Sergipe precisa de maior sorte com ministros do atual governo federal. Há alguns meses, o ministro da Casa Civil do governo brasileiro, Onyx Lorenzoni, cometeu uma gafe agressiva contra a Universidade Federal de Sergipe com sérias reações da comunidade sergipana. Agora, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, deputado federal mais votado em Minas Gerais, coordenador no estado da campanha de Bolsonaro, indiciado sob acusação dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa, desdenha da tragédia ambiental no nordeste, e por conseguinte, de Sergipe. Ao sobrevoar o litoral de Pernambuco sexta-feira (25.10.19), para verificar a situação das praias nordestinas, desceu em Porto de Galinhas, ficou descalço e chegou a pisar no mar.
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Ali mesmo afirmou: “está completamente apto a receber os turistas”. Marcelo Álvaro tem mesmo toda a razão. Porto de Galinhas está limpo porque o óleo nunca chegou por lá. No entanto, dezenas de praias nordestinas foram afetadas com a chegada de petróleo, prejudicando o turismo, a economia e a saúde da população nordestina. Preferiu a praia limpa e desdenhou, afirmando que o povo poderia ir à praia ali. Ao invés de averiguar o conjunto da obra escondeu-se em um local isoladamente. Brincar com dinheiro público através da visita, brincar com o sofrimento do povo é papel de ministro de Estado?
Aprofundando o desdém reiterou: “o sobrevoo foi muito esclarecedor. As praias estão limpas e os banhistas estão frequentando normalmente sem problemas. Porto de Galinhas está completamente apto a receber os turistas”. Foi embora, nada fez em quase 60 dias do desastre ambiental. Atente-se que, numa palestra recente na Fundação Getúlio Vargas o presidente da Petrobras, uma das maiores empresas do mundo, afirmou que este é o maior desastre ambiental sofrido no Brasil que iniciou numa área de 600 a 700 km de distância da divisa Sergipe Alagoas. Mesmo assim, o ministro passeia, desdenha e vai embora. Desde 30/08/19, 283 localidades em 98 municípios de nove estados nordestinos estão sendo atingidos. Pasmem, segundo Ana Carolina Amaral do UOL em 01.11.19 o governo brasileiro “não convocou técnicos especialistas em óleo do Ibama do Ministério do Meio Ambiente…que acumula experiência com técnica e novas tecnologias usadas em planos de emergência contra vazamento de óleo”…
Por outro lado, a frase, “que eles comam brioche”(pão luxuoso, enriquecido com manteiga e ovos) com tradução francesa “qu’ils mangent de la brioche“, supostamente dita por uma princesa ao saber que os camponeses não tinham pão e passavam fome, tem uma triste semelhança. Historicamente discute-se a veracidade científica da autoria atribuída a Maria Antonieta, mas o fato demonstrava desrespeito da princesa em relação aos camponeses ante a ausência de alimentos básicos como o pão. Noutra hipótese, estudiosos atribuem à princesa espanhola que se casou com Luís XIV na década de 1660. Trazemos aqui a ideia do descaso, sem discutir a verdade histórica, assim como a semelhança do desprezo para com o interesse coletivo pelo gestor público.
Brioche contemporâneo? Não! Zombar, subestimar, humilhar seus semelhantes, apesar de séculos de distância. Fato é que, não poder pescar, prover o sustento, comer, não ter trabalho face à presença do óleo vai além de brioches porque destroem a possibilidade de adquiri-los, produzem sofrimento e miséria que requerem soluções e paliativos imediatos. Isto o gestor não se dignou. Verdade ou não sobre Maria Antonieta do século XVIII, certo é que existem semelhanças de condutas negativas do ministro. Seria virtuoso se fossem seguidos bons exemplos administrativos. Mais um ministro do governo brasileiro maltrata e despreza os nordestinos.
Merecemos algo melhor.
(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.
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