“Quando a gira girou, ninguém suportou Só você ficou, não me abandonou Quando o vento parou e a água baixou Eu tive a certeza do seu amor”. Quando a Gira girou Zeca Pagodinho
Eles trocam juras de amor eterno, dormem de mãos dadas, estudam canto juntos e sempre que saem para passear de carro colocam a música “Quando a gira girou”, de Zeca Pagodinho, no volume mais alto, e soltam a voz. A história do casal Gabriel Soares de Aquino, 83 anos, e Nayr Silva de Aquino, 89, foi de amor ao primeiro toque na mão e começou há 54 anos, exatamente no dia 19 de julho de 1969. “Quando eu peguei na mão dele, eu senti que era amor”, confessou Nayr que, junto com Gabriel, é aluna do Centro Artístico Musical (CAM) há cinco anos. Eles cantam, mas Nayr também toca bateria. “Gosto do barulho”, garante.
Falante e o tempo todo com um sorriso nos lábios, Nayr foi estudar canto e bateria no CAM estimulada por uma das filhas, também aluna do centro. Na última sexta-feira, lá estavam Nayr e Gabriel tendo aula de canto, e logo depois ela mostrou suas habilidades como baterista. “Ela é a minha aluna mais nova”, brinca o baterista Beto. “O nome dela é Alegria, é alto astral o tempo inteiro”, Beto derrama-se em elogios, sob os olhares compenetrados de Gabriel. Para não perder a piada, Nayr alerta o professor da bateria de que ele está correndo perigo: “O Gabriel vai lhe pegar, viu!!” Gargalhada geral no estúdio onde acontecem as aulas. Além da vocação musical, ela é, também, modelo. Desfila com as roupas da Maison Cherry e Linda Store.
Cupido
Nayr foi a primeira mulher a ingressar na Petrobras, em Alagoas. “Me sentia dona da Petrobras e era muito querida. Eu atuava no Recursos Humanos (RH). Trabalhei por 31 anos”, conta. Foi numa das festas organizadas pela empresa que ela conheceu Gabriel, geólogo e geofísico que havia sido abandonado pela esposa, depois de um casamento que durou oito anos. “O casamento dele foi para o espaço e a moça o deixou com três meninas: Patrícia, Diana e Márcia, na época com seis, quatro e dois anos, respectivamente”, lembra.
Gabriel estava totalmente arrasado com o fim do casamento. Nayr conversava com a amiga Margarida Procópio (ex-ministra da Ação Social no Governo Collor), a quem ela chama de cupido, quando esta lhe contou o ocorrido com Gabriel. A princípio, Nayr queria ajudar o rapaz e disse que iria tirá-lo para dançar. Mulher à frente do seu tempo, Nayr disse á Margarida: “Ele vai dançar comigo e é agora”. E lá foi ela chamá-lo. Gabriel resistiu, ela não deu trégua, e ele se rendeu. E ao tocar na mão dele, Nayr “sabia que era amor e vinha pra ficar”.
Naquela época foi um espanto geral, Nayr namorar com um homem desquitado e assumir as três filhas dele como se fossem dela. Antes do romance com Gabriel, Nayr havia ficado noiva quatro vezes, mas nenhum deu certo. Ao descobrir Gabriel, ela contou à mãe que estava amando. Mas um dia, Gabriel precisou ir trabalhar no Rio de Janeiro e ela temeu que fosse perder o amor da sua vida.
Convenceu a mãe de ir para o Rio visitar uma parente há muito esquecida e foi hospedar-se, claro, no mesmo hotel em que Gabriel estava. “Já me achava dona dele. Foi uma coisa de amor, mesmo”, conta. Ela lembra que naquela época o namoro era de pegar na mão, beijar (beijar muuuuuito) e só. O mágico encontro de corpos, que só o amor explica, foi acontecer um ano depois. “Foi lindo”, recorda-se. E um oceano de felicidade envolveu o casal, ele com 30 anos e ela com 34.
Há muito, Nayr sonhava em ter gêmeos. Não sabia ela que o universo conspiraria a seu favor e a atenderia: vieram Gabriel Júnior e Maura, hoje com 50 anos, frutos do seu amor com Gabriel, claro. Em 1974, a Petrobras enviou Gabriel para Argélia, e coube a ele descobrir petróleo em terra africana. Foi um marco na sua vida profissional e para a empresa. Nayr trabalhava com ele no Rio. “Nove meses depois de ele ir para Argélia, pedi licença sem vencimentos, peguei os cinco filhos e uma empregada que era portadora de deficiência auditiva e foi para África ficar com meu amor”. Ela passou quatro anos por lá, pois somente por esse período era que o empregado poderia tirar licença sem vencimentos.
Eles voltaram para Aracaju em 1980 e no dia 19 de julho se casaram no civil. Mas uma pergunta ficou no ar. Como um amor que começou há 54 anos, tem como trilha sonora uma canção lançada em 2006?
Nayr diz que a canção “Quando a gira girou” fala sobre os altos e baixos que acontecem na vida de alguém, pode se assemelhar a de Gabriel, abandonado pela então esposa que o deixou com três crianças. A vida dele estava de cabeça para baixo. O detalhe é que Nayr chegou na vida de Gabriel. E “quando a gira girou, ninguém suportou; Só você ficou, não me abandonou; quando o vento parou e a água baixou; Eu tive a certeza do seu amor”. O amor de Gabriel e Nayr vai do infinito ao além.
No CAM
Além de estudarem canto no Centro Artístico Musical, com a professora Patrícia Sandes, Gabriel e Nayr integram o coral da Avosos. Na sexta-feira, depois da entrevista, Nayr foi cuidar das unhas acompanhada, óbvio, pelo amor de sua vida.
No CAM eles soltam a voz e ela toca firme a bateria. O CAM tem mais de 15 opções de instrumentos para quem quiser se iniciar na música. “Temos piano, teclado, guitarra, violão, ukulelê, violino, contrabaixo, violão clássico, bateria, percussão”, disse o coordenador pedagógico do Centro, Wesley Santos Barbosa, formado em música, pós graduado em Pedagogia Musical, musicoterapeuta.
O CAM foi fundado há 22 anos, tem uma metodologia moderna, atrativa para que as pessoas se desenvolvam na música e no canto de forma natural. “Um trabalho que dá muito prazer”, assegura Wesley. Ele adiantou que o CAM vai ampliar a jornada para o turno da manhã, para dar mais oportunidade a pessoas que só têm tempo disponível nesse turno. “Vamos trazer, também, teatro, fotografia, coisas positivas. Estamos também criando o CAM Experience, para desenvolver o bem-estar das pessoas.
O CAM gera 15 empregos diretos e outra centena de indiretos; e fica localizado na rua Maestro Domício Fraga, no bairro Grageru. Fone 79.3246.2518.