O Brasil e suas gritantes diferenças Foto: Agência Brasil
Sem desigualdade social não há o Brasil que se conhece. Em seu nome golpes e fraudes foram promovidos. Desde Caminha, o país é projetado para ser injusto. Tanto o é que até aqueles que são alvos de seus efeitos, quando podem, no mais das vezes reproduzem essa realidade.
E toda a prática discursiva da sociedade é feita para legitimá-la. Assim, temas que seriam sadia e normalmente tratados numa sociedade menos injusta, tais como esforço, mérito e empreendedorismo, aqui são torcidos para justificar a Lei da Selva.
Com o agravante de que, por estas bandas, a desigualdade social é tratada como um tabu e, como todo segredo familiar, todos veem, todos sabem, mas ninguém comenta.
Por isso, o brasileiro médio prefere falar de corrupção, um assunto preguiçoso e de muito menor importância, que é mais consequência do que causa, sendo difuso e que transfere para os outros as responsabilidades.
A extrema desigualdade social é algo tão comum para o brasileiro médio que a sociedade não vê problema algum em que, no Brasil, a faixa populacional que está entre os 10% de maiores rendimentos ganhe treze vezes mais do que a massa que compõe os 40% de menor nível salarial.
Trocando em miúdos: enquanto alguns poucos ganham algo em torno de R$ 9,3 mil por mês, a grande maioria tem de sustentar a família com apenas R$ 720,00. Sim, menos de um salário mínimo.
Em Sergipe e na Paraíba, essa razão é de quase 16 vezes; no Piauí, o maior do país, vai a 18 vezes, e mesmo em Santa Catarina, o menor nível em todo o território nacional, essa proporção chega a sete vezes mais. Porém, não se tome isso como um fenômeno natural, pois isso, repita-se, é um projeto!
Numa economia que historicamente foi adaptada para fornecer produtos primários para os países centrais e que vem experimentando um dos maiores processos de desindustrialização da história da humanidade, só é possível garantir altos níveis de ganhos para as suas elites se for por meio da concentração de renda.
Os ‘passadores de pano’ desse cenário usam os níveis de produtividade do trabalhador brasileiro como justificativa para essa iniquidade. Segundo eles, como esse elemento produz pouco, tem que ganhar pouco mesmo. Mas isso não se sustenta!
Analisando-se dados para o período que vai de 1986 até 2015, é visto que a produtividade do trabalhador brasileiro – medida em dólares estadunidenses pela Paridade do Poder de Compra – está em níveis semelhantes ao de países como Albânia, Bulgária, Croácia e Romênia.
No entanto, nessas nações do leste europeu, o 1% mais rico abarca para si aproximadamente 6,8% de toda a riqueza, enquanto o 50% mais pobre percebe 26,5% dos rendimentos totais, em média.
Enquanto isso, no Brasil, a nossa elite econômica – o 1% mais rico – abocanha nada menos do que 28% da renda, restando para os 50% mais pobres tão somente 14% dos rendimentos. Sim, injustiça: a gente vê por aqui!
O Brasil é iníquo e injusto porque ele foi planejado para ser assim, e mesmo esforços para minorar esse quadro – como os promovidos entre 2003 e 2016 – foram contingenciais, pois, tais medidas vão contra aos interesses dos ricos. Aceita, que dói menos: Ricos preferem desemprego massivo a um cenário de pleno emprego.
No entanto, por uma questão básica de sobrevivência de um povo enquanto nação, esse processo precisa ser revertido. A história já mostrou que não basta apenas crescer, é mais do que premente a necessidade de distribuir. A Europa ratifica isso, não há como ser civilizado sem ser solidário. Não há como ser avançado sendo desigual.
Entretanto, isso muito dificilmente vai mudar enquanto o país não tomar consciência de que, ainda que seja moldado aos interesses da plutocracia rentista, esse contexto é fruto da ação de toda a sociedade que aceita e procura justificar esse estado de coisas.
Em suma, nada disso vai se alterar enquanto não for entendido por todo o povo que o verdadeiro problema do Brasil é a forma pela qual os seus ricos ficam ricos.
Emerson Sousa é economista
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