Estamos às vésperas de mais uma eleição no Brasil. O momento sempre traz grande preocupação. O que leva uma pessoa a votar em determinado candidato? Um fato é certo: somente um percentual irrisório da população avalia os programas, projetos políticos e sociais apresentados pelos candidatos. Outro fato influenciador do voto é quase o completo desconhecimento do modelo de gestão pública, que é muito complexo e extremamente diferente da legislação aplicada às empresas privadas. Assim, mesmo gestores de grandes empresas internacionais que atuam no Brasil podem não dominar todo o complexo sistema de gestão e políticas públicas que nos rege.
Nem sempre o que um candidato promete durante a campanha eleitoral possui aplicação viável na jurisdição e nas regras públicas vigentes, mas por desconhecimento a promessa passa a ter cunho de verdade e crença. As verbas públicas também são finitas e, em sua maioria, possuem destinações especificadas, tendo pouca ou nenhuma disponibilidade de fluidez para alcançar a real demanda de uma região. Outras, dependem não da vontade do candidato, mas devem ser aprovadas pela Câmara de Vereadores, em forma de Lei.
Érika Ronqueti Terra Silva e Emerson Wagner Mainardes (2019) em seu artigo “O comportamento do eleitor brasileiro na escolha do candidato” afirmam que o “marketing político é uma característica onipresente na política moderna.” Ele identifica quais as principais necessidades e demandas do eleitorado seguindo três principais orientações: o candidato (produto), as ideias e propostas mais atraentes (o direcionamento de vendas) e a satisfação dos eleitores por identificação de suas demandas e projeção dos candidatos (orientação do Partido para o Mercado).
O marketing político mostra-se extremamente eficaz para modificar completamente o cenário eleitoral antes, durante e depois das eleições. Estudos de comportamento do consumidor são aplicados ao comportamento do eleitor, descaracterizando a seriedade que é governar uma nação em todas as suas instâncias e as consequências que isso acarreta.
Silva e Mainardes (2019) ainda trazem o estudo estadunidense de Newman e Sheth (1985), analisando questões políticas, o imaginário social, a imagem do candidato, a questão emocional, eventos atuais, eventos pessoais e questões epistemológicas como fatores (domínios cognitivos) influenciadores do comportamento do eleitor. Desse estudo, sua pesquisa adaptada ao Brasil mostra que o predomínio brasileiro está nos domínios das questões políticas, na dimensão emocional e na imagem do candidato para a escolha da pessoa mais “qualificada” para o cargo. Eles afirmam: “Em outras palavras, significa que os eleitores brasileiros pesquisados fundamentam sua escolha por um candidato com base nas proposições políticas (política econômica, política externa, liderança e política social), nos sentimentos despertados pelo candidato (esperança, responsabilidade e patriotismo) e nos traços de personalidade que indicam as principais características do candidato (confiança, integridade e carisma)”.
Os pesquisadores deixam claro que isso não rege toda a população e, como foi uma pesquisa adaptada de um modelo americano, é passível de questionamentos. Mas a pesquisa já é suficiente para confirmar que o marketing político brasileiro está a serviço de intenções pessoais, desprezando, muitas vezes, as bases legais da gestão pública e o cuidado com o social.
Outra consideração muito importante que vem da prática psicanalítica é que, nem sempre, o que se quer é o que é necessário e fundamental para o processo de desenvolvimento social. Freud já explicitava em “Psicologia das Massas e Análise do Eu” o poder de influência que existe, quando há a junção de pessoas e o rebaixamento (até regressão do funcionamento mental coletivo) se não houver determinados parâmetros que regem o grupo. Bion complementa, em seu livro “Experiência com Grupos”, que se um grupo não tiver focado em determinados objetivos pelos quais foi criado, ele perde sua capacidade de ser um grupo de trabalho, ou seja, um grupo produtivo, e se torna um grupo de suposto básico, passando a agir em interação entre seus membros, tendo o foco em desabonar ou supervalorizar pessoas, ao invés de cumprir com aquilo que gerou a sua criação.
Se pensarmos que as comunidades são grandes grupos interagindo consigo e com as outras, serão alvos mais fáceis de manipulação da má aplicação do marketing político. São necessários capacidade de subjetivação e reflexão dos sujeitos sobre as ações, planejamentos dos candidatos e partidos e, principalmente, conhecimento acerca do funcionamento do Estado, para poder eleger pessoas capazes de potencializar as ferramentas de gestão de forma hábil e dentro das grandes amarras legais, a fim de se alcançar maior qualidade de saúde, educação, equidade, justiça social, diminuição das desigualdades, cumprimento dos direitos, exigência correta e justa dos deveres gerando melhor qualidade de vida para todos.
E agora? Sabendo disso tudo, você pode se considerar um bom eleitor? Sente-se qualificado para votar? Ou vai votar em seu amigo? Ou em quem te prometeu algo? Será que o seu candidato poderá cumprir o que prometeu? É possível ser realizado dentro da lei e no período de 4 anos? Cabe a ele(a) essa função? Ou melhor, você sabe qual a função de um prefeito e de um vereador? Ainda dá tempo de se informar. Sempre é tempo de se informar…
(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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