Durante um ano, Marco Antônio Camilo conversou com diversas pessoas – foram ao todo 54 entrevistas – visitou lugares que foram frequentados pelo Dr. Rochinha, como é carinhosamente conhecido. Mas um detalhe importante faz a diferença no livro do biógrafo: é que o Dr. Rochinha o viu nascer, portanto, a convivência entre biógrafo e biografado já remonta de longas datas. “Confesso que no melhor dos meus sonhos jamais imaginaria que um dia teria a honra de escrever a história de um certo senhor que meus genitores tinham muito apreço”, disse.
Na profunda pesquisa sobre a vida de Dr. Rochinha, o escritor encontrou fatos pitorescos, mas se permitiu não dar nenhum ‘spoiler’ deixando que o leitor descubra situações interessantes, e outras nem tanto, durante a leitura do livro. Um dos períodos difíceis foi quando Rochinha presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil Sergipe, quando da instituição do AI-5, “o ato mais repressivo da ditadura militar do Brasil. Foram tempos de muita preocupação e incerteza”.
A ideia de transformar em um livro a história de Dr. Rochinha, tornando pública a sua história, foi do empresário Juliano César Faria Souto, que convidou Marco Antônio Camilo. “Juliano escolheu este amigo comum para tão honrosa empreitada”, frisou.
No livro há um capítulo dedicado à vida maçônica do Dr. Rochinha. “Por ter dedicado grande parte de sua vida na defesa e difusão dos princípios e ideais maçônicos, sua biografia não poderia deixar de reservar ao menos um capítulo para narrar a história do maçom regular ativo mais antigo do Grande Oriente do Estado de Sergipe”, disse o escritor.
Este é o sétimo livro de Marco Antônio Camilo, sendo a quarta biografia, estilo literário que é o seu forte, mas com passagens pela poesia. Seu primeiro livro foi “Histórias em versos – Um presente de Deus”, de 2013. “Sem dúvida alguma hoje me considero um biógrafo, uma vez que assim estou sendo reconhecido”, afirmou o escritor, que está trabalhando em outras biografias, pois já recebeu convites para contar histórias de outros notáveis sergipanos.
Advogado, pós-graduado em Direito Penal e Processual e analista jurídico do Tribunal de Justiça de Sergipe, Marco Antônio Camilo, 59 anos, conversou com o Só Sergipe, e contou um pouco sobre o livro com a biografia de Dr. Rochinha.
Confira.
SÓ SERGIPE – Amanhã, no Museu da Gente Sergipana, o senhor estará lançando seu sétimo livro, “Rochinha, Decano da Humildade”, contando a vida do advogado José Francisco da Rocha. Como nasceu a ideia deste livro?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Embora nos últimos anos tenha me dedicado a escrever sólidas biografias no intuito de narrar as histórias daqueles que de alguma forma contribuíram para o crescimento do nosso Estado, confesso que não foi minha a ideia de contar a brilhante trajetória de José Francisco da Rocha, carinhosamente conhecido por Dr. Rochinha. Em 2021, com o objetivo de tornar pública sua bela história de vida, o empresário Juliano César Faria Souto, filho do saudoso Raimundo Juliano, grande amigo de Rochinha, teve a feliz iniciativa de homenagear o pai do seu amigo Juvenal Neto com uma biografia, escolhendo este amigo em comum para tão honrosa empreitada.
SÓ SERGIPE – Por quanto tempo o senhor pesquisou para compor essa biografia? Quantas entrevistas foram feitas?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Foram 54 entrevistas ao longo de exatos 12 meses de intensa pesquisa, com visita aos lugares onde Rochinha viveu e onde hoje se encontra para melhor mergulhar em sua rica história.
SÓ SERGIPE –Nesse garimpo de informações para escrever a biografia de Rochinha, o que mais lhe surpreendeu?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – O que mais me surpreendeu e encantou foi a lucidez do quase centenário jurista, demonstrando ser detentor de memória privilegiada, assim como sua admirável humildade, incomum nos dias atuais em se tratando de uma pessoa com tantos atributos e de intelecto diferenciado, além do seu contagiante bom humor.
SÓ SERGIPE – Rochinha se formou em Direito no ano de 1956, ingressou na OAB Sergipe aos 21 anos de idade. Hoje é o decano dessa instituição, com a carteira de número 190. O que o senhor apurou sobre Rochinha como membro da OAB?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Na verdade, a inscrição definitiva de Dr. Rochinha nos quadros da OAB/SE data de janeiro de 1957, quando possuía 31 anos de idade. Ao encerrar suas atividades em janeiro de 2020, por ocasião da pandemia do coronavírus, completou 64 anos de efetivo exercício na advocacia, concluindo, assim, uma das mais belas histórias de amor de um homem com a profissão que abraçou.
Além de ter presidido a OAB/SE no biênio 1968/1969, foi eleito Conselheiro Seccional para o biênio 1970/1971, sendo um dos mais votados. Também foi conselheiro no biênio seguinte, desta feita, sendo o mais votado. Nos biênios 1973/1974, 1975/1976 e 1977/1978, seguiu como conselheiro da OAB/SE.
Já em 1992, tomou posse no Conselho Federal da OAB. Exerceu também importantes funções nas Comissões Temáticas da OAB/SE, a exemplo da Comissão de Assuntos Históricos e Culturais. Atualmente é membro honorário vitalício da OAB/SE. Ele recebeu inúmeras e importantes honrarias, dentre as quais destaco a Medalha Pontes de Miranda, a mais alta condecoração concedida pelo Tribunal Federal da 5ª Região.
