Articulistas

O bode na Maçonaria

Compartilhe:
Edmar Nogueira Rocha (*)

Desde que me conheço por gente, ouço falar do bode na Maçonaria. Também é comum, entre os próprios maçons, se referirem a outros maçons como bodes.

Por exemplo, usa-se as seguintes frases:

“Essa festa está cheirando a bode!” – O que quer dizer: “Essa festa está cheia de maçons”

“Fui ao hospital, e o médico era bode” – O que quer dizer: “Fui ao hospital, e o médico era maçon.”

Outra frase comum dita ao candidato que está prestes a ingressar na ordem:

”Estás preparado para sentar no bode?”

Muitos dos nossos irmãos maçons desconhecem, totalmente, a origem do bode… Até ouviram falar, mas quando ingressam na maçonaria, descobrem, como eu, que não existe bode nenhum. Daí, muitos nem se interessam em saber a real causa dessa crendice.

De minha parte, agora já iniciado, e curioso, fui pesquisar sobre o danado do bode.

Mas antes de qualquer coisa, quero dizer que, segundo minhas pesquisas, em nenhum grau da Maçonaria existe qualquer referência a esse animal como parte da nossa simbologia.

A associação do bode com a Maçonaria, certamente, surgiu de fora para dentro, ou seja, de pessoas que não conheciam a ordem ou que, simplesmente, queriam depreciá-la.

De minha parte, já ouvi muitas estórias diferentes e estranhas; algumas, até de certo modo, bizarras.

Mas, a mais macabra é aquela que conta que, ao ser iniciado, o aprendiz deveria beber o sangue de um bode preto, sacrificado durante a cerimônia.

Outra estória interessante refere-se à maneira como eram divulgadas as reuniões da Maçonaria na era antiga.

Como não havia nenhum meio de comunicação diferente do boca a boca, e como tudo era feito em completo segredo, nos dias de reuniões, um maçom passeava pelas ruas carregando um bode preto amarrado por uma corda.

Era o sinal de que haveria reunião naquele dia, mas só os maçons entendiam.

Ao terminar o passeio, o dono do bode amarrava o animal na porta de sua casa. Era o sinal de que a reunião seria realizada ali.

Conta a estória que, ao final da reunião, os irmãos saboreavam o referido bode para confraternizar e alimentar os participantes.

Talvez daí, tenha surgido a história do sacrifício do bode nas reuniões da Maçonaria.

Outra explicação dá conta de que maçons eram conhecidos como bodes em função dos ternos pretos que usavam em suas reuniões.

Como naquele tempo não existia o “ar condicionado” nem mesmo o desodorante, eles costumavam voltar para casa com um cheiro forte e desagradável devido ao suor que se acumulava em suas vestes… Logo, amigos e familiares brincavam, dizendo: “Nossa! Que cheiro de bode, hein!”

Outros já dizem que o termo “bode” se deu devido a visitas de irmãos ingleses às lojas no Brasil… E por se dirigirem ao irmão como “brother”, o brasileiro acabou “Aportuguesando” a palavra e chamando os irmãos ingleses de bodes.

Dizem também que o Apóstolo Paulo, quando estava chateado ou queria esbravejar com alguém ou quando queria contar alguma intimidade ou algum segredo, pegava um bode e cochichava em seu ouvido.

Isso deixava o apóstolo mais tranquilo e relaxado por ter desabafado, e muito seguro porque sabia que o bode não contaria nada para ninguém.

Outra história dá conta de que os apóstolos, em suas peregrinações, quando chegavam nas cidades, repetiam a tradição de transmitir os pecados das pessoas para um bode, que logo após, era solto no deserto, ao sacrifício.

Esse era o bode expiatório, citado na Bíblia.

Conforme a tradição, segundo o Antigo Testamento, o bode foi escolhido para ser um animal de confiança e que não iria transmitir os pecados para mais ninguém.

Naquela época, o bode era símbolo do silêncio absoluto. Confessar para um bode era a certeza de guardar o segredo a sete chaves!

E, de acordo com a história, Jesus Cristo também serviu de bode expiatório ao ser crucificado para pagar os pecados do mundo.

Com o passar do tempo, a própria Igreja Católica substituiu o bode pelo padre, que recebeu a missão de ouvir os pecados dos fiéis, dentro de um confessionário.

