As medidas de distanciamento, aliadas ao fechamento das empresas por longos quatro meses, para conter a propagação da covid-19, obrigaram diversas profissões a se reinventarem para sobreviver financeiramente no mercado. Uma delas é a dos corretores de imóveis que recorreram às mídias sociais para conquistar clientes que queriam alugar ou comprar imóveis. O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis 16ª Região (Creci), Sérgio Waldemar Freire Sobral, diz que “aqueles corretores que já usavam tecnologia e se aprimoraram, automaticamente, fizeram boas vendas”. Mas como têm sido essas vendas? Infelizmente, o Creci não tem um levantamento de quantos imóveis foram vendidos ou alugados, por exemplo, de março até agora, nestes tempos de pandemia. “Sergipe é um dos poucos estados onde não há essa informação”, lamenta Sérgio Freire Sobral, que já fez pedidos à Ademi (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário de Sergipe) e ao Sinduscon (Sindicato da Indústria e da Construção Civil), mas sem sucesso. Insistente, ele vai tentar de novo, até porque esses dados servem, não só como referência para quem quer comprar ou alugar, mas também como um termômetro para o mercado como um todo. Entretanto, enquanto números tão importantes não são revelados – se é que são contabilizados por uma dessas duas entidades – o Creci corre lado a lado com a tecnologia para que os corretores estejam qualificados. Esta semana, entre uma live e outra, Sérgio Freire Sobral conversou com o Só Sergipe.
SÓ SERGIPE – A partir de março, quando ocorreram os primeiros casos da covid-19 em Sergipe, seguidos dos decretos de fechamento do comércio, mudanças de comportamento, como ficou o setor imobiliário?
SÉRGIO FREIRE SOBRAL – Desde então estamos trabalhando em home office, investindo em tecnologia. Aqueles que já usavam tecnologia e se aprimoraram, automaticamente, fizeram boas vendas.
SS- Como o senhor traduziria isso em números? Quantos imóveis foram vendidos ou alugados no Estado?
SFS – Esse dado aqui em Sergipe não existe. Eu já tentei uma vez com a Ademi e Sinduscon fazer um levantamento mensal. E estamos tentando novamente. Sergipe é um dos poucos Estados onde não há essa informação, que é boa para o corretor e para o cliente. Veja, os clientes não sabem o preço por metro quadrado, em um bairro.
SS- Esse dado seria importante, porque é um termômetro para o mercado, certo?
SFS – Isso. Agora, está havendo uma mudança de paradigma. O que está acontecendo? As pessoas estão querendo mais qualidade de vida. Essa pandemia mostrou o quanto a família e os amigos são importantes, além desse trabalho em home office. Então, as pessoas estão procurando casas em condomínio, em praias. Buscando cidades vizinhas, saindo de cidades grandes, com casas maiores para ter um cômodo para escritório. As pessoas estão querendo qualidade de vida. A situação é diferenciada. Estamos correndo risco de vida, pois temos parentes e amigos que ficaram doentes ou já se foram. Então as pessoas estão analisando. E isso não é um dado somente de Sergipe, é do Brasil todo e da comunidade mundial.
SS- Uma mudança total, não foi?
SFS – Sim, as pessoas querem ficar em casa, ter mais qualidade de vida, querem trabalhar na própria residência. No mercado imobiliário, hoje, quem não investir em tecnologia vai ficar para trás, não tenha dúvida.
SS – E por falar em tecnologia, um amigo foi morar em Viana do Castelo, Portugal. E antes de se mudar, daqui de Aracaju mesmo, alugou o apartamento. Ele recebeu vídeos mostrando todo o imóvel, gostou e fechou o negócio. Essa tecnologia já é utilizada pelos corretores de imóveis aqui em Sergipe?
SFS – Sim. Tivemos uma reunião com as 34 maiores entidades do mercado imobiliário mostrando, em detalhes, como funciona a tecnologia. Algumas construtoras mostrando a parte funcional, os detalhes. A coisa modificou, principalmente em São Paulo e outras cidades maiores. Lá, as pessoas não querem sair para ir até o local. Há empreendimentos em São Paulo que já têm plantas, tudo pelo computador. E aí tem, também, toda a área de localização.
