Há um discurso recorrente de que o sucesso e o fracasso dos governos petistas (2003/2015) são decorrências diretas das variações dos volumes de exportações brasileiras de produtos primários, fenômeno batizado de “Boom das commodities”.
A ideia que sustenta esse argumento é a de que essas administrações apenas puderam manter os gastos e os investimentos então promovidos – e, consequentemente, sedimentar uma série de avanços sociais – porque esse excedente comercial lhes deu condição para tanto.
Todavia, não há base factual que ampare essa proposição.
Isso porque os níveis das exportações brasileiras da era petista, quando dimensionados em dólares estadunidenses, são similares aos atualmente existentes. Em verdade, para ser mais preciso, são até inferiores.
Entre 2003 e 2015, o Brasil exportou uma média de US$ 174.9 bilhões ao ano, cobrindo algo em torno de 10,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em dólar ianque.
Enquanto isso, desde 2016, quando foi dado o Golpe Parlamentar, até o ano de 2019, o país vendera uma média de US$ 213.8 bilhões anuais, perfazendo também uma média de 11,2% do PIB.
Lembrando que dados ainda não consolidados do Ministério da Economia já apontam para um total de exportações superior à marca de US$ 190 bilhões em 2020, apesar da crise sanitária causada pelo Sars CoV-2.
Se esse número se confirmar, em apenas dois anos, o mandato do Sr. Bolsonaro vai se aproximar do total de exportações realizadas nos quatro primeiros anos de governo do presidente Lula (2003/2006), também superando o montante dos dois últimos anos da presidenta Dilma (2014/2015).
Por sinal, a marca do interregno petista foi a paulatina redução da importância das exportações na composição do PIB brasileiro. Se do ano 2000 até 2004, essa proporção saiu de 8,3% e saltou para 14,4%, de 2005 a 2014, foi de 13,2% para 9% do produto interno. Voltando a crescer de modo consistente somente após o Golpe de 2016.
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS EXPORTAÇÕES NO PIB BRASILEIRO
O saldo comercial, diferença entre exportações e importações de mercadorias, nos quinze anos de governo petista cobriu uma média de 2% do produto apenas (algo como a economia do Espírito Santo) e foi decaindo de 4,2%, em 2003, para 0,61%, em 2012, passando a ficar negativo daí em diante.
Então, como algo que perde progressiva relevância na constituição do produto pode ser a causa principal do desempenho econômico? Não faz sentido!
Ademais, os preços praticados nos dias atuais não são muito diferentes dos enfrentados pelos dois mandatários do Partido dos Trabalhadores (PT), principalmente no que se refere aos tempos do presidente Lula.
Em seus dois períodos de governo, conforme dados do Fundo Monetário Nacional (FMI), a tonelada do grão de soja foi negociada a uma média de US$ 310.52 e a do ferro a US$ 52.08 a tonelada, ao passo em que o barril do petróleo cru era cotado em US$ 61.65.
Já nesses dois anos do Sr. Bolsonaro, esses itens têm sido negociados a um preço médio de US$ 333.87, US$ 98.58 e US$ 51.45, respectivamente, ainda conforme o FMI.
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DO SALDO DA BALANÇA COMERCIAL NO PIB BRASIL
Quando a comparação se dá por meio de preços corrigidos por índices específicos do comércio internacional vê-se que as principais commodities negociadas pelo Brasil (café, minério de ferro, petróleo cru e grãos de soja) estão mais valorizadas do que nos anos Lula e similares ao interregno Dilma.
Por sinal, quando da elaboração de uma cesta hipotética, formada por esses quatro itens de exportação, e se promove uma comparação entre o mandato Bolsonaro e os dois governos petistas, se percebe que a média dos preços mensais de toda a atual administração é superior aos preços praticados em 83 dos 160 meses de vigência da gestão do Partido dos Trabalhadores.
Assim, tais números reforçam a percepção de que não está na exportação de commodities a explicação para a performance da economia brasileira no decorrer dos governos petistas. Não que elas não tenham contribuído, mas que apenas não foram determinantes.
Se os preços dos bens primários vendidos pelo Brasil no mercado internacional tivessem sido, mesmo, a verdadeira razão pelo aumento da renda, geração de emprego e diminuição das desigualdades visto entre 2003 e 2013, era para esse evento estar novamente ocorrendo.
Coisa que não está!
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia e Doutor em Administração
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe
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