Por: Antônio Carlos Garcia
Naquele sábado, todos os caminhos estavam traçados para levar aquela família ao jantar em comemoração pelos 61 anos de fundação da Loja Maçônica Clodomir Silva, em Aracaju. Mas o que ninguém jamais poderia imaginar é que uma história surreal, inverossímil, fosse acontecer no final daquela tarde e mudar, radicalmente, os planos daquela família. Ao invés da Festa Branca, como são conhecidas as confraternizações da Maçonaria, onde não maçons podem participar, o protagonista dessa história, acompanhado da esposa, foi parar nas mãos dos Jalecos Brancos, ou seja, dos médicos. Mas por quê? Porque ele foi atacado por dois gatos endemoniados, quando passeava com sua cadela Cristal pelas ruas do bairro onde mora, enquanto a esposa e o filho se aprontavam para a festa da Loja Clodomir Silva.
O “normal” era que Cristal, ao avistar os gatos escondidos embaixo de um carro, os afugentasse. Mas nem ela e nem seu dono contavam com a reação dos bichanos que, ao serem importunados, partiram para briga, soprando, desferindo golpes com as garras e as unhas afiadas. Foram alguns segundos que pareciam uma eternidade, pois o protagonista ao proteger Cristal, puxava-a pela coleira de um lado para outro, mas o ataque dos bichanos era insistente.
Era o MMA entre gatos, a cadela Cristal e seu dono. Num determinado momento, o protagonista, instintivamente, para se defender, chutou um dos gatos que foi parar no outro lado da rua, enquanto outro fugia. Mas o gato que levou o golpe, não se deu por vencido e voltou. Ficou em posição de ataque aguardando uma revanche, que não aconteceu, pois o cachorro e o seu dono assustados seguiram continuaram o passeio.
A cadela Cristal saiu incólume dessa contenda e passeava como se nada tivesse acontecido. Mas o seu dono começou a sentir um incômodo na perna e ao olhar, descobre os ferimentos causados pelos arranhões e mordida. Antes de chegar em casa, passou na Delicatesse Pão e Leite, onde Alex e seus amigos tinham assistido, de camarote, aquele MMA. Diligente, Alex orientou o lutador a lavar os ferimentos com sabão de coco, fornecidos gentilmente, e depois ir até uma farmácia. Em casa, ao narrar tão incrível história à mulher e ao filho, esta o aconselhou a ir ao médico. Afinal, os gatos, aparentemente, não tinham dono. Poderiam ser um sem teto. E sem vacina.
Mas o protagonista foi à Farmácia Drogasil, na Hermes Fontes, e a farmacêutica disse que o ideal era ir a um médico.
A saga continua…
Pouco antes das 19 horas, eis que o cidadão chega ao Hospital Unimed, pois paga o plano de saúde, cujo valor lhe sangra sem piedade o bolso, a médica o atende, ri da história e diz que ali e em nenhum hospital particular, existe vacina antirrábica, e o encaminha para o serviço público. Como não tem? Indaga. Ela não tem reposta e prescreve uma injeção contra o tétano, no bumbum.
Depois, o cidadão vai para a unidade de urgência municipal, Nestor Piva. em busca da vacina antirrábica e toma mais uma agulhada, desta vez no braço. Mas ainda restava um soro, que só havia no Huse, cujo cenário dos estropiados que chegam lá por segundo, inspiraria Dante Alighieri, se vivo fosse, a reescrever o Inferno na sua Divina Comédia.
E no Huse foram mais três injeções: duas no bumbum e outra na coxa esquerda. Total de agulhadas: cinco. Tudo isso demorou sete horas para ser resolvido: das 18 horas do sábado a uma hora da manhã de domingo. Poderia ter sido mais rápido, se no Nestor Piva houvesse o medicamento que o sujeito é obrigado a tomar, depois da primeira dose da vacina, mas estava em falta, para variar. Esse foi um périplo necessário, mas desgastante.
Agora, um parêntese para contar detalhes dessas injeções: na primeira, na Unimed, a agulha estava afiada e a perfuração doeu menos. Nos dois hospitais públicos, que todos os mantêm através de impostos, as três agulhas estavam cegas (informação dada pelos enfermeiros que aplicaram as injeções) e doeu bastante.
No day after desse MMA inusitado, o protagonista voltou à Pão Leite para agradecer o apoio e pagar pelo sabão de coco, já que, por conta da violência, o cidadão passeia com o cachorro sem levar dinheiro, relógio de pulso e telefone celular, pois nunca se sabe quando ladrão vai te encontrar.
E na conversa com Alex e os amigos dele, na Delicatesse, uma novidade. O gato, como bom lutador seguiu seus desafetos com olhar desafiador até eles desaparecerem no final da rua. O olhar do felino amedrontou, ainda, uma senhora que também passeava com um cachorro naquele momento. Para proteger o cão, do gato, ela o colocou no colo.
Não se fazem mais gatos (ou cachorros?) como antigamente…
Ah, ainda faltam mais três doses da vacina antirrábica a serem tomadas, no Nestor Piva, onde as agulhas são cegas. Mas é melhor não sofrer por antecipação e ter em mente que tudo poderia ter sido bem pior.
Isso aconteceu comigo, minha cadela Cristal e os gatos briguentos.
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