SÓ SERGIPE – Entre 1968 e 1969, Rochinha foi presidente da OAB Sergipe. O que houve de relevante nesta gestão e que vale o destaque?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Presidiu a OAB/SE em um dos seus períodos mais difíceis, ou seja, por ocasião da instituição do AI-5, o ato mais repressivo da ditadura militar do Brasil. Foram tempos de muita preocupação e incerteza, necessitando a OAB/SE, naquele trágico período, estar sob o comando de um líder nato, forte, audaz, preparado e suficientemente corajoso para enfrentar dias dos mais nebulosos da história nacional.
SÓ SERGIPE – Com um extenso currículo, acredito que entre os casos defendidos por Rochinha haja algum pitoresco. Qual seria?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Sem dúvida alguma Dr. Rochinha possui um extenso currículo jurídico, afinal de contas foram 64 anos de dedicação à advocacia. Além de assessor jurídico do Banco do Brasil, paralelamente advogou e prestou consultoria jurídica para diversas instituições, empresas e grupos econômicos. Foram milhares de processos ao longo dos anos.
Também desenvolveu estudos com juristas de renome nacional, a exemplo de Orlando Gomes e J.J. Calmon de Passos. São diversos os casos que aqui mereceriam destaque, mas ressalto o primeiro processo em que o causídico atuou que consta das páginas 148/149 de sua biografia, por configurar-se como uma das mais belas histórias de humildade, generosidade e humanismo que conheço. Deixo, por óbvio, de aqui discorrê-la para que o leitor desta matéria possa conhecer por completo sua obra.
SÓ SERGIPE – Rochinha tem 95 anos de idade e 73 anos de vida maçônica. O senhor dedica um capítulo do seu livro para contar essa história, não é?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Dr. Rochinha festejará 96 anos no próximo dia 7, ou seja, no dia do lançamento de sua biografia. Em janeiro deste ano, completou 73 anos de vida maçônica. Por ter dedicado grande parte de sua vida na defesa e difusão dos princípios e ideais maçônicos, sua biografia não poderia deixar de reservar ao menos um capítulo para narrar a história do maçom regular ativo mais antigo do Grande Oriente do Estado de Sergipe.
Assim, o capítulo VI traz robustos depoimentos de seus irmãos maçons que o consideram um dos mais importantes quadros da Maçonaria de Sergipe, além de um dos episódios mais emblemáticos da história da maçonaria sergipana. Trata-se de um daqueles fatos que literalmente acontecem apenas uma vez a cada 100 anos.
SÓ SERGIPE – O senhor é advogado, analista judiciário do Tribunal de Justiça de Sergipe. Em algum momento a sua vida se encontra com a do seu biografado?
MARCO ANTÔNIO CAMILO -Escrever a biografia de José Francisco da Rocha foi indubitavelmente um grande presente. Tenho a felicidade de gozar da amizade do biografado desde a tenra idade. Dr. Rochinha praticamente me viu nascer e crescer. Meus pais possuíam uma casa de veraneio na Atalaia que a parte dos fundos fazia fronteira com a residência do Dr. Rochinha.
Os anos se passaram, a maturidade chegou, família constituí, avô me tornei e biógrafo hoje sou. Confesso que no melhor dos meus sonhos jamais imaginaria que um dia teria a honra de escrever a história de um certo senhor de estatura baixa, passos curtos, voz marcante, que embora tratado sempre por doutor era muito simples e gentil, pessoa por quem meus genitores, Juarez e Consuelo, tinham muito apreço, e que este autor desde criança acostumou-se a chamar de Dr. Rochinha.
SÓ SERGIPE – O senhor tem uma vasta carreira literária. Do primeiro livro, ‘Histórias em versos – Um presente de Deus”, lançado em outubro de 2013, acredito que o senhor já escreveu sete livros. Neste número está incluso essa biografia?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – São sete livros, iniciando no campo do versejar com “Um Presente de Deus – Histórias em Versos” escrito em 2013; “Contos de Pérola”, 2016; e as biografias, “Getúlio Sávio Sobral – Fé, Trabalho e Perseverança”, 2018, e “Elysio Carmelo, Um Homem Admirável”, 2019. Já em janeiro deste ano lancei “A Família do Coração Imaculado de Maria no Brasil”, obra que foi traduzida para o idioma italiano. Assim, “Rochinha, Decano da Humildade” surge como meu sétimo livro e quarta biografia.
SÓ SERGIPE – Então biografias é o seu forte?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Sem dúvida alguma hoje me considero um biógrafo, uma vez que assim estou sendo reconhecido. Em virtude de convites já formulados, provavelmente nos próximos dois anos histórias de notáveis sergipanos serão conhecidas pelo grande público.
SÓ SERGIPE – O senhor é um dos imortais da Academia Sergipana de Letras, ocupa a cadeira 31, que teve como patrono Dom Luciano Cabral Duarte. Esse é o caminho para chegar à Academia Brasileira de Letras?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Na verdade sou integrante do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho – MAC, da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira 31 que tem como patrono Dom Luciano José Cabral Duarte. Não integro, portanto, o sodalício da ASL. Todavia, sou imortal da Academia Literocultural de Sergipe – ALCS, ocupando a cadeira 13 que tem como patrona a Professora Maria Consuelo Camilo dos Santos. Na verdade, nunca almejei e nem persigo a imortalidade literária. Meu objetivo único é sempre presentear os meus leitores com boas histórias.
SÓ SERGIPE – Para terminar, lembro do poema “Por quê?”, feita em 1981 e que está em seu primeiro livro, e no poema o senhor faz contrapontos bastante reflexivos. Mas, por que tantas perguntas?
MARCO ANTÔNIO CAMILO – Porque a vida é um eterno contraponto, um misto de semelhanças e contrastes. Um exercício constante de perguntar e responder. Bem assim como o dileto jornalista aqui, generosamente, faz com este agradecido escritor.