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Por Luciano Correia (*)

 

O tempo e a perda das ilusões caminham juntos com nossa idade. À medida que vão avançando, vamos ficando mais pessimistas ou céticos. A prudência recomenda não se abalar com tudo, nem se empolgar com pequenas coisas. A vitória da esquerda na França no último final de semana não muda substancialmente o quadro sombrio que a política nos oferece na Europa e em quase todo o mundo. A líder fascista Marine Le Pen, inclusive, avisou: nossa vitória foi só adiada. E é bem possível. Mas isso são outros quinhentos. Antes que anoiteça novamente, temos quase que uma obrigação moral em celebrar a conquista do domingo, até para que seja brandida como recado simbólico para sociedades selvagens como essa que ora prevalece nesses nossos tristes trópicos.

Os resultados desse segundo turno francês, ou a lição das urnas, como diziam os editorialistas de antigamente após a abertura das urnas, é o recrudescimento da disputa, tornado evidente no fortalecimento dos dois polos opostos: extrema direita e esquerda comunista. No meio disso, o governo de Emmanuel Macron, que encolheu enormemente de tamanho e se afunda ainda mais na sua barafunda. Macron encarna o que há de pior na política, esse arremedo de liberal que não pratica o liberalismo, senão as receitas do neoliberalismo que precariza a cada dia a vida de trabalhadores e da maioria da população. Uma direita velha e conservadora cinicamente disfarçada de centro, com eventuais flertes com os socialistas, que, na França, significa o nada vezes nada.

Macron, além de tudo, é um terrorista que explora o medo como mecanismo de dominação e sobrevivência política. Já falou em guerra com a Rússia, mandou dinheiro e ajuda militar para o governo psicopata de Israel e endurece a cada dia a perseguição aos imigrantes. E o problema da imigração é que esses estados europeus, todos com uma população infértil e envelhecida, precisa dos latinos e dos negrinhos da África para a construção civil e para limpar suas privadas, coisa que um francês “puro sangue” não quer nem ouvir falar. O resultado disso tudo, para a França, Alemanha e Reino Unido, é que a velha e poderosa Europa perde protagonismo a cada dia, ainda mais tutelada pela Otan e Estados Unidos. Caminham rápido para a decadência, numa proporção ainda maior do que o próprio Império, os Estados Unidos, cuja arrogância não os fazem aceitar a hegemonia do novo grande ator mundial, a China.

Velho e cansado de guerra, eu vinha como aquele célebre partido de esquerda cuja principal joia teórica consistia no enunciado “Quanto pior, melhor”. Em boa matemática: queria ver o circo pegar fogo, justamente a partir de onde a agonia se anuncia, o eixo Washington-União Europeia. Mas recentemente tomei a arriscada providência de botar mais um filho nesse mundo doido, de modo que agora tenho que engrossar o coro dos penitentes, rezando por alguma sobrevida para este Planeta doente e seus habitantes intoxicados. Isto significa que, como cantava Raul, já não tem como parar o mundo para eu descer. Os ocorridos na França nos trazem uma brevíssima luzinha no fim desse túnel de dissabores, sem muita certeza de que funcionará como centelha para um mundo carente de esperanças, nem que sejam só sonhos e esperanças. Porque, de fato, não temos planos B, C, D ou qualquer outro em cogitação.

 

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Luciano Correia

Jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

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