Para o dirigente patronal, a inciativa da Petrobras em anunciar a redução de preços dos combustíveis “não passou de um marketing político, afinal, a redução que eles fizeram diz respeito à defasagem que já existia nos seus preços em relação ao mercado internacional, e que na verdade já deveria ter sido repassada para o mercado. No entanto, o governo deixou pra fazer no momento que foi mais conveniente”.
Além disso, Maurício Cotrim entende que essa nova política pode gerar o risco de desabastecimento do mercado, quando ocorrer um aumento do barril do petróleo, caso a Petrobras comece a absorver esses reajustes. “Se a Petrobras não acompanhar os preços internacionais, passa a despertar um desinteresse dos importados em atender essa nossa demanda interna, daí a escassez do produto no mercado, naturalmente ele tende a subir de preço numa velocidade muito maior. É uma verdadeira faca de dois gumes”, destacou.
Maurício afirmou que, além dos consumidores, os revendedores também estão interessados na redução dos preços dos combustíveis e que a margem de lucro dos empresários é pequena, apenas 8%, mas poderia chegar entre 12% a 16%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Confira a entrevista.
SÓ SERGIPE – Na última terça-feira, a Petrobras anunciou uma nova estratégia comercial para definição de preços de diesel, gasolina e gás, inclusive adiantando de quanto será essa redução. Mas o Sindpese disse que essa redução pode não chegar ao consumidor. Por quê?
MAURÍCIO COTRIM – Você disse muito bem. O governo atual adotou, só que no caso do Nordeste, como temos uma grande dependência de suprimento da refinaria que foi privatizada na Bahia, segunda maior refinaria do nosso País, a refinaria de Mataripe, a Acelen – que é a empresa que administra – tem uma política de preços independente da Petrobras; e diferente dela, já vinha fazendo semanalmente os reajustes dos preços conforme as oscilações do barril de petróleo no mercado internacional e do câmbio do dólar. Por isso, para que os preços realmente reduzam no nosso estado, dependemos mais das baixas da Acelen do que da própria Petrobrás.
SÓ SERGIPE – Todos os postos de combustíveis de Sergipe compram somente na antiga Refinaria Landulpho Alves, hoje pertencente ao Mubadala Capital? O senhor tem essa informação?
MAURÍCIO COTRIM – O posto revendedor não pode, pela legislação, comprar os combustíveis diretamente das refinarias, só pode comprar das distribuidoras. Já as distribuidoras podem comprar de qualquer refinaria no Brasil ou através de importadores.
SÓ SERGIPE – Como o senhor interpretou essa iniciativa da Petrobras?
MAURÍCIO COTRIM – Essa iniciativa da Petrobras na redução dos preços, anunciada em rede nacional, na minha opinião, não passou de um Marketing político, afinal, a redução que eles fizeram diz respeito à defasagem que já existia nos seus preços em relação ao mercado internacional, e que na verdade já deveria ter sido repassada para o mercado, no entanto, o governo deixou pra fazer no momento que foi mais conveniente
SÓ SERGIPE – Essa nova política de preços da Petrobras pode ser boa para os donos de postos?
MAURÍCIO COTRIM – Com a nova política anunciada pelo governo, através do atual presidente da Petrobras, de não acompanhar os preços internacionais, a famosa PPI, quando o barril de petróleo está em baixa, tudo fica mais viável. Ao contrário, nos momentos de alta do barril de petróleo, cria um risco muito grande, justamente porque se a Petrobras começar a absorver esses aumentos, além de promover um prejuízo enorme para a empresa, como ocorreu no Governo de Dilma, corre-se um risco maior de desabastecimento do mercado. E como ainda temos uma necessidade muito grande de importar combustíveis, se a Petrobras não acompanhar os preços internacionais, passa a despertar um desinteresse dos importadores em atender essa nossa demanda interna, daí com a escassez do produto no mercado, naturalmente ele tende a subir de preço numa velocidade muito maior, é uma verdadeira “faca de dois gumes”.
SÓ SERGIPE – E para os consumidores, principal razão dos postos existirem?
MAURÍCIO COTRIM – Sem dúvida nenhuma, o maior interessado na baixa dos preços, além do consumidor, é o próprio revendedor, que como as margens de lucro são muito pequenas, só consegue ganhar mais a partir do aumento do volume de vendas.
SÓ SERGIPE – Na quinta-feira, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a ANP irá fiscalizar os postos de gasolina para garantir a redução dos preços dos combustíveis nas bombas. Como vai ser isso aqui, já que o senhor diz que a compra é feita numa distribuidora privada?
MAURÍCIO COTRIM – A fiscalização é sempre muito bem-vinda para o Revendedor que trabalha corretamente. Tenho certeza de que nesse quesito margem de lucro, Sergipe está entre as menores do Brasil com um mercado extremamente competitivo.
SÓ SERGIPE – Qual a expectativa do mercado para essa mudança no reajuste de preços dos combustíveis?
MAURÍCIO COTRIM – O mercado consumidor está sempre afoito para que aconteçam as reduções, a revenda também da mesma forma.
SÓ SERGIPE – Desde sempre se observa que os preços dos combustíveis ficam muitos próximos de um posto para outro. É uma diferença muito pequena. Quanto ganham os proprietários dos postos por cada um litro de combustível vendido?
MAURÍCIO COTRIM – A margem média bruta para a revenda sergipana está hoje em torno de 8% conforme dados divulgados pela própria Agência Nacional de Petróleo a ANP. Vivemos em um ambiente extremamente competitivo no nosso estado, a margem bruta sustentável hoje deveria ser de no mínimo 12%. A própria ANP reconhece que a margem ideal para a revenda deveria ser de 16%.