O retinoblastoma, um tumor maligno mais comum na infância, ganhou as manchetes dos principais jornais do país, quando o jornalista Tiago Leifert, em uma entrevista no Fantástico, disse que sua filha Lua, de um ano e três meses, é portadora da doença e que está em tratamento. Agora se sabe que a doença da Lua foi o motivo para que o jornalista deixasse a Rede Globo.
Alguns diagnósticos desta doença são feitos aqui em Sergipe, disse a oftalmologista especialista em retina, Ana Cristina Bittencourt Dantas, formada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e diretora clínica do Centro de Exames e Terapia Ocular, onde atua há 25 anos. Os casos, quando detectados por ela, são encaminhados para tratamento em Salvador ou para a Oncologia da Escola Paulista de Medicina com a médica sergipana Melina Morales – chefe do setor – que direciona para o Dr. Luiz Fernando, responsável pelo tratamento.
Ana Cristina conversou com o Só Sergipe sobre o retinoblastoma e destacou a importância do teste do olhinho, que dever ser feito, ainda na maternidade, ou no primeiro mês de vida do bebê. Ela garante que “o retinoblatoma tem cura em mais de 95% com tratamento adequado”.
Confira os principais trechos da entrevista com Ana Cristina, especialista em Oftalmologia com Fellow em doenças da retina, vítreo e ultrassonografia ocular pelo Instituto Hilton Rocha, em Belo Horizonte.
SÓ SERGIPE – O jornalista Tiago Leifert disse que sua filha pequena está com retinoblastoma, doença que foi descoberta em 2020. Explique, por favor, o que é o retinoblastoma. Por que é uma doença rara?
ANA CRISTINA – O retinoblastoma é o tumor maligno intraocular primário mais comum da infância. Ele é originário das células da retina, localizada no fundo do olho, sendo a camada responsável pela visão. Pode ocorrer em um olho (unilateral) ou em ambos (bilateral), e 90% dos pacientes irão apresentar a doença antes dos cinco anos de idade. A doença bilateral é diagnosticada mais precocemente (12 meses em média) que a unilateral (24 meses em média). O retinoblastoma afeta aproximadamente 6.000 crianças no mundo, por ano, e ocorre igualmente em meninos e meninas. É considerado um tipo raro de câncer, corresponde de 2 a 4 % das neoplasias da infância. É raro pois decorre de uma mutação genética no cromossomo número 13.
SÓ SERGIPE – Como é que a pessoa contrai essa doença?
ANA CRISTINA – O retinoblastoma não é causado por fatores externos, não existem causas relacionadas ao estilo de vida ou ambientais conhecidas para o retinoblastoma, por isso é importante lembrar que não há nada que essas crianças ou seus pais poderiam ter feito para evitar esse tipo de câncer. Ele decorre de uma mutação genética, envolvendo o cromossomo 13, comprometendo os códigos genéticos que controlam o crescimento e o desenvolvimento celular, resultando no crescimento sem controle das células da retina que se tornam cancerígena.
SÓ SERGIPE – Quais os sinais dessa doença e como alertar os pais?
ANA CRISTINA -Os sinais mais comuns são: Leucocoria, um reflexo pupilar branco (olho de gato), surge da luz refletida na superfície do tumor, pode ser visto em algumas fotos e Estrabismo (desvio ocular).
Outros sintomas menos comuns são: aumento do globo ocular, heterocromia, diplopia, catarata e nistagmo.