SS – Agora, o Creci tem feito cursos, buscando qualificar os corretores em Sergipe?
SFS – Nós já fazemos há alguns anos. Nós temos parceria com Unit, Fase e agora estamos com seis cursos online. Estamos com lives. Toda semana fazemos lives com pessoas daqui de Aracaju e de outros Estados e internacional, sem custo nenhum para o corretor. Lançamos a carteira eletrônica, que pode ser acessada pelo próprio celular, coisas que fazem a diferença. O Creci vem, cada dia mais, se aprimorando. E tem um detalhe: quem não se aprimorar, aperfeiçoar, não investir em tecnologia e em redes sociais estará fora do mercado.
SS – Tudo mudou com a tecnologia, não é?
SFS – Hoje não é mais aquele plantão, fazendo proposta. Agora é um mercado em que você tem que procurar o cliente, fazendo a pré-venda, pós-venda, num trabalho constante. Nós tivemos que nos reinventar. É isso. E não é só o corretor, mas sim todo o setor de vendas.
SS – E imóvel é um investimento para a vida. Ninguém compra uma casa ou um apartamento como quem vai ao supermercado. Tem que ser bastante planejado.
SFS – Casa é o sonho de uma família. Os valores são altos e a responsabilidade é muito grande A sociedade quer um corretor cada dia mais aprimorado. Os corretores de Sergipe são uns dos mais competentes do Brasil, porque o Creci vem fazendo, mensalmente, palestras, congressos, fóruns, investindo maciçamente no corretor.
SS – Hoje são quantos corretores de imóveis em Sergipe?
SFS – São 5.200, mas estão atuando cerca de 3.500. Hoje temos muitas mulheres na profissão. As mulheres têm mais sensibilidade. E na hora da compra de uma casa ou apartamento, entre o casal, quem bate o martelo é a mulher. E o entendimento entre as mulheres – a corretora e a compradora – é muito mais fácil. O número de mulheres na profissão já ultrapassou mais de 30%, no Brasil. Nos Estados Unidos elas somam mais de 70%. E aqui em Sergipe são mais de 30%.
SS –De certa forma, mesmo com a pandemia o senhor diria que o mercado ficou aquecido em Sergipe? Como ele está?
SFS – O mercado é o seguinte: todos nós sentimos. Mas há muitos corretores que estão fazendo o trabalho pelas redes sociais, usando a tecnologia, e estão vendendo mais do que uns, na atual conjuntura. De modo geral, todos estão sentindo. Mas tem um detalhe: em 2008, quando houve uma crise mundial, as entidades se reuniram, depois fomos falar com o presidente para diminuir juros, aumentar prazo de financiamento e injetar dinheiro no mercado imobiliário. E o Brasil mudou um pouco. Agora, acontece live com o presidente da Caixa, há reuniões com o deputado federal Laércio Oliveira, presidente da Frente Parlamentar do Mercado Imobiliário. Conseguimos agora com o governo, que tem mais de 400 imóveis, que os corretores vendam. Fechamos com a Caixa para que os corretores atuem naqueles imóveis que foram retomados. Estamos fazendo um trabalho para ter esses imóveis e vai ser bom para a sociedade, porque serão mais baratos. Se o governo não investir no mercado imobiliário, a economia vai demorar anos. Esse mercado equivale a 94 segmentos, pois tem grandes corretoras, engenheiros, arquitetos, linha branca, material de construção, enfim, é muito grande. O governo tem quer ter juros mais baixos, aumentar prazos e injetar dinheiro.
SS – Esta semana, a Justiça decidiu, finalmente, que o setor de construção civil pode retomar os serviços em Sergipe.
SFS – Sergipe foi o único Estado onde esse setor estava parado. A retomada contribuiu, sem dúvida nenhuma, com o nosso setor. Afinal, há 94 segmentos que giram em torno da construção em todo o Brasil.