Entrevista

O viajante Luiz Thadeu: “Nada como cruzar a soleira da porta e conhecer o mundo”; sua meta é conhecer todos os 193 países do mundo

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Fac-símile da capa
“O mundo é um livro e aqueles que não viajam leem apenas uma página.” Essa frase é atribuída a Santo Agostinho, canonizado e transformado em “Doutor da Igreja”, mas, guardando-se as devidas proporções, coube ao maranhense Luiz Thadeu Nunes e Silva mostrar, na prática, que aqueles que viajam além de lerem várias páginas também as escrevem. E ele escreveu o livro “Das muletas fiz asas”, no qual conta a sua história de vida que pode ser divida em dois grandes momentos: antes e depois de um acidente de trânsito que o deixou com mobilidade reduzida, mas que o permitiu ser a pessoa mais viajada do mundo, pois visitou 143 países em todos os continentes. Luiz Thadeu, que escreve a coluna Lá vem história, no Portal Só Sergipe, e, também, no jornal impresso Correio de Sergipe, vai lançar o livro no dia 22 de junho em São Luiz, no Maranhão, depois na Bienal do Livro, em São Paulo, e ainda na cidade do Porto, em Portugal. Escrito em primeira pessoa e prefaciado pela jornalista Sandra Coutinho, correspondente da TV Globo em Nova York, o livro conta sua trajetória de vida e revela a sua força de vontade para, literalmente, renascer física e espiritualmente, e dizer às suas muletas que não há limites para sonhar, voar e viajar.

Para este verdadeiro globetrotter (viajante do mundo), “nada como cruzar a soleira da porta e conhecer o mundo. O mundo é fascinante, rico em culturas, cada lugar com suas particularidades, suas nuances”.  O gosto pela viagem não é de hoje. “Desde garoto quis conhecer o mundão de meu Deus”, confessa. Mas quem disse que ele não viaja desde pequeno?  Viajou nos livros, na leitura, afinal, ler é viajar por emoções.

“A primeira vez que visitei o mundo foi através dos livros. De casa, na Ilha do Amor, como São Luís do Maranhão é conhecida, fui ao Himalaia, subi na Muralha da China, vi os Grandes Cânions ente os EUA e o Canadá, também visitei o Alasca e as Ilhas de Páscoa, Maurício e Zanzibar. Quando caí no mundo, já nos conhecíamos através da leitura”, contou.

Em viagem à Bangladesh

E ele continuará caindo no mundo. Já tem nove passagens aéreas internacionais compradas, devidamente pagas, e espera o momento certo para, como ele mesmo diz, “cair no mundo”. Ele dará a volta completa ao mundo: “Irei pisar em todos os continentes da terra e tomar banho em todos os oceanos em uma só viagem. A meta é conhecer todos os 193 países do mundo”.

Desde a pandemia, portanto há dois anos, que esse inquieto viajante está quieto em casa, na sua Ilha do Amor, “no seu porto seguro”, pronto para ir para o “quintal”, ou seja, para o mundo.

Leitor voraz e buscador de passagens aéreas e hospedagens que cabem no bolso, Luiz Thadeu, nesta entrevista ao Só Sergipe, orienta as pessoas que, como ele, querem sair pelo mundo, conhecer pessoas e lugares, pois, como bem diz Mário Quintana, o poeta das coisas simples, “viajar é mudar a roupa da alma”.

Boa leitura, ou melhor, boa viagem!!

 

SÓ SERGIPE – O senhor é o cidadão com mobilidade reduzida mais viajado do mundo, visitou 143 países em todos os continentes. A pandemia barrou as suas viagens por dois anos, mas agora a situação tende a melhorar. E aí lhe pergunto: tem viagens programadas para este ano, e quais os destinos?

LUIZ THADEU – Sim, tenho passagens aéreas compradas, pagas e mais de uma vez adiadas. Possuo nove passagens aéreas internacionais compradas, aguardando o momento certo para novamente cair no mundo. Dentre essas passagens, uma será de volta ao mundo completa, irei pisar em todos os continentes da terra e tomar banho em todos os oceanos em uma só viagem.

