Até duas décadas mentir atentava contra a honra e dignidade na vivência humana. Chamar alguém de mentiroso era ofensivo. Mentiroso não tinha crédito na população. Assim se dizia “o que ele fala não se escreve”. Sinceridade era virtude exemplar, lealdade, franqueza, era critério de qualidade pessoal. Muitos ainda assim consideram.
Hoje, com o advento de ferramentas nas redes sociais, mentira passou ser rotina de esconderijo entre pessoas e instituições sociais.
Pessoas de má fé aproveitam-se da mentira para iludirem e manipularem as outras levando vantagens materiais. Falseiam a realidade, deformam a verdade e rotineiramente praticam estelionato argumentativo na política, religião e na família.
Vivemos anos em que se deturpa tudo em proveito próprio ou alheio. O mitomaníaco está na berlinda. Quem assim procede impõe seu ego e nega o sentimento de humanidade.
Nestas eleições até 15.10.22 ocorrera aumento de mais 1.600 % em denúncias de candidatos contra notícias falsas. Verdades que desqualificam são redirecionadas à outra parte que fica com o ônus dos fatos. “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela”, disse Adolf Hitler.
Tal receita está posta no exercício do cotidiano político brasileiro. Usar a mentira para conseguir vantagem é prática criminosa porque adultera a verdade. O tamanho da irresponsabilidade do mitômano (mentiroso compulsivo) é delimitado pelos efeitos malignos do seu ato.
Quem propaga, incorre também na irresponsabilidade. Fazer “cara feia” para o remédio energiza a rejeição da própria cura. É isto que queremos para nossa família, nossa escola, nossa política e nossa população?
A maldade da prática da mentira enseja controvérsias, confrontos, ódio e violência.
Vídeos e mensagens com mentiras explodem instantânea e exponencialmente. Conflitos imprevisíveis acontecem: casais se agridem, filhos e pais se separam, assassinato até em festa de aniversário e polícia é recebida com fuzil e granada. A convivência harmônica está desestabilizada. Cada pessoa cria sua própria verdade ilimitada. Prejudica quem acessa e ainda usa a outra pessoa como instrumento de disseminação.
Julián Fuks colunista do UOL publicou em 22.10.22 exemplo a ser seguido:
“…defesa da união contra a mentira: não podemos tolerar a escandalosa manipulação, não podemos aceitar que a mentira se faça instrumento de um programa retrógrado, intolerante, violento, em tudo contrário à sensibilidade e à sensatez. A mentira é inimiga da literatura, é inimiga da cultura e do pensamento. Vai corroendo toda percepção legítima e todo discernimento, vai abatendo a razão até que só restem ideias confusas e equivocadas. Cabe à literatura, nesses momentos, contrariar seu gosto pela fantasia e se aferrar a uma noção mais imediata da verdade, marcando posição contra a falácia, o engodo, as falsidades míticas …”
A sociedade precisa de valores constantes para que possa evoluir com estabilidade. Institucionalizar a mentira desagrega as relações sociais pela inexistência de confiança mútua. A sinceridade, o correto, o certo, devem permanecer inalterados em qualquer situação. O exercício diário da prudência, do equilíbrio, do diálogo é uma boa receita para defenestrar o caos da mentira e fortalecer a prevalência da verdade real.
Será que basta apenas a justificativa de que hoje os tempos são diferentes? Será que não é possível fazermos limites entre verdade e mentira? Por que nos omitimos? O basta é necessário para extirpar esta encruzilhada? Qual é nosso papel na sociedade? O que deveremos legar para futuras gerações? Verdades ou mentiras?
Escolas, família e instituições precisam traçar estratégias rigorosas para que a prevalência da verdade continue sendo um valor moral priorizado na humanidade como sempre fora ao longo dos milênios. Urgem ações concatenadas da sociedade para que a submissão da mentira seja efetivada.
Família, escolas e instituições têm muito para contribuírem. Thiago de Melo nos ensina: “o silêncio é campo plantado de verdade que aos poucos se fazem palavras”; já Voltaire afirmara: “as verdades são frutos que apenas devem ser colhidos quando maduros” mesmo porque como nos ensina Gandhi: “as verdades diferentes na aparência são como inúmeras folhas que parecem diferentes e estão na mesma árvore”, a árvore da boa convivência.
Enfrentar nas instituições, o debate sobre mentira e verdade é maturidade. Por mais difícil que seja, esperançar é preciso sob pena da perda da razão existencial.
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(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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