Caro leitor, amiga leitora, vocês lembram como nossa vida era boa até pouco tempo atrás? Podíamos ir ao shopping, ao cinema, à livraria, ao estádio de futebol, ao restaurante, ao motel, sem nos preocuparmos com os “protocolos”, algo que incorporamos ao nosso dia a dia. E viajar? Podíamos entrar em uma aeronave, apertar o cinto, relaxar e descer do outro do mundo. Não éramos ameaça a ninguém. Ninguém estava preocupado em espirrar, desde que não fosse em direção ao outro.
Desde que o mundo tomou conhecimento da existência de um vírus, vindo da região de Wuhan, na China, tudo saiu do lugar, desgovernando de vez nossas vidas.
A Covid-19, essa doença que nos assola, é antes de tudo uma doença comportamental, pois mostrou o quanto somos irresponsáveis conosco e com o próximo. Digo, somos, pois grande parte das pessoas não tem os cuidados necessários para impedir a circulação do vírus. O grau de irresponsabilidade está por todas as partes, não somente no Brasil, esse paraíso tropical localizado abaixo da linha do Equador, e bonito por natureza. Não, nos países tidos como desenvolvidos, com “mais cultura”, esperava-se mais consciência. Pura lorota.
O coronavírus se espalhou pelo mundo todo, e em tempos tóxicos como os que estamos vivendo e vivenciando, exacerbou a falta de consciência de muitos.
Em Londres, um dos lugares mais desenvolvidos do mundo, mil profissionais da saúde de um hospital se recusam a se vacinar, quando o país vive alta de casos de Covid-19. Somente o hospital King’s College pode perder 1.000 funcionários que não se vacinaram e nem pretendem se vacinar, disse o Dr. Clive Kay, diretor do hospital. Isto, no momento em que a capital do Reino Unido assiste a um novo pico de casos da variante ômicron. A situação virou ponto crítico devido ao efeito cascata observado: com a alta de casos, cada vez mais funcionários ficam doentes e são afastados do trabalho, o que sobrecarrega ainda mais os hospitais.
Enquanto muitos estão deixando de se vacinar em países ricos, por ideologia ou negligência, em países pobres da África e da Ásia, milhares morrem infectados, pois não têm acesso à vacina.
Nos EUA, onde o número de infectados é recorde, chegou a ultrapassar 1,23 milhão de pessoas/dia, grande parte da transmissibilidade do vírus se dá pelos não vacinados. Lá o problema não é falta de vacinas ou de informações sobre a gravidade da doença, que já matou perto de 900 mil americanos, e ultrapassou 50 milhões de infectados. Assim como no Brasil, até pouco tempo os EUA era governado por um negacionista, que fez muitos adeptos, deixando um rastro de insensatez e morte. Inacreditável, mas em Québec, a segunda mais populosa cidade do Canadá e a que registra mais casos da variante ômicron no país, houve um aumento de 300% na procura por vacinas contra a Covid-19 depois dos governantes determinarem que só os imunizados poderão comprar bebidas alcoólicas ou maconha.
No Brasil, temos um presidente e um ministro da Saúde que fazem tudo para atrapalhar a celeridade da vacinação; sandice e irresponsabilidade sem tamanho. Oxalá, sejam punidos por seus atos. Até consulta pública para saber se poderia aplicar a vacina em crianças, fizeram.
Mais irônico nisso tudo é que nunca houve consulta para nenhuma vacina antes. Ao contrário, o Brasil foi modelo para o mundo em campanhas de vacinação, em número de vacinados e em menor tempo.
Tantas dúvidas sobre a vacina, mas quando a Pfizer lançou o Viagra, em março de 1998, ninguém se deu ao trabalho nem de ler a bula; e o remédio para disfunção erétil virou campeão de vendas no planeta.
Mas o que se pode esperar de um presidente da República que engole, sem mastigar, camarões? Quis o destino que o flagelo do coronavírus encontrasse no presidente da República de uma das maiores nações do mundo um sujeito despreparado, nocivo, venal e inclemente, sem empatia alguma pela vida alheia.
Mas como nem tudo é má notícia, o Brasil ganha autonomia na produção de vacinas com a aprovação regulatória para a produção do IFA da plataforma da AstraZeneca na Fiocruz, um passo de extraordinária magnitude nesse momento. Com a perspectiva de entrega dos primeiros 22 milhões de doses ao Ministério da Saúde, produzidas em BioManguinhos, asseguramos capacidade para suprir o país e cooperar com outros países. É o lado bom deste fantástico país, provando que é capaz de se reinventar em meio às trevas e apagão mental que nos assola.
Como não sou adepto do “eu era feliz e não sabia”, tenho consciência de cada bom momento que vivo, rogo à Deus para termos de volta nossa vida de antes do aparecimento desse flagelo. Era para eu estar essa semana nos EUA, mas por causa da ômicron estou em casa, temendo essa nova cepa. A prudência diz “fique em casa”; viajar virou um risco sem tamanho.
(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.
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