou a bisneta Pâmela Cristina.
Dona Maria mora com a filha, de 80 anos, e conta com uma grande família: 4 filhos, 29 netos, 35 bisnetos e 20 tataranetos. De acordo com Pâmela, que mora próximo à bisavó e foi a responsável por mandar o currículo aos recrutadores a pedido de dona Maria, a relação da bisavô com o atual “chefe” é a melhor possível. “Ela é muito querida pelo pessoal do trabalho”.
Dona Maria Cardoso não completou os estudos, pois trabalhou na roça desde os nove anos de idade. No último dia 31 de maio, diante da sua história, ela foi condecorada com o título de cidadã promissense na Câmara Municipal.
“Ela é muito grata por tudo. Tudo começou como uma grande brincadeira, mas hoje virou uma forma de mantê-la ativa e feliz”, relata Pâmela.
Quando a maioria da população com essa idade já morreu faz tempo, nem osso tem mais, D. Maria Cardoso é um exemplo de vitalidade, alegria e da arte do bem-viver.
Tenho visto tanta gente jovem pedindo esmola, muitas pessoas desestimuladas pela difícil situação do país; oxalá o exemplo de D. Maria Cardoso, aos 103 anos, frutifique, e que sirva de lição para muita gente. Faço votos que ela continue com saúde, trabalhando, ganhando seu dinheiro e tomando seu vinhozinho.
Viva dona Maria Cardoso!
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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, viajante, cronista, autor do livro “Das muletas fiz asas”. Um pouco de tudo, menos aposentado.