A história deve ser analisada pelo olhar e pelos valores do respectivo momento histórico independente de juízo de valor atual dos fatos. Repeti-la, somente em benefício do coletivo. No dia 6 de abril de 2020, neste endereço, tratamos do tema através do escrito “O antigamente, o hoje e a história”. Trazemos novas provocações.
Sem análise da literatura própria, comentaremos expressões contestadas por força da origem da palavra como argumento ideológico, político, religioso ou preconceituoso. Mulata vem mula: “não me chame de mulata… neguinha”. Sacanagem era relativo a sexo, hoje tem outras conotações. Pedagogo, na origem, era escravo que acompanhava as crianças à escola, hoje é educador(a). Devemos bani-la do vocabulário?
Na gestão pública, Getúlio virou presidente pelas armas entre 1930-1945 sem eleição e propôs a CLT vigorando até hoje. Essa lei deve ser descartada? Os militares ficaram 20 anos no poder, sem liberdade, eleição e com tortura. A construção do Batistão, Castelão, Rei Pelé e outras obras devem ser implodidas pelo fato de serem oriundas do regime militar? Governo FHC liderou o Plano Real que estabilizou a economia e o governo Lula retirou milhões da miséria social e educacional. Tais obras devem ser execradas da história?
Prefeitos quando assumem, mandam pintar bancos de praça para apagarem obras da gestão anterior. Programas e obras públicas de gestores anteriores têm que ser eliminados pelos novos gestores? A história deve ser mantida sem retoques de pessoas, gestores e aventureiros de plantão.
Na família, o filho que foi maltratado pela mãe deve deixá-la morrer na sarjeta? Se sim, como praticar solidariedade e respeitar na adversidade? Amantes vão aos píncaros do amor e depois na separação negam a beleza histórica de momentos ou anos de felicidade. Negar o passado é não dar vida à história. O que diria o poeta Vinícius ante sua afirmação sobre o amor: “ infinito enquanto dura”?
No esporte, Ronaldinho Gaúcho que alegrou com seu talento milhões de torcedores pelo mundo, preso no Paraguai, Garrincha mulherengo e amante de bebidas, Romário pelas suas fugidinhas da concentração, Pelé pela pouca atuação política, merecem desrespeito e exclusão por tais atos? Por outro lado, bicicletas alugáveis em ciclovias e coletivo com ar condicionado rejeitados por gestores seguintes de Aracaju exemplificam governantes punindo o povo e apagando a história.
Na cultura, Luís Gonzaga ícone da cultura brasileira deve ser condenado pela simpatia com os governos militares pós 64? Regina Duarte por assumir cargo no atual governo perde o reconhecimento de sua obra artística? “Amélia” de Mario Lago e “Mestiça” de Chico Queiroga, dentre tantas, não podem ser cantadas? As brincadeiras de Didi com Mussum não devem ser vistas? Desconstruir o passado real fere a história de uma época sem retoques.
Na ciência, o Geocentrismo, de Ptolomeu colocava a terra como centro, já o Heliocentrismo de Copérnico colocava o astro rei como centro. Estavam errados ante o modelo “Big Bang Quente” aceito por cientistas do universo em contínua expansão? Os mestres geniais não merecem a avaliação do erro. Suas verdades científicas foram modificadas ao longo do tempo. A verdade científica perde seu efeito quando é sobreposta outra nova verdade.
E arquitetura milenar construída pela força de escravos tão contemplada no turismo? Não existe justiça para comparar quando não existem parâmetros iguais. No Brasil, após a proclamação da república, nomes imperiais de monumentos históricos foram substituídos por republicanos. Devem ser demolidos porque não atendiam ideologias de novos gestores?
Para o motor do conhecimento, pensar é seu combustível. Isso é o que nos distingue de outros animais. Produzir saber municia a ciência. É nas diferenças de argumentos que surge uma nova ideia. Impor o negacionismo é querer que nada se crie e tudo se repita patinando nos saberes passados que não voltam mais. Conviver nas diferenças deve ser constância na vida humana. Que as pessoas e governantes preservem a história como alma e unidade de cada povo. Confrontar fatos históricos reforça o ódio.
Comodidade, desconhecimento, fanatismo, interesse político sem lisura na criatividade, não permitem a preservação da imparcialidade na história, na gestão pública, na família, nas artes, no esporte e na ciência. Em quaisquer desses campos, quando se utiliza no presente, juízo de valores atuais para julgar fatos históricos, comete-se equívocos. Os parâmetros éticos e ferramentas atuais são distintos do momento em que ocorrerá o fato. Repito o mestre Pecorari: “é preciso olhar a história com os olhos da história”. Negá-la é fuga e temor. Respeitá-la é grandeza civilizatória.
(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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