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O que a prévia das eleições na Argentina nos ensina?

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Por Gabriel Barros (*)

No último domingo tivemos a prévia das eleições na Argentina e, para a surpresa da imprensa local, o candidato da extrema direita, Javier Milei obteve maioria dos votos – 30%. Muito embora o cenário seja imprevisível e sem garantia de vitória para o extremista, o resultado inicial nos demonstra lições para além daquilo que acontece no país.

O cenário político na América latina tem se notabilizado tenso; a violência e a exigência por mudanças de rumo têm sido cada vez maiores. Grosso modo, isso coloca às claras a instabilidade das chamadas democracias liberais, pois que, embora me refira ao contexto sul-americano, o que acontece na Europa e EUA não é muito diferente. Existe uma notória insatisfação com a política, que é facilmente cooptada por candidatos demagogos, eles (as) apresentam soluções fáceis e estúpidas para problemas complexos, se lançando como heróis messiânicos prontos para salvar a pátria.

Esse tipo de problemática nos coloca em urgente contexto de analisarmos a ascensão do (neo)fascismo nos últimos anos. Para tanto, trago reflexões do fundamental livro “Crítica do fascismo”, do jurista Alysson Mascaro. Neste, o pensador adverte que “não compreender a íntima conexão entre fascismo e capitalismo é desconhecer a plena possibilidade de sua recorrência.”

Diz ainda que “a posição crítica em relação ao fascismo, embora majoritariamente espraiada pelo mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial até hoje, é fingida ou frágil. Fingida da parte das classes burguesas e de seus asseclas que controlam a ideologia das sociedades capitalistas – parte dos intelectuais, os meios de comunicação de massa, as religiões, as forças armadas –, dado que, para a sustentação da exploração e da dominação do capital, essas classes e setores retornam sem peias a posições fascistas”.

Essas lições são das mais importantes para compreendermos não só as causas do (neo)fascismo, como a cínica “surpresa” dos veículos burgueses de comunicação. Ora, aqui no Brasil, a imprensa dizia ser uma escolha difícil entre votar em um fascista defensor da ditadura e um professor universitário democrata. Me parece ser esse o ponto que não podemos deixar passar despercebido.

Esse reacionarismo crescente é forjado pelo próprio modo de produção no qual estamos inseridos, fazendo com que, diante de tantas desgraças, tenhamos de recorrer a discursos fáceis, a fim de procurar soluções imediatas. No entanto, esse mesmo complexo produtivo gerido por tecnocratas, preferem fazer com que personalidades fascistas ascendam ao poder e, mesmo sabendo das nefastas consequências para maioria do povo, preferem ignorar ou fingir que não sabem de nada, haja vista que se beneficiam dessa dinâmica.

Nesse espeque, ainda que Milei não vença as eleições, deixa claro as condições de possibilidade que estão dadas para o (neo)fascismo vencer. É necessário pensarmos o papel de uma política conciliatória. Na Argentina e em praticamente todo lugar do mundo, as pessoas querem respostas concretas e objetivas frente as dificuldades cotidianas, e se, diante de uma crise, um governo de centro-esquerda, como é aqui e por lá, não apresentarem soluções, infelizmente viveremos em eterno looping entre conciliar e deixar sempre os donos do poder em boas situações, sem nunca avançarmos para um novo horizonte social, que é o reclame mundial.

Sejamos francos, ninguém mais suporta o capitalismo. Até mesmo a natureza já tem seu prazo, caso contrário, não será só um modelo político-econômico que deixará de existir, mas toda a humanidade. Ser anticapitalista é um ato humanitário, e, se quisermos extirpar esses falastrões que surgem em todos os cantos do mundo, eis uma medida imprescindível.

 

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Gabriel Barros

(*) Advogado e graduado em Direito Público

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