Mesmo assim, muitas pessoas ainda preferiam continuar contando seus segredos ao bode, em detrimento dos padres. Afinal, o bode era muito mais seguro.

É sabido que, ao longo do tempo, muitos já tentaram, mas ninguém conseguiu penetrar os mistérios e segredos da Maçonaria.

A própria Igreja Católica, por exemplo, do alto do seu poder e de sua ostentação, tentou, de todas as maneiras, descobrir os segredos e acabar com a Maçonaria, mas, mesmo queimando e torturando milhares de pessoas, nossos irmãos, a igreja nunca conseguiu alcançar seu intento.

Naquela época, já existia uma organização internacional, filantrópica, afiliada à Maçonaria, mais especificamente ao Rito de York, que se chamava Cavaleiros Templários.

Diferentemente dos graus iniciais conferidos em uma Loja Maçônica tradicional, onde apenas se exige a crença em um Ser Supremo, os Cavaleiros Templários são uma das várias ordens maçônicas em que a adesão é restrita apenas a maçons já iniciados e que professem a crença na religião cristã.

Por conta da perseguição empreendida pela Igreja Católica, durante a fase de condenação dos Templários, o Papa Clemente V acusou os Cavaleiros de idolatria a um pretenso Deus com cabeça de bode.

Além disso, o Papa fez também acusações de sodomia, prostituição, promiscuidade e bacanais dentro dos templos, em que sempre havia um homem meio-bode.

Como resultado dessas acusações, o chefe Jacques de Molay e todos os participantes ou simpatizantes dos Cavaleiros Templários foram martirizados, ficando a Igreja como guardiã dos tesouros daquela Ordem Maçônica.

Acontece que quando a igreja decidiu iniciar perseguição aos maçons, eles se reuniram e juraram também manter o silêncio. Eles seguiram o que disse Jesus ao profeta Daniel, mandando fechar e lacrar as palavras até o final dos tempos (Daniel 12:4).

Dizem que, durante as perseguições, no início do século XIX, na França, um dos inquisidores chegou a desabafar com um superior: “Senhor, este pessoal maçom parece bode, por mais que sejam flagelados e torturados, não consigo arrancar de nenhum deles qualquer palavra que seja.  Eles morrem, mas não falam”.

Assim, a partir dessa frase, todos os maçons passaram a receber dos inquisidores esta denominação de bode – Aquele que não fala, aquele que sabe guardar informações.

Dizem que esse é um dos motivos de a imagem do bode ter ficado conhecida como símbolo do segredo e da confidência entre irmãos de doutrina. Ser bode significava trabalhar em silêncio.

Muitos maçons defendem a tese de que o bode deva ser encarado como lembrança das fogueiras da inquisição, dos açoites e das milhares de vidas de irmãos arrancadas no decorrer dos séculos.

Segundo eles, o bode deveria ser lembrança das sombras tenebrosas do passado.

Por esse motivo, eles repelem o uso da imagem do bode, mesmo quando bem humorada… Eles consideram que essa imagem seja desnecessária ao cumprimento da nossa missão.

 

__________

(*) Edmar Nogueira Rocha é master coach, consultor e terapeuta, maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva.

Compartilhe:
Só Sergipe

Site de Notícias Levadas a Sério.

Posts Recentes

IronMan 70.3 movimenta turismo e impulsiona nome de Sergipe no cenário internacional

  A capital sergipana já está em ritmo de contagem regressiva para a realização do…

40 minutos atrás

Os impactos dos problemas de comunicação nas empresas

  Por Diego da Costa (*)   ocê já parou para pensar que a maioria…

1 hora atrás

Governo divulga lista de beneficiários aprovados na CNH Social

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e…

3 horas atrás

Conheça a vinícola Beni di Batasiolo e seus vinhos maravilhosos

  Por Sílvio Farias (*)   Vinícola fundada em 1978 com o nome de Fratelli…

3 horas atrás

João Ribeiro e Sílvio Romero: dois gigantes sergipanos e suas efemérides 

  Por Acácia Rios (*)   A rua é um fator de vida das cidades,…

4 horas atrás

Ironman: SMTT organiza operação de trânsito para garantir segurança e mobilidade durante o evento

  Com a realização do Ironman 70.3 Itaú BBA, a maior prova de triatlo da…

24 horas atrás