Na última segunda-feira, 26 de julho, o ator sergipano Orlando Vieira completou 90 anos de vida e deixou claro que não tem “complexo de velhice, de jeito nenhum”. Com uma vida dedicada ao cinema brasileiro, ao desenho topográfico e à maçonaria, Orlando segue a vida tranquilamente na residência, no bairro Atalaia.
“Agora só fico em casa, haja vista que a idade é que dá essa condição. São mais de 90 anos, porque já passou”, disse referindo-se à contagem dos dias pós 26 de julho, quando fez aniversário. Ciente das limitações impostas pela idade e pelos anos de trabalho, Orlando reconhece que sua memória não é mais a mesma. É capaz de lembrar com exatidão alguns fatos passados, mas facilmente se esquece de situações vividas há poucas horas. “Essa nossa conversação, daqui a 10 ou 15 minutos, se me perguntarem o que contei a você, não lembro, pois perdi a capacidade de memorizar”, reconhece.
É bom lembrar que na segunda-feira, Orlando recebeu um abraço simbólico promovido pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS) e pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos do Estado de Sergipe (Sated), com o apoio da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju). O ator se consolidou como um dos grandes nomes do cinema sergipano e nacional com participações de destaque em filmes como “Quem matou Pixote?”, “Narradores de Javé”, “Aos Ventos que Virão” e a produção sergipana “A Última Semana de Lampião”.
No final da tarde da quarta-feira, o Só Sergipe foi conversar com Orlando Vieira. Cuidadoso, ele guarda um acervo com reportagens, relação dos filmes (as longas e as curtas metragens), e colocou todo esse material numa mesa redonda. O saudosismo tomou conta daquele final de tarde, quando Orlando relembrou alguns filmes, contou
histórias, e em alguns momentos a mente lhe pregava uma peça e esquecia do que estava falando. Sem problemas para um mestre, que memorizou as falas em 15 filmes, três trabalhos na Rede Globo, sendo o primeiro ator sergipano a chegar à Vênus Platinada em Irmãos Coragem e Tereza Batista, e algumas peças de teatro.
Um dos filmes mais famosos de Orlando foi Sargento Getúlio, em 1983, contracenando com Lima Duarte, mas também trabalhou com Selton Melo, José Dumont, dentre outros atores. Ainda em 1983, ele conquistou o Troféu Kikito, no Festival de Gramado, um dos mais importantes do cinema nacional. O troféu está num local de destaque em sua residência. Outro filme que Orlando se recorda é Dona Carmela, quando interpretou a personagem principal. “Ela [Dona Carmela] era uma mulher idosa, inteligente, uma atriz. Me saí bem e eles gostaram”, disse, mostrando uma reportagem antiga de um jornal do Ceará. O filme foi dirigido por Iziane Mascarenhas, com quem Orlando também tirou uma foto.
Orlando não esquece, também, seu ingresso na Maçonaria sergipana. Ele faz parte dos quadros da Loja Simbólica Clodomir Silva e foi iniciado em 17 de maio de 1975. Hoje, lamenta não poder mais participar, não só pelo cansaço físico que o acomete, mas também porque esquece rapidamente as conversas. “Não fui mais à Maçonaria porque não tenho condições. Hoje não memorizo as coisas com facilidade ou sem facilidade”, reconhece. Orlando Vieira nasceu em Capela em 1931, filho de João Francisco Santos e Plácida Vieira Santos, mas não teve a oportunidade de conhecê-los. Quando tinha seis meses de vida, seu pai trabalhava numa usina de açúcar em Capela e caiu no tacho de mel fervente, passou alguns meses sendo cuidado e depois morreu. Seis meses após a morte de João, a sua mãe Plácida também morreu de tristeza com a ausência do marido.
Criado pelos padrinhos de batismo, chegou a ir para o seminário para tornar-se padre, mas viu que aquela não era a carreira que desejava. A Igreja Católica perdeu um padre, mas o cinema e a cultura brasileira ganharam um excelente ator, que empresta o seu nome, desde 2006, ao Núcleo de Produção Digital, numa iniciativa do prefeito Edvaldo Nogueira, em seu primeiro mandato.
Agora, leia a entrevista com Orlando Vieira. Com certeza, você vai se emocionar.
SÓ SERGIPE – Como nasceu essa vontade de ser ator?
ORLANDO VIEIRA – Eu trabalhava no Departamento Nacional de Estradas de Ferro, como funcionário permanente, em Recife e lá, na convivência com o pessoal, na Escola de Belas Artes, eu gostava muito de uma cervejinha e era procurado para dialogar, fazer brincadeira e aí pegou. Eles diziam: ‘Orlando é um artista’.
SÓ SERGIPE – Por onde o senhor trabalhou antes de ir para Recife, e como aconteceu o retorno para Sergipe, o Estado onde o senhor nasceu?
ORLANDO VIEIRA – Eu antes trabalhei também no Departamento Nacional de Estradas de Ferro, no Piauí, depois fui para a Bahia, Rio Grande do Norte e depois para Recife. Posteriormente vim para Sergipe.
SÓ SERGIPE – E aqui em Sergipe, o senhor continuou na mesma empresa?
ORLANDO VIEIRA – Não, eu fui para o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e trabalhei muito tempo com levantamento topográfico e desenho técnico. Eu gostava de fazer desenho técnico e passei muito tempo por lá, até que comecei a cansar e cheguei a essa condição de esquecimento, que você está vendo agora, uma série de coisas. O tempo que eu estava na Maçonaria estava beleza, até falava grosso (rs).
