Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Convidado de última hora para uma festa de um grupo empresarial, que atua em todos os estados do país, não atentei para o traje pedido no convite. Fui substituindo a titular da pasta, que estava em viagem, a quem o convite era endereçado. Na verdade, não me repassaram o convite, informando a formalidade que o momento exigia. Vestido de forma casual, camisa social e calça de gabardine, me encaminhei para o local do evento.
Logo na chegada, no estacionamento do hotel estrelado, onde ocorreria a grande festa, deparei-me com homens de terno e mulheres de longos e muito brilho. Pensei em voltar, mas segui em frente. Estacionei o carro, me encaminhei para a recepção. Jovens moças vestidas de preto, checaram no computador o nome da titular do convite, autorizando a entrada. Uma delas me acompanhou à parte vip do salão principal, onde estavam as autoridades.
Com lustres que lembram o Palácio de Versalhes; mesas decoradas com primor: toalha de cambraia de linho, arranjo de flores naturais, taças de cristais, louças finas. Garçons e garçonetes impecáveis, serviam vinhos, espumantes, cervejas artesanais, petiscos de qualidade, diferentes tipos de queijo. Tudo do bom e do melhor.
Primeira mesa que avistei, tinha quatro mulheres de meia idade, desacompanhadas, efusivamente ornamentadas. Perguntei se todos os lugares estavam ocupados. A única que se dignificou a levantar os olhos do celular, me disse que “sim”.
Avistei um sujeito, que conheço de longas datas, sentado à mesa ao lado. Me dirigi a ele; levantou-se, cumprimentou-me, e perguntei se estavam ocupados todos os assentos. Alguém ao lado, respondeu que os dois lugares vagos estavam reservados para um casal que estava a caminho.
Logo à frente, uma mesa com apenas um casal. Dei boa noite, sentei-me. O casal ao celular, não demorou para pular para uma mesa atrás, onde estavam outras pessoas. Em seguida chegou outro casal e um senhor calvo, ocupando os lugares do casal anterior. Nenhuma palavra foi trocada entre nós.
Não demorou para aparecer um anjo da guarda. Paula, jovem garçonete, chegou por trás, perguntando o que gostaria de beber. Informou as opções; optei por espumante. Perguntei a procedência, disse-me que era italiano. Serviu-me a primeira taça. Em seguida trouxe um prato com frios. No palco principal o anfitrião, ao microfone fez longo discurso, falando dos feitos e realizações da empresa no ano de 2024. Muitas conversas, pouca atenção para a fala do senhor anfitrião.
Paula, sempre solícita e atenciosa, me serviu mais algumas taças de espumante; em seguida providenciou meu jantar. Agradeci sua atenção, gentileza e generosidade da noite. Saí à francesa, por uma porta lateral, evitando o salão principal.
Lembrei de Steve Job, trilionário, dono da Apple, morto em outubro de 2011, que, invariavelmente, vestia-se de camiseta preta e calça jeans. Caso chegasse à festa, possivelmente seria esnobado, pois não estava devidamente paramentado para a ocasião.
Em uma palestra espetáculo, o grande e impagável Ariano Suassuna contou mais uma de suas histórias hilárias. Convidado para um evento no Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba, ao chegar à entrada do Palácio, foi barrado pelo segurança que alegou que ele não estava vestido à caráter, e daquele jeito não podia entrar no Palácio do Governador. Então Ariano retrucou: “Deixe de besteira, cabra, eu já entrei nu neste palácio”. Ariano nasceu em 16 de junho de 1927, naquele mesmo palácio, quando seu pai, João Suassuna, era o governador.
Ariano, como todos nós, nasceu nu.
Naquela noite me tornei invisível para todos, pois não estava devidamente vestido. Saí, sem ninguém notar minha presença. Interessante que na tarde do mesmo dia, vestido de blazer, estive numa solenidade com o governador, e o ministro dos Portos, que veio a São Luís inaugurar a expansão do aeroporto local. Na ocasião, fui fotografado ao lado dos dois, dei entrevista, fui notícia no maior canal de TV do estado.
Caro leitor, amiga leitora, para que tanta formalidade, se uma das melhores coisas da vida se faz sem nenhuma roupa? Inclusive, quem nos fez, ou quando copulamos, os corpos estão, invariavelmente, nus.
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