“O cidadão não precisa se curvar ao Estado, a relação é contrária”. O pensamento é do coordenador nacional do Movimento Brasil 200, o publicitário Lúcio Flávio Miranda da Rocha, responsável pela criação do grupo em Sergipe. Ele entende que o Estado é quem deve se curvar ao cidadão, critica as medidas de isolamento social praticadas pelo governador Belivaldo Chagas e pelo prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira e, nesta segunda-feira, dará entrada em uma ação na Justiça exigindo a reabertura do comércio na capital. “Eles (os governos estadual e municipal de Aracaju) estão fazendo uma tragédia em relação à economia do Estado de Sergipe, ao emprego, fome e a consequência disso seria a criminalidade. Não duvidem do que um pai que tem um filho com fome pode fazer, não duvidem da capacidade de um homem chefe de família que não tem recursos para matar a fome da sua casa”, alerta o publicitário. Ontem à noite, por exemplo, ele participou do protesto do Sindicato dos Cabeleireiros e Profissionais da Beleza, intitulado “Enterro dos CNPJs”, cujo vídeo pode ser visto no canal do Só Sergipe no Youtube. O Movimento Brasil 200, segundo Lúcio Flávio, é conservador, defende o livre mercado e politicamente é direitista e defensor das políticas do presidente Jair Bolsonaro. E lembrou do alerta do presidente durante reunião ministerial que, por decisão judicial, foi tornada pública: ‘quem não defende Deus, família, armamento está no governo errado’, disse o presidente. “Não o idolatramos, mas apoiamos todos os princípios e valores do presidente. Ele nos representa e somos base de apoio do governo federal”, garantiu. Leia agora os principais pontos da entrevista que Lúcio Flávio concedeu ao Só Sergipe.
SÓ SERGIPE – Como começou o Movimento Brasil 200, instituição que nacionalmente é coordenada pelo senhor?
LÚCIO FLÁVIO – O Brasil 200 é um movimento suprapartidário, ou seja, sem vinculação a nenhum partido político e que tem como objetivo, a partir de demandas dos empresários, pautar um debate político. Tudo começou com o empresário Flávio Rocha, dono das Lojas Riachuelo. Em janeiro de 2018, Flávio Rocha esteve num evento nos Estados Unidos chamado NRF, que é o maior evento do mundo de empresas e varejo. Todos os anos os gigantes do comércio param nesse evento para discutir o futuro. Lá, Flávio pegou os gigantes brasileiros e lançou uma carta chamada Manifesto Brasil 200, alertando para o futuro do nosso país, pois nós temos um estado insaciável que não para de nos cobrar impostos, que não para de nos querer viciados, dependentes, pedindo migalhas, esmolas e isso está errado. Nós precisamos sair da moita e pautarmos debates políticos e não fugirmos da política.
SS – Qual foi a origem do nome Brasil 200?
LF – Por que o nome Brasil 200? Porque Flávio Rocha lembrou da Inconfidência Mineira, na escola as crianças aprendem isso. Algumas pessoas foram enforcadas, inclusive Tiradentes, porque reclamavam, naquele momento em que éramos colônia de Portugal, que tínhamos uma carga tributária chamada de O Quinto dos Infernos. Os brasileiros naquela época pagavam aos portugueses 20% de impostos e as pessoas entendiam que isso era absurdo, era muito roubo. E o Flávio se perguntou: que Independência é essa? Nos tornamos independentes da colônia portuguesa, não somos mais colônia, mas pagamos uma carga tributária praticamente o dobro do que pegávamos naquela época. Somos escravos do nosso estado, pagando o dobro do que quando éramos colônia, e que já era muito. 200 anos é justamente pelo Bicentenário da nossa Independência, mas que independência é essa, então? O movimento nasceu para pavimentar a estrada da verdadeira independência do país, através da apresentação de proposta com pautas políticas que vamos levar para prosperidade.
SS – E aqui em Sergipe?
LF – Nós construímos o Brasil 200 em Sergipe, o primeiro Núcleo Estadual do Brasil fora de São Paulo. E a partir de Sergipe começou a se expandir para o Brasil todo, porque todo mundo queria tirar o peso do Estado das costas. Queria se livrar do Estado, pois ele não existe para nos oprimir, mas para servir ao cidadão e não para o cidadão servir ao Estado. O cidadão não precisa se curvar ao Estado, a relação é contrária. O Estado existe pelas nossas riquezas, pelos nossos impostos, então não é a gente que tem que se render e ser perseguido, especialmente a classe empresarial, que é muito perseguida. Então nós construímos o núcleo em Sergipe que, a partir de então, retomou várias iniciativas para ajudar na transformação.
