Por Jader Frederico Abrão (*)
A decisão por utilizar o Livro de Rute que integra o corpo de Obras Bíblicas, especificamente compondo o Velho Testamento, não a faço nesta oportunidade com o intento de doutrinação dogmática, mas por referência e destaque a valores tão necessários que determinam prioritariamente a plena saúde de qualquer instituição, seja um país, uma empresa, uma associação sem fins lucrativos, ou, a nossa própria família.
O que é saudável para os nossos núcleos sociais está intimamente dependente do nível de saúde encontrado nos nossos próprios COMPORTAMENTOS morais, sociais, intelectuais, emocionais e espirituais, e o nosso comportamento quando saudável, assim está, porque se alimentou da DECISÃO efetiva pela Virtude, como prioridade sobre todos os vícios.
Algo considerado como prioridade ou de grande valor para uma pessoa, talvez não represente tanto valor para outra. Isso, a depender da sua faixa etária, do histórico vivido e ainda por viver, dentre outros fatores. Mas, cada um – homem ou mulher – à sua perspectiva, valorizará algo segundo aspectos de prioridade, e isso, por consequência, deveras influenciará de maneira individual ou social, no nível de felicidade ou de tristeza, de inutilidade ou utilidade, de participação nas más condutas ou nas boas, de punições ou de exaltações, de derrotas ou de vitórias, de pessimismo ou de otimismo, de destruição ou de construção. Tudo sempre dependerá do que escolhemos como prioridade.
A título de reflexão, consideramos que o Maçom que deixa a maçonaria entrar em si, deve trabalhar para acostumar o próprio espírito a curvar-se às grandes afeições e a não conceber senão ideias sólidas de bondade e de Virtude, porque é só regulando os nossos costumes pelos princípios eternos da Moral, que poderemos dar à nossa alma esse equilíbrio de força e de sensibilidade que constitui a sabedoria, ou, antes, a ciência da vida. E isso deve reinar no campo das PRIORIDADES.
O Livro de Rute retrata os comportamentos iluminados e virtuosos que devemos priorizar e que levam qualquer homem e qualquer mulher à condição de CONSTRUTORES SOCIAIS, apesar de todos os infortúnios e de todas as resistências, inclusive as sociais e culturais.
A Obra Bíblica inicia contando a história de um casal – Elimeleque e Noemi -, que fugindo de sua terra natal devido à fome, foram viver nas terras de Moabe com seus dois filhos – Malom e Quiliom. Após algum tempo Elimeleque veio a falecer. Pouco tempo se passou e os dois filhos se casaram com duas mulheres Moabitas – Orfa e Rute.
Quase 10 anos se passaram e algo terrível aconteceu, Malom e Quiliom também faleceram, deixando as três mulheres viúvas. Noemi abençoa e ordena que as noras voltem para as suas famílias, deixando-a sozinha. Rute não aceita abandonar à própria sorte aquela mulher de idade avançada, decidindo honrá-la, protegê-la e acompanhá-la de volta a Belém de Judá, terra natal de Noemi, onde o Senhor Deus de Jerusalém voltara a abençoar com muito trabalho e muita fartura. Rute disse: “Não insista comigo que te deixe e não mais acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares, ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus!”
Orfa, ao contrário, abandou as duas mulheres e retornou à sua família para se casar novamente.
A viagem foi longa, cruel e realizada a pé, as duas mulheres chegaram ao destino em época de colheita da cevada. Rute logo arrumou trabalho nas lavouras de Boaz, homem valente e poderoso, da família de Elimeleque.
Boaz sempre justo e caridoso, respeitado por todos, crente no Deus único e vivo de Israel, com sua fé inabalável, muito trabalhador, dava oportunidades a todos e pagava corretamente pelo serviço prestado, o que naquela época e região, eram comportamentos raros. Boaz sempre cuidava pela boa alimentação e pela hidratação daqueles trabalhadores. Ele não permitia que homens abusassem das mulheres e os separavam na lida do trabalho diário.
Rute se desdobrou na colheita e Boaz logo se encantou, admirado pelo comportamento vencedor e honesto daquela mulher que havia recém-chegado dos campos de Moabe em companhia de Noemi. Boaz sabia que Rute havia desistido do retorno ao conforto e à segurança de sua família, e mesmo fragilizada pela viuvez, teria honrado e protegido a própria sogra após perder o marido e os filhos. Então Boaz diz à Rute: “O Senhor retribua o seu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.”
