Por Jorge Carvalho do Nascimento (*)
Tenho assistido estarrecido o anacrônico debate que se estabeleceu em Sergipe, nas últimas semanas, em torno do Largo da Gente Sergipana, a ser inaugurado no próximo dia 17 de março, aniversário da cidade de Aracaju. Como exerço o cargo de Secretário de Estado da Educação, tenho me furtado a falar sobre o tema, mesmo quando leio comentários absolutamente despropositados e publicados com a visível pretensão de confundir o leitor e difundir informações inverídicas. Tenho lido muitas manifestações, compreendendo perfeitamente que boa parte delas está equivocada, apesar de escritas com sinceridade, enquanto algumas poucas são movidas pelo oportunismo próprio de anos eleitorais como este 2018. Respeito todas elas, mas resolvi lembrar da transitoriedade da minha condição de membro do Poder Executivo e da opção perene que fiz profissionalmente como professor e pesquisador das práticas de transmissão da cultura e também me manifestar nessa polêmica artificial.
Quem primeiro chamou a atenção para a grandeza dos folguedos populares de Sergipe foi Silvio Romero na sua História da Literatura Brasileira, publicada no século XIX. Romero chegou a ser ridicularizado por intelectuais portugueses em face da publicação do seu trabalho e por intelectuais brasileiros claramente filiados ao pensamento conservador português. O século XX trouxe consigo inovações tecnológicas como a energia elétrica, o cinema, os grandes shows e espetáculos teatrais, o rádio e depois a televisão, a multiplicação da circulação de livros, jornais e revistas. Enfim, formas alternativas de lazer e expressão da cultura que secundarizaram a atenção aos folguedos do povo. Na metade do século XX, outros estudiosos como Carvalho Déda, com as suas Brefaias e Burundangas do Folclore Sergipano voltaram a chamar a atenção para o fenômeno das manifestações populares.
Os grupos que expressam a cultura popular de Sergipe estavam se esfacelando e desaparecendo quando, na metade da década de 70 do século XX, durante o Governo José Rollemberg Leite, com o apoio do Secretário da Educação Everaldo Aragão Prado, estudiosos e agentes públicos como Antônio Garcia Filho, presidente do Conselho Estadual de Cultura, Luiz Antônio Barreto, gestor da política cultural do governo sergipano, Jackson da Silva Lima, presidente da Comissão Sergipana de Folclore, e Beatriz Goes Dantas, membro da Comissão Sergipana de Folclore, dentre outros tantos, resolveram se debruçar sobre a questão dos grupos da cultura popular do Estado de Sergipe. Foi o segundo grande momento da História no qual a cultura do povo foi objeto de atenção de modo sistematizado. Naquele momento, com reflexão que se transformou em ação.
Por iniciativa direta de Luiz Antonio Barreto e Antonio Garcia Filho, o Governador José Rollemberg Leite e o seu Secretário da Educação, Everaldo Aragão Prado, assumiram a proposta de organização do Encontro Cultural de Laranjeiras, em 1976. A eles se somou o prefeito de Laranjeiras, José Macedo Sobral. A ideia entusiasmou Bráulio do Nascimento, presidente da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. A iniciativa fez com que vários agentes econômicos e o próprio governo voltassem a estimular a organização de grupos folclóricos. Muitos deles, já inativos, se reorganizaram e voltaram a se apresentar com regularidade. Além disto, se multiplicaram nos anos seguintes oficinas, cursos, exposições, feiras de artesanato, apresentações teatrais, exibições musicais e outras atividades de valorização do folclore e da cultura popular de modo mais amplo.
Estamos agora iniciando um terceiro e importante ciclo de estímulo a perenização do folclore sergipano. Fez muito bem o governador Jackson Barreto ao acatar a sugestão do arquiteto Ézio Déda para construir o Largo da Gente Sergipana. Fizeram bem o Secretário de Estado da Cultura, João Augusto Gama da Silva, e o membro do Conselho Estadual de Cultura, Irineu Fontes, que ao lado do Presidente do Banco do Estado de Sergipe, Fernando Mota, abraçaram a proposta. O Poder Executivo Estadual assumiu a responsabilidade pela execução das obras de infraestrutura do Largo enquanto o Banese assumiu os custos do embelezamento artístico do monumento. O arquiteto Ézio Deda que propusera ao saudoso governador Marcelo Déda a organização do Museu da Gente Sergipana, também financiado pelo Banese, propôs ao governador Jackson Barreto que o Largo da Gente Sergipana fosse erguido no mesmo espaço urbano, pairando sobre as águas do rio Sergipe.
Há um fato novo, já destacado em lúcido artigo da cantora Amorosa. Pela primeira vez a estatuária sergipana abre um grande espaço para as manifestações da cultura popular. As imagens dos filhos da elite substituídas pela representação da cultura do povo, representada pelas figuras do Bacamarteiro, do Barco de Fogo, do Cacumbi, da Chegança, do Lambe Sujo e Caboclinho, do Boi de Reisado (que a ignorância de alguns e a má fé de outros confundem com o Boi Bumbá da cultura maranhense), o São Gonçalo e a Taieira.
Outra vez invoco a observação da cantora Amorosa, para concluir: talvez o que efetivamente incomode seja o fato das expressões do povo estarem ali num espaço privilegiado, amplificadas em tamanho e acabamento artístico suficientes para ser importante atração turística gritando bem alto aos ouvidos elitistas (mesmo os daqueles que supostamente falam em nome da gente simples) que a cultura popular sergipana agora está perenizada também em praça pública.
(*) Jorge Carvalho do Nascimento
Professor Aposentado do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe
Membro da Academia Sergipana de Letras
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