Só para lembrar, no começo da pandemia em fevereiro de 2020 estava em um giro pela Europa, revisitei Paris, Barcelona e Amsterdã.  O mundo já tinha conhecimento do coronavírus, mas ainda não sabia de sua letalidade.  De Amsterdã voei de volta ao Brasil, e logo que desembarquei por aqui as fronteiras dos países se fecharam. Após isso não viajei mais para o exterior.

Luiz Thadeu em muitas de suas viagens

SÓ SERGIPE – O preço das passagens de avião teve um aumento significativo.   Vai dar para continuar viajando com estes preços?

LUIZ THADEU – Quanto ao preço das passagens que subiu significativamente, como falei acima, tenho nove passagens aéreas compradas e pagas. Continuarei comprando passagens aéreas, pois o objetivo, a meta, é conhecer todos os 193 países do mundo. O segredo é ficar atento para comprar passagens aéreas promocionais, e assim diminuir o impacto no bolso.

SÓ SERGIPE – E por falar em reajuste de preço de passagem aérea, com sua experiência, qual a sugestão para alguém que quer começar um périplo pelo mundo?

LUIZ THADEU – Para quem quer conhecer o mundo a dica é ler sobre viagens, pois informação é a chave que abre portas. Seguir nas redes sociais os grupos de viajantes que têm dicas preciosas de como chegar a tal destino, os custos, é a forma mais fácil. Nós atraímos o que gostamos, assim ficamos conectados com quem gosta de viajar, e dessa forma está construída a ponte.

Escritor, no deserto de sal, Bolívia

SÓ SERGIPE – Quando o assunto é viagem, nos vêm sempre à mente lugares maravilhosos, gente bonita e educada. Mas o senhor já passou por alguma situação vexatória em algumas destas viagens?

LUIZ THADEU – Quando falamos em viagem, a glamourização é inevitável, só se pensa em lugares lindos, cinematográficos, hollywoodianos, mas isso é somente para bolsos bem forrados. Diria que é para bolsos de turistas. Há grande diferença entre um turista e um viajante.  Como sou viajante, ou melhor, andarilho, e não tenho bolso forrado, procuro baratear meus custos.

Perrengues fazem partes de minhas andanças pelo mundo. Já reservei hotéis bem baratos através dos sites na internet, chegando lá eram bem ruins. Mas nada que estrague a viagem. Penso que saí da zona de conforto, que é a minha casa, por livre e espontânea vontade, tenho mais é que aproveitar.

SÓ SERGIPE – Dentre os povos que o senhor teve contato, qual lhe foi mais acolhedor e, digamos, o mais desagradável?

LUIZ THADEU – Nas minhas andanças pelo mundo convivi com diferentes povos de muitas nações em todos os continentes.  Quanto mais simples um país, mais acolhedor os moradores são e vice-versa. Os povos de clima frio são fechados, enquanto os africanos são mais abertos, alegres e receptivos. Mas não existe no mundo povo melhor do que nós brasileiros. O Brasil é fenomenal, alegre, acolhedor, de pessoas fantásticas. O melhor do Brasil são os brasileiros, o pior do Brasil são os brasileiros. Nós que fazemos este país continental ser bom ou ruim.

Infraero homenageou o ilustre viajante com uma placa no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, em São Luiz

SÓ SERGIPE – Quanto às várias culturas que conheceu, o que diria delas? Alguma em especial?

LUIZ THADEU – Quanto às culturas, sou fascinado pela cultura dos países asiáticos, pela diversidade e pelo exotismo. Também sou fã da cultura europeia.

SÓ SERGIPE – E o crescimento pessoal adquirido com estas viagens pelo mundo, com tantas experiências vividas?

LUIZ THADEU – “Viajar é mudar a roupa da alma”, ensina Mário Quintana. Nada como cruzar a soleira da porta de casa e conhecer o mundo. O mundo é fascinante, rico em culturas, cada lugar com suas particularidades, suas nuances. Desde garoto quis conhecer o mundão de meu Deus.

