Por Léo Mittaraquis (*)
“Tive dificuldade em encontrar muita coisa na cozinha de Judith que parecesse vir de algum dos catálogos que lotam a maioria de nossas caixas de correio. Tudo é resistente e bem utilizado, sem ser complicado”
Sara Kate Gillingham, fundadora do blog The Kitchn
O título deste artigo é um descarado plágio. “O milagre nascido da dor” é título de um ensaio sobre Katherine Mansfield, escritora inglesa, pela qual sou apaixonado, publicado ao final do decênio 70. E que também tem tudo a ver com culinária. Katherine Mansfield, também segundo o supracitado ensaio, em tempos de quase extrema pobreza e dolorosa solidão, durante determinado período, assava arenques valendo-se de pequenos fogareiros, não raro em becos frios e sujos.
A eclosão da Primeira Grande Guerra também a afetou de maneira profunda e dolorosa.
Faltava de tudo, principalmente comida.
Ela que, por melancólica ironia, mantinha perspectivas paralelas quanto ao significado de escrever e de comer.
Talvez, mais adiante, haja eu por bem escrever sobre isto.
Voltemos a Judith Jones, que nasceu em 1924 e faleceu em 2017: no caso dela, a dor se refere ao fato de ter ficado viúva. Estava acostumada a cozinhar para o companheiro. E isto durante décadas.
Além disso, seu marido, Evan Jones, atuou como coautor de algumas publicações culinárias.
Ela mesma confessa que, após a morte do esposo, viu-se em dúvidas se voltaria a cozinhar. Mas entendeu que poderia cozinhar só para si mesma, e encontrar nesta atividade motivos de contentamento e alegria.
A propósito: sua habilidade não se restringiu apenas à produção de livros de culinária. Antes de disso, já como hábil e sensível editora, “desenterrou” e defendeu vivamente um manuscrito que se encontrava numa pilha de documentos e livros velhos destinados ao descarte: o diário escrito por uma jovem alemã que morreu no Holocausto. Nada mais, nada menos do que o Diário de Anne Frank.
Era cozinheira e, em simultâneo, leitora atenta e de alto nível intelectual.
No que diz respeito ao livro desta notável mulher, ao qual dedico o presente artigo, diria, antes de tudo, que é uma obra de importância fundamental para quem quer aprender a cozinhar apenas para si, levando em consideração quantidade, variedade, possibilidades. Até porque o livro nasceu dos questionamentos, das consultas, dirigidos à autora. Segundo Jones: “Fiquei particularmente feliz porque jovens que moram sozinhos me abordaram pela primeira vez, me perguntando como começar e quais conceitos e utensílios básicos deveriam ter”.
O livro é dividido em seis seções: 1ª — Cozinhando durante a semana; 2ª — Sopas para todas as estações; 3ª — A magia dos ovos e a sedução dos queijos; 4ª — Improvisando com hortaliças, saladas e molhos; 5ª — Arroz, massas, grãos e leguminosas; 6ª — Lanches, doces e extravagâncias.
Creio que seja o bastante para induzir ao leitor sentir água na boca e ouvir a barriga roncar.
Quanto ao conceito geral da obra, a autora nos brinda com reflexões ao mesmo tempo funcionais e poéticas: “Geralmente finalizo meu jantar com um bom queijo e algumas frutas. Mas, às vezes, tenho vontade de comer algo doce, principalmente uma sobremesa caseira que evoque lembranças gustativas tão fortes que, na primeira mordida, você se transporta misteriosamente”.
Culta e competente, Judith Jones demonstrou, ao longo de sua vida ativa e fascinante, que é possível exercer o rigor técnico sem renunciar ao amor puro e simples pelas coisas belas e boas da vida.
Sim, cozinhar deve ser, sempre que possível, um prazer. Seja para comer sozinho ou acompanhado.
Judith Jones nos presenteou com um guia fácil e prático. Resta-nos honrar sua memória seguindo suas sugestões e orientações.
Santé!
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