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Novo ano pandêmico: e agora?

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Petruska Menezes (*)

As festas acabaram, o peru virou almoço para o resto da semana. A maioria teimou e fez Natal em família, mesmo contra a orientação do governo para se evitar aglomerações. O álcool, o cigarro e outras drogas entraram nas festas, para tentar apagar por um momento o grande medo da morte, da perda de quem amamos, daqueles que já perdemos ou receamos perder. Como começar um ano já se sentindo tão fraco/a e fracassado/a? E a vacina? Tomar ou não tomar? Ela chegará ou não?

O início de ano não parece tão comum quanto os demais. Muitas pessoas entraram em um processo de exaustão e passaram a agir de duas principais formas: voltaram a negar que o vírus pode matar ou se renderam e passaram a ignorar a COVID-19, renunciando às consequências de suas ações devido a uma grande estafa mental. A cada dia, vemos um número menor de pessoas se preocupando com os cuidados mínimos necessários, com exceção de outra forma de defesa mental: a paranoia. Neste modelo, tudo está contaminado, todos podem estar contaminados e existe um excesso de energia despendida para limpar e pensar sobre possíveis hipóteses contaminantes.

Será que nossa esperança e vida se colocaram “nas mãos” de uma vacina? Temos um novo ano pela frente e só poderemos vivê-lo se a vacina for aplicada? Isso fala muito sobre todos nós e de nossa capacidade adaptativa. O novo chegou e já o estamos vivendo. Nossas vidas passaram por imensas transformações e é fundamental aprender com elas. Antes, tínhamos medo de que nossos filhos ficassem perdidos no mundo virtual e não saíssem para brincar na rua. Agora, quem está preso neste mundo somos nós.

Home Office

Trabalhamos pelo menos 8 horas por dia, e a maioria das pessoas passou a trabalhar em home office ou a serviço de atividades ligadas à rede mundial de computadores. Ir à praia, a bares ou atividades sociais pede muita cautela e criatividade. Melhor fazer reuniões em casa, com revezamento de anfitriões. Praias mais isoladas, com a presença de menos pessoas, se não for possível uma praia deserta. Hoje, por delivery, o barzinho com petiscos e bebidas vai até você. Quem ainda está esperando o retorno ao antigo padrão de vida anterior não percebeu que ele não existe mais e, mesmo com a vacina, a pandemia nos transformou (ou deveria).

Aquilo que não nos parecia valioso, volta a ter valor: encontros de família, de amigos, a presença dos colegas de escritório para um bate-papo na hora do cafezinho ou no fim da tarde. Tudo o que tem vínculo social foi afetado e precisa ser recriado em novos padrões. Muitas empresas percebem que reduzem suas despesas e aumentam a produção com o home office. Algumas multinacionais ou grandes empresas já informaram que não pretendem voltar ao trabalho presencial. Já uma grande parcela dos colaboradores nunca havia trabalhado no modelo de home office e ainda não aprendeu a separar o horário de lazer ou descanso do horário de expediente, passando mais horas trabalhando do que estaria, se estivesse dentro da empresa. Simplesmente não consegue deixar o serviço, o relatório, o material pela metade e ultrapassa a carga horária determinada, excedendo e comprometendo o restante de suas atividades e do seu dia com as demais funções e rotinas da casa e da vida.

Com isso, muitas pessoas passaram a sentir que o tempo pareceria maior, mas na verdade, diminuiu. Juntando-se a isso, os cuidados com a família também aumentaram. Idosos e crianças em casa demandam atenção todo o tempo e as infinitas aulas on-line pedem acompanhamento dos pais e se tornaram o mais novo “inferno na Terra”. Aquilo que, por anos, foi delegado a outrem agora volta com tudo para os trabalhadores.

Aulas remotas

Os estudantes que estavam acostumados a ir para a escola, encontrar os amigos e esperar que o professor apresentasse o conteúdo de forma “mastigada”, principalmente nas universidades, agora retornam para um modelo quase autodidático, como antigamente, pois aula remota não é a mesma coisa que Educação a Distância, e é humanamente impossível para o professor dar conta de orientar e responder detalhadamente todas as dúvidas dos graduandos e dos estudantes do Ensino Médio. O aluno terá de buscar seu aprendizado, assim como adquirirá suas asas para o autoconhecimento, como víamos há duas décadas. Uma pequena observação: o “Dr. Google” não tem todas as respostas, cabendo ao estudante a pesquisa de publicações acadêmicas nos vários sites existentes com credibilidade para tal.

A pandemia mudou nosso estilo de vida. Não temos como saber como será amanhã, mas uma coisa é certa: não será como antes. Ou aprendemos e nos adaptamos com este novo e espetacular mundo por meio de nossos recursos, competências e criatividade ou poderemos adoecer, não de COVID-19, mas mentalmente, pela dificuldade de entender esse novo que chegou e pede também novas formas de sermos e estarmos na Terra.

(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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Petruska Menezes

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