A primeira vez que visitei o mundo foi através dos livros. De casa, na Ilha do Amor, como São Luís do Maranhão é conhecida, fui ao Himalaia, subi na Muralha da China, vi os Grandes Cânions ente os EUA e o Canadá, também visitei o Alasca e as Ilhas de Páscoa, Maurício e Zanzibar.

Quando caí no mundo, já nos conhecíamos através da leitura.

SÓ SERGIPE – O senhor se mostra muito apaixonado por sua terra, por São Luiz (Maranhão), a sua “ilha do amor”. Mas, tem algum lugar – aqui no Brasil ou no exterior – que o senhor moraria?

LUIZ THADEU- São Luís do Maranhão é minha casa; o mundo, o meu quintal. Amo a Ilha do Amor, viajo pelo mundo, mas meu porto seguro é minha casa. Estou me preparando para passar temporadas em diferentes cidades do Brasil e do mundo.

O livro “Das muletas fiz asas”  na livraria Nobel, em São Paulo

SÓ SERGIPE – Um viajante, e agora um escritor, autor do livro “Das Muletas fiz asas”, autobiográfico, narrado em primeira pessoa, no qual o senhor conta seus desafios. De que forma o senhor define a sua obra?

LUIZ THADEU – O título do livro, “Das muletas fiz asas”, é para mostrar ao leitor que mesmo apoiado por duas muletas fui e irei aonde meus sonhos me levarem.  Somos seres de travessia, tenho asas, quero voar sempre. Mesmo com mobilidade reduzida não fiquei parado me lamuriando da vida.

A vida é seguir em frente, sempre.

SÓ SERGIPE – Sem dar “spoiler” do livro, por que o título “Das Muletas fiz asas”.

LUIZ THADEU – Com o acidente que sofri no final de tarde chuvoso, em 11 de junho de 2003, mudou minha vida para sempre.  Após o acidente, passar por 43 cirurgias, ninguém sai incólume de uma situação como essa.

Em princípio, iria ficar preso à cadeira de rodas, depois me adaptei às muletas, criei segurança e comecei a me aventurar pelo mundo, e graças ao bom e maravilhoso Deus deu tudo certo, e tive o prazer e privilégio de pisar em 143 países em todos os continentes

SÓ SERGIPE – Naquele momento duro e incerto após o acidente que o deixou com limitações estava nascendo um novo Luiz Thadeu?

LUIZ THADEU – O livro já vem em gestação há tempo, um antigo projeto, mas só saiu agora pela editora N’versos, de São Paulo, pois parei as viagens, ao ficar em casa, em reclusão.

O livro foi escrito e reescrito por diversas vezes, pois quem escreve quase sempre não fica satisfeito com o que escreve.

Quem editou o livro foi um amigo de longas datas, de 50 anos. Raimundo Araújo Gama é meu colega do Colégio Batista, e hoje como dono da editora N’versos, me ajudou a viabilizar a publicação do livro.

SÓ SERGIPE – Quando e onde será o lançamento oficial do livro e como adquiri-lo? É possível encontrá-lo na versão impressa e digital?

LUIZ THADEU – Ele vai ser lançado, primeiramente, aqui em São Luiz, no dia 22 de junho, com um evento, em que virá o staff da editora em São Paulo. Depois será lançado em São Paulo, na Bienal do Livro, entre 2 e 10 de julho, e em outubro será no Porto, em Portugal. Eu tenho amigos portugueses e eles são ligados ao segmento de cultura e entretenimento e têm um local de eventos muito grande, convidaram-me para fazer o lançamento por lá.

SÓ SERGIPE – No caso da versão impressa, o senhor vai encaminhá-lo para alguma livraria em Aracaju?

LUIZ THADEU – O livro será lançado em algumas livrarias de Aracaju. Já está à venda na Amazon.

SÓ SERGIPE – O livro é prefaciado pela jornalista da Globo News em Nova York, que o chama de “Luiz Gira Mundo”. Como nasceu essa amizade com a jornalista e como foi o convite para que ela prefaciasse seu livro?