O CBO emitiu uma nota de esclarecimento e alerta aos brasileiros contendo esses itens:
1) O diagnóstico precoce desta forma de tumor, cuja origem está associada a fatores genéticos, é o melhor caminho para garantir seu tratamento adequado;
2) Neste sentido, o início dos cuidados começa ainda na maternidade, onde todo recém-nascido deve ser submetido ao Teste do Olhinho (teste do reflexo vermelho) até 72 horas de vida, sendo este o primeiro passo para a detecção de doenças oculares;
3) Após essa abordagem inicial, o Teste do Olhinho dever ser repetido pelo pediatra ao menos três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida da criança;
4) Na identificação de qualquer anormalidade, o paciente deve ser encaminhado para consulta com oftalmologista que aprofundará a investigação;
5) Para ampliar a proteção da saúde ocular das crianças, recomenda-se ainda que bebês de seis a 12 meses passem por um exame oftalmológico completo;
6) Posteriormente, entre três (idealmente) e cinco anos esse mesmo bebê deve ser submetido a uma segunda avaliação oftalmológica.
SÓ SERGIPE – O teste do olhinho realmente detecta essa doença?
ANA CRISTINA- Ele detecta a doença sim, deve ser realizado ainda na maternidade, ou no primeiro mês de vida. Sabe-se que nem todos os serviços contam com profissionais habilitados para realizar um exame que requer muita experiência e técnica, pois se trata de um Mapeamento de Retina que deve ser realizado com uma boa dilatação da pupila com o objetivo de avaliar a periferia da retina em busca desses tumores. Muitas vezes recebemos crianças no consultório, questionamos se foi feito o teste do olhinho e a genitora diz ter sido feito sem pingar colírio, retardando assim o diagnóstico que deve ser precoce. Esse exame, na minha opinião, deve ser realizado por um Oftalmologista especialista em Retina, por ter maior destreza na realização de uma oftalmoscopia indireta em olhos muito pequenos (exame mais difícil), além de maior conhecimento para detectar anormalidades. No meu caso, eu realizo o exame com a criança deitada, máxima dilatação pupilar, observando polo posterior e periferia nos quatro quadrantes e em caso de dúvidas realizo de imediato a Ultrassonografia Ocular que é fundamental para confirmação do diagnóstico.
SÓ SERGIPE – Só o nome câncer já é assustador. O retinoblastoma tem cura? Como é o tratamento?
ANA CRISTINA -O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) nos lembra o seguinte:
– Em caso de confirmação de diagnóstico de retinoblastoma, a criança iniciará tratamento que depende de vários fatores (localização e tamanho do tumor, disseminação além do olho e possibilidade de preservação da visão).
– Na condução de casos de retinoblastoma podem ser adotados diferentes procedimentos, como quimioterapia (intravenosa, intra-arterial, periocular e intraocular), terapia focal (destruição térmica, laser, crioterapia e braquiterapia) e métodos cirúrgicos.
O retinoblatoma tem cura em mais de 95% com tratamento adequado. Houve grandes avanços nas últimas décadas, sendo adaptado a cada caso individual. Depende de vários fatores: lateralidade, localização e tamanho do tumor primário, presença de disseminação além do olho e prognóstico visual. Esse depende da intervenção precoce, tamanho, localização e presença de metástases. Pode ser utilizado um único tratamento ou uma combinação de tratamentos.
SÓ SERGIPE – O retinoblastoma só acomete crianças? Ou uma pessoa adulta pode contrair esse câncer?
ANA CRISTINA – A incidência decresce com a idade, a maioria dos casos são diagnosticados antes dos três anos, podem ser observado ao nascimento e raramente ocorre em adultos. Os estudos no Brasil mostram que, em média 88% dos casos se apresentam antes dos três anos, 11% em torno de 5 anos e 1% acima de 10 anos.
SÓ SERGIPE – A senhora sabe se existem aqui em Sergipe, pacientes acometidos com essa doença?
ANA CRISTINA – Existem sim, alguns diagnósticos são feitos e eu os encaminho para realizar o tratamento em Salvador ou para a chefe do setor de Oncologia Ocular da Escola Paulista de Medicina a médica sergipana Melina Morales. E na Escola Paulista de Medicina, os casos são encaminhados para médico Luiz Fernando Teixeira, que trata a retinoblastoma.
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