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O Brasil de Chico Buarque a Paulo Freire – de todos e para todos

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Valtênio Paes (*)

O que leva alguém, sem estatura intelectual para o assunto, espalhar críticas infundadas ao pensamento de estudiosos? Ódio? Negacionismo? Maldade política? Falso pretenciosismo? Ausência de modéstia? Nas redes sociais, recentemente,  ocorreram ataques a Paulo Freire ante o reconhecimento público avivado por intelectuais e educadores do mundo inteiro com a chegada do centenário de nascimento do educador. Paulo Freire e o prêmio, há poucos anos, recebido por Chico Buarque, têm algo em comum quanto ao reconhecimento internacional de suas obras. Marcante para o mundo e para o Brasil, porém, lamentável a conduta de algumas pessoas.

Destacaremos algumas obras desses intelectuais sem pretensão de esgotar seus currículos. Conhecido como intérprete e compositor no Brasil, Chico é mais conhecido na Europa como escritor. Música, literatura, autor de peças teatrais, trilhas sonoras e romances fazem parte de usa obra. Foi vencedor de três Prêmios Jabuti: escolhido o de melhor romance em 1992 com Estorvo e o de Livro do Ano, tanto pelo livro Budapeste, lançado em 2004, como por Leite Derramado em 2010.
Em 25 de março de 1996, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal.    Sua obra teve vendagem mínima em livros de 500 mil exemplares no Brasil. Em 2019, foi distinguido com o Prémio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa no mundo, pelo conjunto da obra.
Chico Buarque autor de Estorvo
Foto: Redes sociais

Com tudo isto, o atual governo desde outubro de 2019 indicou que pode não assinar o diploma do Prêmio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa, concedido a Chico Buarque. Ao ser questionado se assinaria o documento, o presidente disse “primeiramente que a decisão era segredo”. Em seguida, reiterou “até 31 de dezembro de 2026, eu assino”. Faltaram o ato protocolar e a elegância administrativa.  Lamentavelmente o atual governo não se dignou a cumprir a função administrativa.

Paulo Freire, homenageado recentemente pelo Google, é criador de método que estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida. Utiliza palavras presentes na realidade dos alunos sendo decodificadas para a aquisição da palavra escrita e a compreensão do mundo. Por seu empenho em ensinar os mais pobres tornou-se inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e África. O golpe militar extinguiu esse esforço e Freire foi encarcerado como traidor por 70 dias. Exilado na Bolívia e Chile por cinco anos foi trabalhar para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.

Sua imagem está na escultura Efter badet em Estocolmo na Suécia ao lado de seis personalidades internacionais, entre elas Pablo Neruda. Sua obra “Pedagogia do Oprimido” foi publicada em espanhol, inglês e hebraico. Foi    consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas e consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na África. Após exílio, retorna ao Brasil em 1980 para anos depois ser nomeado secretário de Educação de São Paulo. Em 1991 foi fundado o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire. Homenageado mundialmente com mais de 35 títulos Honoris Causa das universidades brasileiras e europeias. Também foi convidado para ser professor visitante em Havard em 1969. Com mais de 38 obras publicadas destacamos “Educação como Prática da Liberdade e “Pedagogia do Oprimido”.  

Alguns desmerecem! Ideólogos do obscurantismo intelectual tentam negar o valor histórico de ambos. Quem nega a história, dificulta a consciência do saber. Quem nega seus sábios, apaga o saber, impede o progresso e condena o país ao atraso. Quem não tem argumento científico ou cultural não tem estatura para criticar sábios com achismos. Falta estirpe intelectiva.

Noutros países, como em Portugal, um título de futebol do técnico Jorge de Jesus pelo Flamengo na Libertadores foi motivo de homenagem pelo governo português. No Brasil, intelectuais ilustres reconhecidos internacionalmente são rejeitados pelo atual governo. Com o olhar presente, pode-se até discordar da história, mas tentar apagá-la é crime contra uma população. Tentar excluir a obra dos sábios é crime contra seu povo.

Respeitar e apoiar nossos intelectuais, independentemente de tendências, é fortalecer a autoestima e a história de um povo. Quando se tenta desmerecer Paulo Freire, Chico Buarque, e tantos outros, sem argumentos, além de fundar-se no ódio, presta desserviço à toda nação brasileira. Estudá-los ou lê-los não exige obrigação para qualquer pessoa, mas respeitá-los é dever pátrio de todos(as) brasileiros(as).

 

(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

 

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Valtenio Paes de Oliveira

(*) Professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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