SÓ SERGIPE – Lembro do senhor na Loja Macônica como mestre de cerimônia.
ORLANDO VIEIRA – Verdade. Comecei a me cansar das pernas, da cabeça, o coração não está muito bom, mas estou levando, levando, sem saber. A gente nunca sabe o final, o futuro, e vai levando aí. Agora sem uma vida mais normalizada como era antes. Eu saía, ia à Maçonaria, ao comércio. Agora só fico em casa, haja vista que a idade é que dá essa condição. São mais de 90 anos, porque já passou. Cansa e cansa mesmo, você tem que aceitar as condições. Eu não tenho complexo de velhice, de jeito nenhum. Tem dias que estou mais na ativa, mais disposto, vou dar algumas voltas e minha mulher fica preocupada. Na Maçonaria não fui mais porque não tenho condições. Hoje não memorizo as coisas com facilidade ou sem facilidade. Essa nossa conversação, daqui a 10 ou 15 minutos, se me perguntarem o que contei a você, não lembro, pois perdi a capacidade de memorizar. Paciência, tem que ficar em casa mesmo. E mais uma: dou para mim mais esse resto de ano e possivelmente o próximo, mas não é para tanto não. Eu sei, me conheço. A gente conhece nosso organismo, mas sempre tem a surpresa. Demora mais, espera mais, tem mais disposição. Mas estou na linha final. Passei da curva, tem uma reta que eu não vejo o final dela. É a vida. É se sentir feliz, satisfeito pelo que fez.
SÓ SERGIPE – A sua passagem no cinema foi marcante, não é verdade?
ORLANDO VIEIRA -Sim, tive uma passagem que me deu glória, o mundo artístico me deu muito prazer. Teve o tempo de Maçonaria, mas hoje para mim é cansativo. E não dá. O que fazer? Esperar dentro destes 90 anos qual é a possibilidade de demorar mais ou não.
SÓ SERGIPE – O que o senhor lembra de sua história no cinema brasileiro?
ORLANDO VIEIRA – Quando vim embora de Recife para Aracaju, isso foi em 1969, pois as situações passadas tenho gravadas na cabeça. Fiz muito pouco teatro, mas cinema fiz muito: foram 15 longas e lembro os mais antigos.
SÓ SERGIPE – Mas como foi o convite para fazer o primeiro filme. Quem fez, surgiu como?
ORLANDO VIEIRA – Foi Ipojuca Pontes. Ele veio a Sergipe fazer um filme, cujo nome esqueci, e me convidou para fazer um papel de caminhoneiro, indo de Aracaju até Laranjeiras pela BR. Topei e fiz. Esqueci o nome do filme.
SÓ SERGIPE – Mas como o Ipojuca chegou até o senhor?
ORLANDO VIEIRA – Em Recife fiz teatro, onde fui premiado como melhor ator coadjuvante, depois como melhor ator de Pernambuco. E quando pedi transferência para Sergipe, porque estavam fechando o departamento de ferrovia por lá, o Ipojuca veio e conversou comigo.
SÓ SERGIPE – Destes tantos filmes, há alguns que mais emocionaram o senhor?
ORLANDO VIEIRA – O Guerra de Canudos foi o que me prendeu, me chocou mais. Narradores de Javé, filmado no sertão da Bahia, eu gostei. Foi com José Dumont. Sargento Getúlio também foi muito bom, uma série deles aí.
SÓ SERGIPE – O senhor chegou a fazer novela?
ORLANDO VIEIRA – Fiz só um pedaço de Tereza Batista. Mas depois só cinema, e fiz uma porção deles. (Ele depois se lembrou de Irmãos Coragem da Rede Globo.)
SÓ SERGIPE – Foi uma carreira vitoriosa?
ORLANDO VIEIRA – No cinema posso concluir que tive. Na televisão um pouco e no teatro foi quase nada. No cinema filmei em Fortaleza, Rio de Janeiro, só para citar alguns. Aqui em Aracaju foram dois filmes, Meninos Marcados para Morrer, e qual mais? Não me lembro.
SÓ SERGIPE – Em Dona Carmela, o senhor interpretou uma mulher. Foi uma experiência boa?
ORLANDO VIEIRA – Foi uma aventura. Meu primeiro papel para interpretar uma mulher idosa, muito inteligente e atriz. E eu disse: vou topar. Dirigido por Iziane Mascarenhas, rodado em Fortaleza. Me saí muito bem e eles gostaram.
SÓ SERGIPE – Destes atores que contracenaram contigo, a exemplo de Lima Duarte, Selton Melo, José Dumont, alguns mantêm contato?
ORLANDO VIEIRA – Não. Há um ano, tive contato por telefone com Dumont. Depois, nenhum deles veio para cá fazer algum filme e houve uma separação total entre mim e eles.
SÓ SERGIPE – O senhor assiste a filmes?
ORLANDO VIEIRA – Assisto pouco, pois me canso logo. Quando sei o enredo, paro e não vejo mais. Dos filmes que eu fiz e emprestei a cópia a colegas, amigos, estudantes, não devolveram.
A capital sergipana já está em ritmo de contagem regressiva para a realização do…
Por Diego da Costa (*) ocê já parou para pensar que a maioria…
O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e…
Por Sílvio Farias (*) Vinícola fundada em 1978 com o nome de Fratelli…
Por Acácia Rios (*) A rua é um fator de vida das cidades,…
Com a realização do Ironman 70.3 Itaú BBA, a maior prova de triatlo da…