Por Luiz Thadeu Nunes (*)
Estes dias revirando gavetas atrás de um documento, achei alguns cartões de Natal. Aqueles tradicionais, com o desenho do rosto rechonchudo do Papai Noel, outros com árvores de Natal e renas. Amarelados pelo tempo, li cada mensagem. Algumas de pessoas queridas que não estão mais por aqui, mas que desejavam felicidades, saúde, paz; o essencial para ser feliz. Tenho até um cartão musical, ao abri-lo, tocava música. Acho que não fabricam mais cartões musicais.
Engraçado como o tempo sempre segue em frente, e a memória se encarrega de nos puxar para trás, nos reconectando com o passado. Em outra gaveta, achei alguns cartões mais recentes, desses que se comprava nos Correios: escrevia uma mensagem, lacrava, e enviava para a casa de parentes e amigos. Eram cartões pré-pagos. Esses não tinham graça, eram assépticos, padronizados. Hoje tudo é digital e impessoal, não existe mais mensagens impressas. A maioria são mensagens que são coladas e encaminhadas. Empobrecemos de sentimentos.
Os cartões me levaram aos natais de tempos idos, que ficaram lá atrás. Sou movido por memórias afetivas.
Nos natais, sempre lembro de minha mãe. Lembrei da alegria que minha mãe tinha em ir ao comércio, comprar tecido, que era chamado pano, para fazer roupas para a família inteira usar na noite natalina. O aviamento era para fazer roupa para seis filhos, e o vestido dela, que um figurinista desenhava, ali mesmo, em um papel A4, a lápis. A costureira morava perto de nossa casa, e com antecedência, mamãe reservava o dia para levar todo o material.
Um dia antes, nossa casa, com piso de cimento liso vermelho xadrez, era encerado com escovão e cera parquetina, que se comprava na mercearia do bairro.
O jantar de Natal era feito por mamãe, com a ajuda de Binoca, nossa faz-tudo. Virgínia Sena, seu nome de batistério, veio muito mocinha morar em nossa casa. Era de Santa Rita, MA, e tinha um sonho desde criança. Ter um dente de ouro. Ao completar 18 anos, dona de dentição perfeita, pediu para o prático arrancar um dente da frente e colocou o dente de ouro. Negra, sorriso bonito, sorria feliz, exibindo seu troféu reluzente.
Mamãe e Binoca se esmeravam em fazer o banquete que seria servido na noite de Natal, após chegarmos da missa. Tudo feito em casa. Fartura de comida: capão recheado, carne de porco, vatapá, macarrão, arroz com passas, torta de camarão. Não podia faltar o peru, que fora morto por Binoca, em um ritual que consistia em comer milhos embebidos na cachaça, e ter o pescoço cortado; morria de véspera. As crianças eram proibidas de assistir à morte do peru.
Para sobremesa: rabanadas e torta fria, feita com biscoito maizena, além de compotas de pêssego e de figo. Enfeitando a mesa: castanhas portuguesas, maçãs argentinas, que vinham enroladas em papel roxo; nozes, peras, uvas, ameixas, abacaxi. Para beber: vinho de garrafão, ponche, Coca-Cola, Fanta Uva, Fanta laranja, e o principal Cola Jesus, “O sonho cor de rosa das crianças”. Todas as sobras da ceia se transformavam no almoço do dia seguinte.
A árvore de Natal era prateada, com bolas que lembravam casca de ovo; muito frágeis, e tinha a ponteira, com um mine-presépio dentro. O pisca-pisca era de vidro, com o rosto de Papai Noel, e dava choque.
Na árvore, os presentes enrolados com papéis coloridos com figuras natalinas, que eram colocados embaixo das camas e redes, quando nos deitávamos. Alegria maior era acordar no dia 25 e saber que o bom velhinho passara por lá, enquanto dormíamos, sem esquecer de ninguém. Lembro dos carros a corda, depois os carros com pilha. Tive carro dos bombeiros, do exército, ambulância. Ganhei um forte Apache, e um Ferrorama. Minhas irmãs ganhavam bonecas loiras, em geral, eram brinquedos da fabricante Estrela, a maior do Brasil.
Quando cresci um pouco mais, ganhei uma bicicleta Caloi. Alegria total.
Uma vez perguntei para minha mãe: “O que a senhora quer ganhar de presente?”.
Ela respondeu: “Saúde e que ninguém falte no próximo Natal!”.
“Não, mãe… Um presente de verdade… Que eu possa comprar pra senhora… Alguma coisa que a senhora goste”.
Hoje, percebo o quanto ela estava certa; os presentes não são nada, se a pessoa que amamos não estiver presente.
Faz 48 anos que não tenho a presença de minha mãe na noite de Natal. Cresci, e no outono da vida continuo com carência de mãe.
Dizem que a saudade diminui com a passagem do tempo; não é verdade, a saudade muda de intensidade.
Enquanto as crianças sonham com presentes debaixo da árvore e os adultos relembram os momentos preciosos do passado, lembre-se de que o Natal é um tempo para renovar nossos laços familiares e amizades. É uma oportunidade para expressarmos gratidão por aqueles que tornam nossas vidas especiais e para demonstrar amor e carinho, pois são essas conexões que tornam a vida verdadeiramente rica.
Que a magia do Natal inspire você a acreditar nos milagres que estão ao seu redor todos os dias.
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