SS- E como é esse núcleo hoje, ele tem associados? As pessoas se agregam a ele?
LF – Nós temos hoje um núcleo intelectual formado por sete pessoas e temos um grande grupo de militância formado por 200 pessoas. Nossa ferramenta de comunicação é o WhatsApp, então nós temos um grupo de 200 pessoas de nossa militância. E só um detalhe: o grupo não é mais formado só por empresários, embora tenha nascido com eles, mas também pela sociedade civil. Hoje nós temos funcionários públicos, privados, nós temos autônomos profissionais liberais, desempregados, aposentados. As 200 pessoas que formam o grupo do núcleo Sergipe são muito diversificadas.
SS – Caso uma pessoa deseje se integrar ao Brasil 200, como fazer?
LF – Através dos nossos canais nas redes sociais, como Instagram e Facebook, nós recebemos as pessoas interessadas em integrar o movimento Brasil 200. Nós temos um canal nacional e um canal específico do Brasil 200 em Sergipe. Em qualquer um desses canais quem tiver interesse em se integrar, nos será encaminhado e nós iremos inseri-lo no nosso contexto de ações, atividades de trabalho e hábitos.
SS – Tem algum critério para a escolha dessas pessoas que se candidatam a fazer parte do Brasil 200?
LF – Tem, tem sim. Nós temos três aspectos ao qual nos identificamos muito bem. Primeiro, o aspecto político. Nós somos ideologicamente aliados à direita, então nós não temos princípios que coadunem com pessoas que pensam na político da esquerda, não que nós não os queremos. O que eles pensam são contrários ao que nós pensamos, é oposto ao que nós acreditamos. Na área econômica nós defendemos o livre mercado, ou seja, nós somos liberais. E no aspecto de valores morais e costumes nós somos conservadores, o que também se opõe ao que os progressistas mais alinhados acreditam. Então, aqueles que estão alinhados com esses princípios se sentem confortáveis e mais à vontade ao estarem entre nós.
SS – O associado paga alguma taxa? Como é que funciona isso?
LF – Nós temos produtos que são remuneradas. Inclusive nós estamos relançando esses produtos na segunda quinzena de junho. São produtos remunerados por assinantes para que fiquem a par de todos os nossos passos, mas são opcionais. Os militantes que fazem parte do nosso grupo não são obrigados a pagar absolutamente nada, mas existem produtos que ajudam a sustentar o instituto que não tem fins lucrativos e que tem sede em São Paulo. O instituto não recebe verba de absolutamente nenhum partido e é composto por doações e contribuições, comercialização de produtos.
SS – Recentemente o Brasil 200 apoiou um empresário sergipano da confecção do ramo de jeans, isso viralizou nas redes sociais. Como foi aquela iniciativa?
LF – Nós somos completamente contra a todo esse exagero em relação à pandemia. Há um excesso de política de informações negativas que têm adoecido a nossa população e o excesso de restrição, aos quais nós entendemos como completamente desnecessárias e sem efeito. Nós não vemos nenhum tipo de diferença em uma casa lotérica estar aberta para uma loja de brinquedos aberta. Não vemos nenhuma diferença nisso. O potencial de contaminação de uma casa lotérica, de um banco, do supermercado é praticamente o mesmo, ou até maior, do que de uma loja de móveis, por exemplo.
SS –Vocês são contra as medidas tomadas pelo governador Belivaldo Chagas, de isolamento social?
LF – Nós somos contra as medidas tomadas pelo governador Belivaldo Chagas, e pelos prefeitos, especialmente da capital. Não somos contra essas pessoas, nossa militância é meramente com relação a ideias, propostas e projetos. Nós somos frontalmente contra os governadores que estão equivocados, estão causando sequelas irreparáveis a curto prazo. Eles estão fazendo uma tragédia em relação à economia do Estado de Sergipe, ao emprego, fome e a consequência disso seria a criminalidade. Não duvidem do que um pai que tem um filho com fome pode fazer, a capacidade de um homem chefe de família que não tem recursos para matar a fome da sua casa. Isso é responsabilidade direta e objetiva dos prefeitos e governadores de Sergipe que mantêm uma política de restrição exagerada sem nenhum embasamento técnico-científico.
SS – Sim, e quanto ao empresário?
