Por Germano Xavier (*)
Para começo de conversa, que capa belíssima a da segunda edição deste livro, datada de 1979! O título: ABISMO DE ROSAS. Que título, Dalton Trevisan! Só podia ser mesmo um livro escrito por vossa senhoria, mestre da amplificação semântica das palavras mínimas. Os minimamente iniciados nesta lida chamada de literatura já podem desconfiar: ABISMO DE ROSAS é um petardo vindo em direção ao coração do humano. Um sedutor furacão feito de palavras-além que arrasta homens e mulheres, meninos e meninas, crianças e adultos, para os centros das vivências instantâneas, para o vértice das experiências mais fugidias, furtivas, aligeiradas. Lugares triviais e espaços inesperados formam a selva representativa por onde as personagens nadam de braçadas em busca da vida e da morte, seduzidas pelas fragrâncias inequívocas das horas mais cotidianas.
Há alguns anos, eu tinha bastante dificuldade em engolir Dalton Trevisan. Não gostava do modo peculiar de escrita dele. Hoje, mais maduro, com mais envergadura leitora, consigo degluti-lo e também confirmar o grande literato que é. O ABISMO DE ROSAS é mais um livro poderoso do Vampiro de Curitiba. São 21 contos curtos por onde putas, “degracidos”, aliciadores, bêbados e outros personagens típico-clássicos de seu já consagrado repertório se integram num microcosmo que resume bem toda a aurora de nossos dias, tanto a que é vista/revista quanto a que é insistentemente camuflada e/ou interrompida propositalmente pelos meios de comunicação de massa, primordialmente.
Dia desses, participando eu de uma edição da Toca Literária, oficina de criação literária regida por Marcelino Freire, o autor pernambucano reiterou a importância do Dalton Trevisan para a literatura nacional e, também, como influência em sua carreira de contista. Convenhamos, todo livro do Trevisan é uma aula particular de como elaborar diálogos arrebatadores. Só por isso, já vale a leitura, não obstante o toque lírico que dá à temáticas envolvendo o escatológico, o bestial, o insano, ao que é tido como sendo de natureza imoral, às sanhas e idiossincrasias humanas. Enfim, eis um autor de estilo marcado, próprio, personal. Condenados estamos a este abismo gutural que é a vida. De rosas ou não, só vivendo e lendo mais para saber.
Evoé, Trevisan!
Um bom texto, e se melhor que o meu, mais ainda, é o basta, amiúde, para que eu reveja uma opinião: eis o que aconteceu ao ler o artigo “Os Abismos de Trevisan”, do escritor e articulista Germano Xavier.
Deu vontade de ler o autor do qual nunca gostei, o qual rejeitei na primeira leitura, ao qual jamais pensei em retornar para checagem.
Então, não é, este comentário, sobre o livro do Trevisan, já que não faria sentido, pois, ainda não o li.
Este tímido escólio se direciona tão somente à resenha limpa, econômica, aproada, do Germano.
Acomete-me, como um enxame, a dúvida: irei gostar do livro? Ou, pelo menos, mesmo não gostando reconhecerei o respectivo valor literário?
Bem, e daí?
Nem Germano, nem Trevisan necessitam do meu mísero aval.
Mas, em virtude da pena segura, da avaliação elegante do primeiro, talvez me arrisque.
Como disse: a resenha por si só já valeu a pena.