O ano era 1986, quando comprei “A insustentável leveza do ser”, através do Clube do Livro. Morava em Pindaré-Mirim, pequena cidade interior do Maranhão, onde não havia livraria, nem biblioteca.
Já tinha lido a resenha do livro de Milan Kundera na revista Veja, que assinava, e chegava com atraso toda semana. Coisas do século passado. Hoje leio a Veja e outras revistas no smartphone, em qualquer parte do mundo.
“A insustentável leveza do ser” tinha sido lançado dois anos antes, e se torna um best seller, vendendo milhões de exemplares pelo mundo.
Autor de uma vasta obra, que abrange o romance, o ensaio e a poesia, Milan Kundera é considerado um dos mais importantes escritores do século XX, e era com frequência apontado como candidato ao Prémio Nobel da Literatura.
Foi com Kundera que aprendi o significado de “litost“; que conheci o compositor Janacek. Através de sua obra sonhei em visitar Brno, que conheci anos depois quando visitei a República Theca. Em viagem em 2013, parti da capital, Praga, e visitei algumas das belas cidades daquele pequeno país europeu. Com a leitura da obra de Milan que me interroguei sobre a amizade de Kafka e Max Brod e um testamento traído. Aprendi sobre o lugar do romance na história da Europa. Me questionei sobre temas políticos e existenciais, “o que é humano e o que é o humano”, relatado nos seus romances profundos.
Kundera era um observador sarcástico da condição humana, autor de romances sombrios e provocativos, sem respostas fáceis. “O romancista não deve prestar contas a ninguém, exceto a Cervantes”, disse certa vez o autor não muito prolífico de cerca de 15 romances, peças de teatro e ensaios.
Ele começou a escrever em tcheco, mas no final da década de 1970, depois de se exilar na França, decidiu mudar para o francês. Foi um dos poucos escritores a publicar o trabalho durante a vida na coleção francesa La Pléiade, tradicionalmente reservada aos clássicos.
Sua obra mais conhecida, o best-seller mundial “A Insustentável Leveza do Ser”, começou a ser pensada pouco depois da Primavera de Praga em 1968, mas foi publicado em 1984 na França, com ampla repercussão e dezenas de traduções.
O romance acompanha as paixões e ideais de quatro personagens, Tomas, Tereza, Sabina e Franz. O livro virou filme em língua inglesa em 1988, dirigido por Philip Kaufman com Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche.
Seu romance de estreia, “A Brincadeira”, considerado seu primeiro passo na trajetória de membro do partido a dissidente, foi publicado em 1967 e ofereceu um retrato contundente do regime comunista.
Ele disse ao diário francês Le Monde, em 1976, que chamar suas obras de políticas era simplificar demais e, portanto, obscurecer seu verdadeiro significado. Por isso, não costumava dar entrevistas, afirmando que os livros deviam falar por si.
Outras de suas obras mais famosas são “O Livro do Riso e do Esquecimento”, o primeiro escrito no exílio, e os romances “A Valsa dos Adeuses”, “A Vida Está em Outro Lugar” e “A Ignorância”. Seu livro de contos “Risíveis Amores” também alcançou status de best-seller no Brasil. Sua obra de não ficção também está bem editada por aqui, incluindo “A Cortina”, com reflexões sobre a literatura ocidental, “Os Testamentos Traídos” e “A Arte do Romance”.
O autor tcheco, que começou a carreira escrevendo poemas, encerrou sua produção em 2014 com “A Festa da Insignificância” —um livro leve e bem-humorado, que acompanha amigos à deriva em Paris.
“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo ‘esboço’ não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro”, escreveu em “A insustentável leveza do ser”.
Milan Kundera morreu na madrugada da última terça-feira, 11/07, aos 94 anos, em Paris, cidade que o acolheu; “após longa doença”, segundo sua agente, sem revelar a doença ou as causas da morte.
Pouco afeito à popularidade, o escritor evitou a mídia por mais de três décadas, embora pudesse ser visto passeando com a esposa Vera em seu bairro em Paris, onde morreu. “O romancista é aquele que, como disse Flaubert, aspira a desaparecer atrás de sua obra”, disse ele, certa vez. Kundera saí de cena como queria, à francesa.
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