LF – Nós nos deparamos com o vídeo de um empresário que tinha 22 anos ininterruptos com a loja dele e pela primeira vez se viu sem dinheiro para pagar o aluguel e as próprias dívidas. Ele estava lamentando fechar o negócio que, ao longo do tempo estava gerando emprego e renda, coisa que o Estado não faz e esse empresário fazia. E por conta de uma quarentena tresloucada e exagerada, mal planejada, teve que encerrar toda essa linda história, sepultar o CNPJ, sem ter nenhuma culpa. Nós nos compadecemos e criamos uma iniciativa de uma compra solidária para diminuir o prejuízo do estoque do rapaz, da família dele. Mobilizamos e foi um sucesso, repercutiu nas redes sociais o resultado, muitas pessoas foram lá e nem se preocupavam com o produto, apena compravam. Só queriam ajudar e compartilhar naquele momento. Eles estavam em terra arrasada. E nossas iniciativas não param por aí. Nós vamos tomar medidas duras contra o prefeito e o governador de Sergipe.
SS – No Brasil 200, quem quiser carreira política, pode continuar no movimento?
LF – Nós entendemos que a transformação do país, em qualquer esfera, passa por cadeiras políticas. Não adianta discutir o que é melhor para o país, se não passar pelas mãos de um político. É necessário ocuparmos essas cadeiras para que as transformações sejam possíveis. Nossa regra é a seguinte: todas as pessoas que estiverem no período de campanha eleitoral, não podem ter um cargo diretivo no Brasil 200, mas ele pode e deve continuar no movimento. E o Brasil 200 não declara apoio a candidato nenhum, sem antes de uma sabatina. Sou coordenador nacional do Brasil 200 e no período eleitoral sairei do cargo, mas continuo no movimento.
SS – Qual a responsabilidade de um coordenador nacional?
LF – Multiplica a nossa responsabilidade, que antes se limitava a Sergipe. Temos que transformar o Brasil. Quando a reforma previdenciária começou a ser debatida, havia discussão que não passaria no Congresso. Aí, o Brasil 200 pega a líder do governo, Joyce Hallseman para percorrer todos os Estados com o objetivo de fazer interlocução no país inteiro. Em Sergipe, o único parlamentar que votou favorável foi Laércio Oliveira. Nós temos 11 parlamentares aqui e todos os outros 10 ou foram contra ou isentos, não queriam tocar no assunto, pois era pauta indigesta. A esquerda batia pesado. O único a favor foi Laércio. Nós mudamos a história do país, com a reforma da previdência. Nós conseguimos derrubar o projeto do senador Alessandro Vieira que queria controlar a internet. O debate foi tão efervescente, a ponto de derrubar da pauta. E tornou o projeto impopular. Antes da eleição, fomos à casa de Jair Bolsonaro com uma proposta: caso ele fosse eleito, cada CNPJ criaria um emprego, mesmo sem necessidade, para apoiar seu mandato. Na época das eleições, o problema era o desemprego. Queríamos que fosse promessa de campanha, mas Bolsonaro, muito íntegro, falou que não. E disse que, se fosse eleito, divulgassem isso, pois a tendência seria drástica na geração de emprego. Em dezembro, no prédio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fies), com o presidente Paulo Skaf, lançamos o projeto “Emprego Mais Um”, com ampla repercussão nacional. Estabelecemos a meta de 1 milhão de empregos em janeiro e que não deixaríamos dados negativos. Conseguimos bater mais de 1,3 milhão de novas vagas em janeiro de 2018 e batemos a meta.
SS –E agora?
LF – Nós vamos pautar a pós-pandemia e a reforma tributária.
SS – O fato do Brasil 200 ser direitista atrela um apoio ao governo Bolsonaro?
LF – Sim, somos apoiadores do governo Bolsonaro. Nós temos um projeto que fechamos com a primeira dama, Michele Bolsonaro, e com a ministra Damares Alves, de levar quentinhas e marmitas para moradores de rua que sofrem nesta pandemia. É o projeto Quarentena sem fome diante do exagero do isolamento social. Temos chegado à noite e estamos levando alimentos aqui em Sergipe. Fizemos esse projeto e isso chamou a atenção de Damares Alves, que nos convidou para integrarmos o Projeto Pátria Voluntária, comandado por Michele Bolsonaro. Firmamos esse pacto. Naquela reunião ministerial, a portas fechadas, Bolsonaro falou que ‘quem não defende Deus, família, armamento está no governo errado’. E nós, do Brasil 200, defendemos tudo isso que ele falou em segredo. Tudo que ele falou alcança os nossos princípios e nos sentimos apoiadores. Não idolatramos, mas apoiamos todos os princípios e valores do presidente. Ele nos representa e somos base de apoio do governo federal.