Numa viagem de oito mil quilômetros em um caiaque, entre o Oiapoque e o Chuí, pontos extremos do Brasil, os guias da viagem foram as pessoas simples de cada lugar por onde passava. “Meu GPS foram os pescadores, que eu chamo de GPS Caboclo”, diz o professor de Educação Física, Adelson Carneiro Rodrigues, 60 anos, ao explicar que nessa expedição recebeu grandes lições das comunidades amazônicas. Os ribeirinhos, no início da jornada, foram os que mais ajudaram Adelson. “Tinha gente que dividia comigo o pouco de comida que possuía”, lembra emocionado Adelson, que está em Aracaju, onde permanece até a próxima semana.
No final desta grande viagem, que começou no dia 7 de fevereiro do ano passado, Adelson pretende lançar um livro, não só contando essa aventura, mas também registrando todas as belezas do povo de um Brasil que poucas pessoas conhecem. Na quarta-feira, ele fez uma palestra na Capitania dos Portos de Sergipe para os militares daquela unidade e convidados.
“O meu planejamento era fazer esta viagem em um ano, mas já estou há um ano e meio”, afirmou que Adelson, que estudou muito antes de iniciar a expedição. E qual é o objetivo do canoísta diante de tamanho desafio? “Mostrar as coisas maravilhosas do litoral brasileiro, trazer para o público o que os meus olhos estão vendo na expedição. O caiaque é o meio de transporte”, disse.
Durante a palestra na Capitania dos Portos, Adelson, que já participou de 44 maratonas e três Iron Man (Espanha, Brasil e África do Sul), contou os percalços que passou na região amazônica, mas, principalmente, destacou o apoio da comunidade que o recebeu de braços abertos. Para a plateia formada por militares da Marinha do Brasil, o viajante fez considerações técnicas a respeito de ventos e tábuas de maré, condições que ele tem sempre que observar com cuidado para seguir viagem.
Adelson ficará em Aracaju durante a semana e está conhecendo o litoral com o remador e campeão sergipano, Igor Cruz. Na próxima terça ou quarta-feira, Adelson seguirá para Salvador, dependendo das condições meteorológicas. “Para chegar em Salvador tem mais 10 trechos. Primeiro Mosqueiro, depois Mangue Seco e assim por diante. Vou chegar em algumas localidades e no dia seguinte darei sequência à viagem, mas em outros fico mais um pouco. Não dá para dizer em quanto tempo chegarei a Salvador, mas estou calculando 15 a 17 dias”, explicou.
O viajante Adelson tem 20 anos de canoagem e, desde então, participou de travessias de 150 a 250 quilômetros. “Quando completei 10 anos de remadas, eu disse para mim que precisava fazer alguma coisa autêntica”, comentou lembrando-se da frase de Almir Klink, seu amigo pessoal: “Faça algo autêntico”.
E começou a fazer. Decidiu viajar pela costa brasileira, do Oiapoque ao Chuí. “Percebi que nenhum brasileiro tinha completado todo o percurso; dois apenas tentaram e desistiram. Então eu falei, poxa, preciso fazer essa travessia. E fiz a opção do norte para sul e alguns cretinos disseram que eu era maluco, porque era contra a correnteza em alguns trechos da costa brasileira. Aí eu fiz a pergunta: “você já fez a travessia? Não. Então…”.
“É uma coisa incrível, quando você se submete a fazer algo que é extraordinário, sempre há esses pitacos que não levam a nada e acabam desestimulando a pessoa daquilo que quer fazer. Eu passei por todos os obstáculos. Durante 10 anos fiz pesquisa da costa brasileira e nesse período todo, não encontrei nenhum apoio de empresas. Todas deram as costas, e foram mais de 400 empresas visitadas mostrando o projeto. E mesmo assim, não consegui nada. Há três anos, decidi largar tudo, vender a moto, alguns equipamentos esportivos que tinha e disse: agora eu vou. Isso foi em 2019 e em 2020 fui fazer a expedição. Larguei tudo para trás”. Adelson tem um casal de filhos, ambos maiores de idade, e é solteiro.
No dia 17 de fevereiro do ano passado, o canoísta entrou na água na cidade de Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa e começou a expedição, “sem um centavo no bolso e para minha surpresa fui bem acolhido pelo povo brasileiro do Norte e do Nordeste que é fantástico”. Com esse apoio, ele garante que não passou dificuldades.
Ao longo desta viagem, ele diz que sempre buscou informações das pessoas que conheciam determinados lugares. “Não adiantava GPS, relógio Garmim. Meus GPS foram os pescadores que viviam ali”, pontuou. “Eu chamo de GPS Caboclo, que me dizem os horários das marés, o melhor caminho”, frisou.
Numa viagem tão longa e, em alguns momentos solitária remando, não basta somente saber remar. É preciso aprender a sobreviver diante das intempéries. Adelson colocou redes para dormir em lugares altos para não ser atacado por animais selvagens. “Na região amazônica, por exemplo, estava numa rede alta e vi, embaixo, passar uma onça. Mas eu havia deixado a máquina fotográfica na mochila lá embaixo”, lamentou.
Em outro momento, depois de várias horas remando, Adelson estava exausto, avistou uma luz e se esforçou para chegar até ela. Nesse e em vários momentos, Adelson disse que sempre pediu apoio a Deus e manteve o foco. Ao chegar viu que era um barco de pesca e as pessoas o olharam assustadas, mas lhe deram ajuda. “Dormi durante duas horas”, lembrou.
Adelson recebe, oficialmente, o apoio da Marinha do Brasil nessa expedição. Antes de chegar a Aracaju, o viajante ficou na Capitania dos Portos, em Maceió, onde também fez palestra. “Quando cheguei em Aracaju, tive apoio da Capitania e do Iate Club. Tenho alojamento, alimentação e depois darei sequência a expedição”.
“Sofri bastante, agora estou curtindo a expedição e o objetivo principal não é remar. Minha maior preocupação é documentar a costa brasileira e mostrar para o povo o litoral maravilhoso, as culturas, os costumes, a culinária. Enfim o caiaque fica como meio de transporte. Não quero quebrar recorde nenhum. Mas serei apontado como o primeiro professor de Educação Física a remar pela costa brasileira, o primeiro a fazer essa expedição”, completou.
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