Por Edmar Nogueira da Rocha (*)
No começo era uma área de milhares de metros quadrados repleta de árvores, plantas – fauna e flora abundantes. Mas eis que vieram os tratores, as retroescavadeiras e toda sorte de equipamentos e derrubaram tudo. Transformaram num deserto, expulsando os animais que ali moravam. Acabaram com a beleza da fuana e da flora, vieram as obras de construção civil, ruas asfaltadas e casas. Tudo muito lindo para os humanos que passariam a habitar ali. Inclusive eu.
A vida animal desapareceu.
Com a chegada dos novos moradores, novas árvores foram plantadas, surgiram jardins, hortas nos fundos dos quintais e os animais começaram a reaparecer… Era a natureza demonstrando sua força, retomando o lugar que já lhe pertencia.
E, aos poucos, foram aparecendo pássaros como pardais, canários, gaviões, maritacas, bem-te-vis e beija-flores. As corujas e os quero-queros começaram a fazer ninhos pelo condomínio. Insetos como abelhas e marimbondos também ressurgiram. Foram aparecendo as lagartixas, os micos; e até mesmo uma raposa, um tatu já apareceram por aqui.
Mas, o capitalismo é assim.
Parem um pouco e pensem no que está acontecendo com o mundo, que está muito quente e que, se não for tomada uma providência, as correntes marítimas que controlam a temperatura, entrarão em colapso em 2025.
Voltando ao condomínio. Seis anos depois da sua inauguração, a natureza, com muito esforço, vem dando seu show de força e resiliência. Até porque, o ideal era o homem buscar uma convivência pacífica com os outros seres, nunca expulsando-os em detrimento da vil moeda.
Um dia desses, apareceu um sabiá que todos os dias, pela manhã e ao entardecer, dá o seu show de canto limpo, lindo, robusto e encantador. Ele costuma pousar no alto dos postes, talvez por ser o lugar mais alto do condomínio, e ficar por ali tempos e tempos, cantando, saltando, se divertindo. O som do seu canto pode ser ouvido ao longe, para o deleite de todos os moradores…
Entretanto já fiquei sabendo que alguns vizinhos, sabe-se lá que espíritos habitam tais corpos, estão montando seus alçapões, suas armadilhas para capturar o bichinho.
Eles não entendem que, se for para gaiola, talvez esse pássaro não cante nunca mais. E mesmo que cante, cantará apenas para o deleite dos ouvidos daquele que o enclausurou e não mais para toda a comunidade. Além disso, não encontrará uma fêmea e não poderá acasalar e nem reproduzir. Isso acarretará a aceleração da extinção da espécie.
Fazendo conexão desse fato com a Maçonaria, lembro-me de que nosso lema é Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Liberdade no sentido individual ou coletivo. Liberdade de expressão e de movimento. Igualdade de direitos e obrigações, quer no aspecto individual quer no coletivo. Fraternidade entre todos os homens e todos os povos, porque todos nascem livres e iguais em direitos, obrigações e em dignidade. Um alto espírito de fraternidade inspira os atos da maçonaria.
O meu amor pela natureza e meu espírito maçônico me deixam bastante preocupado com o futuro do pássaro cantador. Essa preocupação me inspirou a escrever este texto. Espero que ele possa fazer meus vizinhos e todos os que o lerem refletirem a respeito do aprisionamento dos pássaros.
Em alguns estados brasileiros já existe legislação que proíbe a manutenção de pássaros em cativeiro. Quem sabe? Talvez esse texto possa chegar nas mãos de um vereador ou deputado sergipano e possa inspirá-lo a propor uma lei nesse sentido também…
Eu ficarei muito feliz caso isso aconteça!