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O Complexo de Chantecler ou Complexo de Deus

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Por Antônio Carlos Garcia (*)

 

Numa fazenda francesa havia um galo chamado Chantecler, que todas as madrugadas acordava e cantava a plenos pulmões para acordar o Sol. E de fato, pouco depois do seu cocorocó o Sol despontava no horizonte. Ele acreditava – e os outros animais que viviam com ele, também – que o sol nascia por causa do seu canto. Um belo dia, o galo acordou mais tarde e o Sol já estava lá, lindo e majestoso. Não esperou por ele. Chantecler ficou horrorizado,  se sentiu desesperado, desapontado, assim como seus amigos que lhe eram submissos naquela fazenda.

Essa história foi criada pelo teatrólogo e escritor francês Edmond Rostand, e a psicanálise aproveitou para associar o galo às pessoas que acreditam que o mundo se movimenta por causa dos seus talentos. É o conhecido “Complexo de Deus” ou “Complexo de Chantecler”. E o que não falta, num certo país, é gente que acredita que o mundo gira em torno dele e por causa dele. Há um demiurgo chefe que se acha o dono da razão, acredita que tudo que fala tem a mais pura razão e não gosta de ser criticado. Mesmo quando fala besteira.

Além dele, em diversas esferas da vida daquele certo país, existem pessoas que têm certeza de que o mundo gira em torno delas e por causa delas. Num passado recente, havia um aloprado que formou um séquito submisso – tal qual Chantecler – o chamaram de mito, e colocou o país no fundo do poço. Infelizmente, ainda existem muitos, que acreditam nos Chanteclers. A ausência de consciência política é tão grande, que eles se propagam como ervas daninhas e se arregimentam em entidades de classe, clubes de serviço, prefeituras, governos estaduais e, claro, no também federal.

E olha, para quem acredita em coincidências, basta pensar um pouco e descobrir que não é somente no centro do poder daquele país que os líderes se comportam exatamente como Chantecler. Tem muito lugar assim, mas deixo que o caro leitor os identifique.  Embora incompetentes no quesito gestão, roucos e desafinados, estes inimigos do ritmo vivem na doce ilusão de que, e somente porque existem e se acham gestores de alguma coisa, é que os entes sobrevivem.

Felizmente, o sol não precisa deles para nascer, mas é necessário que o povo tome consciência disso e os defenestre do poder. Cada ano é decisivo para que a população saia da mesmice, da letargia e da incompetência que travam aquele sofrido país. Até agora, a classe política só construiu o caos, por isso é tão desacreditada, com raríssimas exceções.  A economia está em frangalhos, o desemprego massacra a todos. A Constituição é desrespeitada, assim como todo o seu povo.

Quem antes criticava o governo anterior, hoje, no poder, não aceita críticas e faz pior ou igual aos antecessores. Não há inovação nenhuma. Os Chanteclers se revezam no poder, e passam de pai para filho como se ali fosse um feudo e o povo, os submissos vassalos, contribui placidamente para isso. Há um lugar, onde há governador que vira prefeito, que vira governador novamente, que depois é prefeito, depois governador, depois… Ufa! Cansa.

Embora exista muita gente ingênua e que ainda acredita nesse canto, chegará o dia em que – e espera-se que esteja próximo – ninguém mais acreditará neles.

Além de calar e aposentar estes Chanteclers, é necessário começar do zero. Cada recomeço tem que ter como marca o otimismo. Um dia, quando o povo tiver consciência política, tudo vai mudar.

O sol nasce, independente de Chantecler. E o povo não precisa ser submisso a nenhum galo cantador. O povo é o senhor da própria história.

 

 

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Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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