“Quem não gosta de samba (e futebol) bom sujeito não é,
ou é ruim da cabeça ou doente do pé!” Dorival Caymmi
Sempre ouvimos falar mundo afora que o Brasil é o país do samba e do futebol. Temos um carnaval apoteótico, repleto de fantasias, alegorias, adereços, abadás, escolas de samba e trios elétricos, muita bebida e sensualidade nas ruas e avenidas pelos quatro cantos do Brasil. Com a bola nos pés, somos os únicos pentacampeões mundiais, “exportamos” jogadores talentosíssimos por cifras milionárias, comparáveis a orçamentos de grandes empresas ou até de algumas pequenas cidades.
Um país que se considera emergente, onde a crise política está visível, seus cidadãos divididos e menos tolerantes, a educação pública no fundo do poço, a economia capenga e sem perspectivas de melhora a curto e médio prazos, saúde pública em xeque com um provável novo pico da pandemia de Covid-19 e a violência ainda ceifando vítimas do tráfico e das milícias, a população, em descrédito com um futuro promissor e diante de tantas mazelas, busca uma fuga desta vil realidade nua e crua, procurando alento no que temos de melhor e que os gringos nos invejam: o gingado do samba no pé e o futebol arte.
O carnaval e a Copa do Mundo são momentos únicos e especiais, quando todos os brasileiros, das diversas raças, classes sociais, orientações sexuais ou ideologias políticas, nivelam-se e unem-se num gesto de puro amor à cultura popular, imbuídos de um sentimento patriótico verdadeiro, um tanto desvirtuado nos últimos tempos.
Se não somos campeões no PIB e na renda per capita, se não possuímos as melhores universidades ou não ganhamos sequer um prêmio Nobel, temos, contudo, 5 títulos mundiais de futebol, sua majestade – o rei Pelé -, e o respeito e atenção de grande parte do mundo, mesmo que somente a cada quatro anos.
O tão desejado título mundial e a sexta estrelinha bordada na bela camisa canarinho não se concretizaram por enquanto. É momento de acordarmos deste sonho fugaz e voltarmos ao nosso cotidiano. Que a felicidade, harmonia e fraternidade compartilhadas por mais de 200 milhões de cidadãos nestes quase 30 dias de Copa, boa parte cantando o Hino Nacional, portando bandeiras e trajando camisas verde-amarelas pelos logradouros, famílias unidas em seus lares e amigos a celebrar em bares das milhares de cidades do Brasil, permaneçam doravante vivas e atuantes, a fim de consertar o estrago que a rivalidade política nos trouxe durante a pandemia e o período eleitoral. Como se diz no jargão popular: “somos brasileiros, não desistimos nunca!”
Munidos deste espírito perseverante e resiliente, espera-se que estejamos ainda mais convictos de que é, sim, possível conquistarmos não somente o inédito Hexacampeonato em 2026, como também escolhermos novos líderes políticos respeitáveis, íntegros e competentes, construirmos uma democracia ainda mais sólida, uma economia pujante e universidades transbordando de bom ensino e grandes pesquisas, com muito mais igualdade social e, consequentemente, muito mais orgulho de ser brasileiro!
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(*) Hernan Augusto Centurion Sobral é médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.
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