Muito comum se escutar tal afirmação, em especial entre ricos: “o dinheiro é meu, faço o que quero”. Merece reflexão no planeta limitado, em destruição e cada vez mais ocupado. Pior ainda, dividido entre poucos ricos e milhões de miseráveis. Numa visão ética individualista, típico do verdadeiro conservador, o certo é tudo aquilo a partir do seu interesse pessoal. O coletivo não tem relevância. Numa visão ética que se funda no coletivo, típico do verdadeiro conservador, o certo é tudo que se funda no interesse coletivo. Dentre tantos efeitos, no condomínio, no consumo, no meio ambiente e na família pode-se refletir.
No condomínio: “estou no que é meu, comprei com meu dinheiro, faço o que quero”. Mesmo que venha prejudicar outras pessoas? Com certeza o dinheiro não é instrumento de compra da paz coletiva, portanto pode-se fazer o quer com dinheiro desde que não prejudique outras pessoas.
O consumista ao comprar, sente-se feliz e mostra suas aquisições, já quem tem transtorno, sente-se eufórico na hora de comprar sem prazer algum. A associação entre consumismo e individualismo pode desembocar em oneomania, doença característica de consumidor(a) compulsivo(a). Em ambas as situações despreza-se valores de convivência para priorizar bens materiais que o mercado apresenta, portanto fazer o que quer pode resultar em doença.
Uma boa reflexão para o consumista ganancioso seria experimentar momentos de miséria social. Segundo Daniela Amorim e Vinicius Neder publicaram no Estadão em 06/11/2019 comentando dados do IBGE: 1 milhão de brasileiros(as) desceu da linha da pobreza em média, por ano, no país desde 2015.
Atente-se que em 2014, 4,5% dos brasileiros viviam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2018, esse porcentual subiu ao patamar recorde de 6,5%. Em 2018, 25,3% da população brasileira estavam abaixo da linha de pobreza. E ainda, 10% mais ricos têm rendimentos 13 vezes maior que os 40% mais pobres. Imagine-se o fim social da taxação das grandes fortunas. Sergipe possuía, em 2019, o maior índice (Gini) de desigualdade de renda no país. Com tanta desigualdade, deve-se priorizar o instinto individual ou a paz coletiva?
Humanizar as relações de consumo e evitar a prática da coisificação, passam pelo entendimento que o dinheiro é uma ferramenta na vida humana, jamais um fim em si mesmo. O risco de quem vive na ilha do consumo é ser inundado pela miséria social de milhões de pessoas. Agir contra a miséria é uma boa ação política. Quem se alimenta exclusivamente do eu e do consumo não privilegia sentimentos e valores coletivos em cada convivência. Afinal, lidar com dificuldades e facilidades ajudam na busca do equilíbrio.
O planeta, como nosso maior condomínio, por ser finito exige consciência coletiva de seus condôminos sob pena de extinção. O dinheiro não pode empoderar o individual em detrimento do coletivo. O dinheiro não basta ser meu. Usar sem ostentação e constrangimentos de terceiros, no espaço planetário cada vez menor e a consciência reivindicatória cada vez maior, pode ser uma boa alternativa.
(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.