Rute apresentava comportamento de dignidade e de humanidade em todos os seus atos, até mesmo quando após um longo dia de trabalho se dignava em guardar comida para agraciar a ceia da sua sogra. Noemi orientava Rute com muita maturidade e experiência, e a precavia quanto aos aspectos da cultura local.
Com o passar do tempo, Boaz percebendo o quanto Rute era uma mulher virtuosa, honrada e leal, a desposou. Logo tiveram um filho – Obede – que teve Noemi como a sua ama e que futuramente seria o avô de DAVI.
Essa história bíblica demonstra o perfil do casal que deve existir como regra na família maçônica. Rute, uma mulher que mesmo estando totalmente desprotegida e fragilizada, conseguiu proteger, acolher, honrar, sendo leal aos seus e a Deus. Boaz, em tempos difíceis e de raros valores morais, grande negociante e agricultor, se comportava com extrema honestidade, respeito e independência moral, fazendo justiça e promovendo o progresso de todos através do trabalho. Deus os abençoou por isto!
Boaz decidiu desposar Rute pelo seu COMPORTAMENTO que expressava solidamente valores nobres espirituais, morais, intelectuais, emocionais, diferentes à seca condição ética daquela população.
Por todos esses exemplos, a urgente reestruturação moral a ser realizada nas instituições, nunca nos foi tão prioritária. Devemos entender que as amarguras e os desafios existentes nos dias atuais, estão dependentes e ligados umbilicalmente com as essências advindas dos comportamentos individuais das pessoas envolvidas. Não existe pequeno pensamento, palavra ou diminuto ato, que não influencie diretamente na saúde das instituições e das pessoas. O Grande Arquiteto do Universo quer também nos HONRAR e nos ABENÇOAR através da nobreza dos nossos comportamentos e pensamentos, como o fez com Boaz e Rute!
Perante todo o cenário atual é preciso que nos perguntemos: O que diferencia um Maçom para destacar-se dos demais a ponto de nominá-los de profanos? Seria a figura de Boaz uma bela alegoria e um exemplar símbolo de comportamento reto, virtuoso e sagrado? O que significa cavar masmorras aos vícios e levantar templos à virtude? O homem e/ou a mulher só serão consagrados por seus comportamentos e pensamentos sagrados? Teria Rute as qualidades que tanto necessitamos enxergar nas nossas esposas, que sempre lideram grupos e atividades sociais e familiares? Estamos nós e as nossas esposas, alinhados com os comportamentos de Boaz e de Rute? Buscamos Deus constantemente? Sacralizamos cada momento de nossas vidas agradecendo ao Grande Arquiteto do Universo por cada oportunidade vivida? Somos bons exemplos e repassamos ensinamentos para os nossos filhos sobre a necessidade de sacralizar nossa saúde, nossos momentos em família, nosso trabalho, nossa educação, os mais velhos, a vida, as nossas relações sociais que devem ser bem escolhidas? Somos virtuosos perante a ignorância, os preconceitos e os erros, ou nos sucumbimos a descer ao mesmo nível da intolerância e do atraso que sempre criticamos?
Qual é o comportamento que o casal da família maçônica deve nutrir e conservar, sendo estes escolhidos para a função maçônica de CONSTRUTORES SOCIAIS? Nos sentimos responsáveis pelos menos favorecidos, pelos menos esclarecidos? Qual o nível de compromisso temos com o próximo? Aquele mesmo da Parábola do Bom Samaritano.
Percebemos nos outros a omissão, a preguiça, a indisciplina, os defeitos… E em nós? Vigiamos? Oramos? Agimos? Estudamos? Controlamos e guiamos com firmeza os nossos pensamentos sob o compasso da virtude?
Boaz e Rute foram CONTRUTORES SOCIAS em seu tempo! Ergueram todas as pontes da honestidade e da virtude humana, unindo as pessoas e gerando progresso na sociedade! Boaz e Rute, ergueram vidas, multiplicaram a palavra do Deus único e vivo, e estes comportamentos os destacaram aos olhos de Deus! Deus os abençoou!
Cada casal da nossa família maçônica é uma célula de CONTRUTORES SOCIAIS, as nossas virtudes e a nossa fé, o nosso compromisso com o Grande Arquiteto do Universo, representados pelos nossos comportamentos, são luzes aos olhos de Deus, alimento sagrado aos corações que sofrem e bálsamo benfazejo que mantém as instituições virtuosas, úteis e Abençoadas pelo Grande Arquiteto do Universo!