LUIZ THADEU – Eu estive duas vezes na Globo, em Nova York, em 2017 e 2019. E em 2019 estive pessoalmente com a turma do Manhatan Conecction, conheci o Lucas Mendes, que teve a gentileza e generosidade de me mostrar e falar de mim no programa dele. E quando eu estava gravando o programa, a Sandra Coutinho veio e queria ouvir a minha história. Então conversei com ela e de lá para cá nós nos tornamos mais próximos, trocamos os contatos e sempre mando notícias para ela. E ela, onde está, sempre manda uma coisa para mim. Em função disso pedi que prefaciasse o livro, e ela escreveu um bonito texto.

SÓ SERGIPE – Aliás, o senhor é um engenheiro agrônomo aposentado e agora estudante de Jornalismo. Esta profissão – jornalista – o fascinava?

LUIZ THADEU – Sou engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual do Maranhão e quando completei 40 anos de formatura, no ano passado, comecei a graduação em jornalismo. Estou no terceiro período e para mim é um projeto antigo, pois sempre gostei de ler bastante. Aí, de 2016 para cá, tive oportunidade de publicar crônicas e artigos em jornais daqui de São Luiz. Hoje, eu escrevo para 22 jornais do Nordeste, um de Belém (PA) e outro de Cuiabá. Isso tudo foi através dos amigos que foram informando para outros, passando de mão em mão os meus artigos e crônicas. Graças a Deus, tudo certo. Hoje, também escrevo para jornal impresso, em Luanda, capital de Angola, que é de grande circulação. O objetivo é escrever artigos e publicar no maior número de veículos possível. Escrevo sobre cotidiano. Sou um atento observador do meu entorno e como sempre gostei de ler, pinço um e outro assunto, e escrevo. Sempre com um viés sobre aquele tema.

Luiz Thadeu pelo mundo. Mais viagens estão programadas

 

Luís Roberto, Luiz Thadeu e Antonio Garcia: grande encontro em Aracaju

SÓ SERGIPE – O senhor é seu próprio assessor de imprensa? Afinal, onde chega é notícia na mídia e acaba sempre virando colunista de um jornal.

LUIZ THADEU – Verdade, não tenho assessoria de imprensa. Eu quem bato nas portas dos jornais, falo da minha pretensão em escrever, explico que as minhas crônicas e artigos são apartidários, não entro em política, principalmente num momento tão tumultuado. E escrevo sobre o dia a dia, personalidades, comportamento. Esse foi um trabalho de porta em porta, até chegar a estes 22 jornais brasileiros, inclusive, estive em Aracaju, eu escrevo para o Correio de Sergipe e para o site do meu amigo Antonio Carlos Garcia, o Só Sergipe, que tem grande repercussão.

SÓ SERGIPE – Há dois personagens da literatura mundial que como o senhor e guardando-se as devidas proporções saíram pelo mundo. O senhor se identifica com algum? Phileas Fogg, protagonista do romance “A volta ao mundo em 80 dias”, de Júlio Verne? Ou Lemuel Gulliver, personagem do livro “As viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift?

LUIZ THADEU – Os dois personagens citados por você, tanto de Júlio Verne, como de Swift, marcaram, de forma indelével, a literatura. E Júlio Verne, quando escreveu, era numa época completamente diferente da nossa, porque nem avião existia. É fascinante. O homem sempre teve fascínio por querer voar. Hoje, com os aviões modernos você pode estar num país de uma hora para outra. Eu já tive uma experiência em uma viagem pela Europa, onde os países são muito próximos. Eu tomei o café da manhã em Milão, na Itália, peguei o avião fui para Bratislava, capital da Eslováquia, e almocei lá. De lá, peguei um ônibus e fui para Viena, capital da Áustria, onde jantei e dormi. Isso é uma coisa que na época de Júlio Verne era impensável.

SÓ SERGIPE – A propósito, o senhor já foi a Lilliput?

LUIZ THADEU – Não fui a Lilliput, mas esse local povoou meu pensamento durante muito tempo. Quando garoto, de 12 ou 13 anos, assisti muito a “As aventuras de Gulliver” numa televisão da minha casa, uma Telefunken, à válvula, em preto e branco. Sempre fui apaixonado por esse tipo de ficção.   Mas durante muito tempo pensei em me transportar para lá.

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Antônio Carlos Garcia

CEO do Só Sergipe

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