Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Quem é lembrado, nunca morre, faz parte de nossas lembranças.
Hoje, caso estivesse entre nós, minha mãe, Maria da Conceição Nunes e Silva, faria neste 23 de março, 91 anos.
Minha mãe partiu jovem, 43 anos, de morte súbita, dormindo, na madrugada do dia 02 de novembro de 1976; em um Dia de Finados. Dia criado pela Igreja Católica para lembrarmos os que partiram antes de nós.
A existência humana não é um repouso, uma calmaria, não é um jardim onde a tranquilidade floresce sem esforço, mas um campo de batalha onde cada dia se ergue como uma nova campanha, uma nova ofensiva contra as forças que nos desafiam. Ao nascermos, somos guerreiros convocado sem aviso, lançado ao tumulto de um mundo que não lhe concede tréguas, onde cada passo exige luta, e cada luta nos leva a novos desafios.
Professora primária, três turnos de trabalho, dona de casa, seis filhos para cuidar, o coração de minha mãe não aguentou a peleja, interrompendo sua existência precocemente, deixando toda uma vida pela frente.
Pessoas nunca existirão para sempre… Elas transmutam em um eterno agora diante dos aparentes ecos do passado, e de suas expectativas de um aparente futuro… A vida passa que nem o vento, só fica o que é sentimento.
Existem dores que só choram dentro de nós… em nós.
Ninguém vê. Ninguém escuta. Ninguém sente. São aquelas dores que não encontram palavras; que não cabem em explicações e que, por mais que o mundo siga girando, continuam gritando dentro de nós. Elas não precisam de plateia. Elas apenas existem: silenciosas, intensas, invisíveis, esmagadoras.
A gente aprende a conviver. Seguir em frente. A sorrir mesmo quando por dentro tudo está em pedaços. Mas a verdade é que certas dores não passam, apenas se tornam parte de quem somos.
O tempo? Ah, o tempo. Às vezes corre depressa quando queremos que ele passe devagar. Às vezes é lento quando queremos que ele passe logo.
Às vezes não reparamos nele. Ou só reparamos quando queremos revivê-lo.
Mas uma coisa é certa; ele, o tempo, volta.
“A memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como o vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos”, Adélia Prado, escritora mineira.
Ninguém sabe o valor de um momento até ele virar saudade. Hoje acordei com saudades de minha mãe; vasculho na memória fragmentos de tempos indeléveis, vividos com ela. Mesmo com tanto tempo decorrido, a memória me leva de volta ao passado.
Cresci vendo minha mãe superar obstáculos que a vida teimava colocar em seu caminho. Sua vida não foi nada fácil. Passou por momentos tão difíceis, mesmo assim se levantava todas as manhãs com alegria, energia e determinação, dando o melhor de si para nós, seus filhos. Hoje, no outono da vida, quando me acabrunho diante dos desafios, “não tenho problemas”, é dela que me lembro em primeiro lugar, de seu exemplo, assim, sigo em frente. Tem dias que penso que não há lugar mais seguro que a barra da saia de minha mãe.
Um dia eu quis ser gente grande para ser dono de mim, dono do meu nariz e fazer o que me desse vontade.
Hoje eu queria voltar a ser criança…
Não ser dono de nada além do abraço e do colo de mãe, queria não pensar em nada além da hora de brincar. E ter alguém que me dissesse com o coração o que é melhor pra mim.
Queria de volta esses pedacinhos soltos de felicidade e mais nada…
“Mamãe, mamãe, mamãe/ Eu te lembro o chinelo na mão/ O avental todo sujo de ovo/ Se eu pudesse, eu queria/ Outra vez, mamãe/ Começar tudo, tudo de novo.”, “Mamãe”, composta em 1959 por Herivelto Martins e David Nasser.
Querida mãe, você foi refúgio e fortaleza, que privilégio tê-la! Saudades.