O que leva alguém, sem estatura intelectual para o assunto, espalhar críticas infundadas ao pensamento de estudiosos? Ódio? Negacionismo? Maldade política? Falso pretenciosismo? Ausência de modéstia? Nas redes sociais, recentemente, ocorreram ataques a Paulo Freire ante o reconhecimento público avivado por intelectuais e educadores do mundo inteiro com a chegada do centenário de nascimento do educador. Paulo Freire e o prêmio, há poucos anos, recebido por Chico Buarque, têm algo em comum quanto ao reconhecimento internacional de suas obras. Marcante para o mundo e para o Brasil, porém, lamentável a conduta de algumas pessoas.
Com tudo isto, o atual governo desde outubro de 2019 indicou que pode não assinar o diploma do Prêmio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa, concedido a Chico Buarque. Ao ser questionado se assinaria o documento, o presidente disse “primeiramente que a decisão era segredo”. Em seguida, reiterou “até 31 de dezembro de 2026, eu assino”. Faltaram o ato protocolar e a elegância administrativa. Lamentavelmente o atual governo não se dignou a cumprir a função administrativa.
Paulo Freire, homenageado recentemente pelo Google, é criador de método que estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida. Utiliza palavras presentes na realidade dos alunos sendo decodificadas para a aquisição da palavra escrita e a compreensão do mundo. Por seu empenho em ensinar os mais pobres tornou-se inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e África. O golpe militar extinguiu esse esforço e Freire foi encarcerado como traidor por 70 dias. Exilado na Bolívia e Chile por cinco anos foi trabalhar para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.
Sua imagem está na escultura Efter badet em Estocolmo na Suécia ao lado de seis personalidades internacionais, entre elas Pablo Neruda. Sua obra “Pedagogia do Oprimido” foi publicada em espanhol, inglês e hebraico. Foi consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas e consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na África. Após exílio, retorna ao Brasil em 1980 para anos depois ser nomeado secretário de Educação de São Paulo. Em 1991 foi fundado o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire. Homenageado mundialmente com mais de 35 títulos Honoris Causa das universidades brasileiras e europeias. Também foi convidado para ser professor visitante em Havard em 1969. Com mais de 38 obras publicadas destacamos “Educação como Prática da Liberdade” e “Pedagogia do Oprimido”.
Noutros países, como em Portugal, um título de futebol do técnico Jorge de Jesus pelo Flamengo na Libertadores foi motivo de homenagem pelo governo português. No Brasil, intelectuais ilustres reconhecidos internacionalmente são rejeitados pelo atual governo. Com o olhar presente, pode-se até discordar da história, mas tentar apagá-la é crime contra uma população. Tentar excluir a obra dos sábios é crime contra seu povo.
(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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