“Os governos devem criar um ambiente econômico mais favorável, facilitando todo o processo burocrático das exportações e estimulando-as a partir da melhoria da infraestrutura e logística para a exportação”. Esse é o entendimento do economista e superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Rodrigo Rocha, ao analisar os números da balança comercial de Sergipe que, historicamente, importa mais que exporta. Como sempre acontece, a balança, em março, teve um déficit de US$ 6,4 milhões, algo que vem acontecendo desde 2014. No quesito exportações, há tempos, também, que o suco congelado de laranja vem sendo o primeiro colocado, embora o setor citrícola do Estado não passe por uma situação favorável.
Para Rodrigo Rocha há sempre possibilidade de melhorias, mas “os governos devem buscar incessantemente estimular as atividades produtivas, em especial aquelas que possuem maior potencial de fortalecimento da economia local, como é o caso da citricultura no estado de Sergipe”. Paralelo a esse dever de casa do Estado, a Federação das Indústrias de Sergipe (FIES), onde o IEL se encontra, tem o Centro Internacional de Negócios (CIN/SE) que atua na disseminação da cultura exportadora, buscando oportunidade de negócios e oferecendo aperfeiçoamento às empresas que buscam mercados internacionais.
A FIES, também está atuando junto com o Governo do Estado, para que seja mantida em Sergipe a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), diante da ameaça da Petrobras de fechá-la.
Essa semana, o economista Rodrigo Rocha recebeu o SÓ SERGIPE para uma entrevista. Veja os principais pontos.
SÓ SERGIPE – A balança comercial de Sergipe, em março, deste ano apresentou um déficit de US$ 6,4 milhões. Qual a explicação para esse resultado negativo?
RODRIGO ROCHA – Historicamente o estado importa mais do que exporta, tendo como principais causas deste déficit uma pauta de exportação concentrada em poucos produtos, de um número pequeno de empresas; e uma dependência de vários produtos importados, tendo valores elevados, algumas dessas compras, para atender a necessidade produtiva de indústrias sergipanas.
SS – O problema é que, segundo estudo da FIES, esse déficit vem acontecendo desde março de 2014. O que poderia ou pode ser feito para melhorar esses números? Será que um dia a balança comercial pode ter um resultado positivo?
RR – Como dito anteriormente, o saldo negativo da balança comercial de Sergipe é histórico. Como as nossas importações de uma forma geral não são ruins para a nossa economia, pois em grande parte se destinam aos processos produtivos das indústrias, gerando emprego e renda no estado, para que haja uma melhora no resultado da balança comercial sergipana deve haver um conjunto de ações, tanto por parte dos governos, quanto das empresas, focadas no aumento das exportações. Os governos devem criar um ambiente econômico mais favorável, facilitando todo o processo burocrático das exportações e estimulando-as a partir da melhoria da infraestrutura e logística para a exportação. Pelo lado dos empresários, é preciso que estes busquem oportunidades de exportar seus produtos, bem como o aperfeiçoamento e a inovação de seus processos produtivos, ampliando sua competitividade para atender às exigências dos compradores internacionais, aumentando assim as exportações sergipanas.
SS – A balança já foi positiva algum dia?
RR – Historicamente a balança comercial do estado, em termos anuais, é deficitária. Dos dados disponibilizados pelo MDIC, do período do ano 2000 a 2017, o único ano que apresentou superávit foi em 2007, por causa das exportações do cimento, produto que reduziu drasticamente sua participação na pauta exportadora, devido à grande demanda interna no período em que a economia brasileira e, em especial, a construção civil, estavam aquecidas.
SS – Quais são os principais produtos exportados por Sergipe e para onde vão?
RR – Em relação ao mês de março de 2018, verificou-se que os principais produtos da pauta exportadora do estado foram o suco de laranja congelado, os calçados e o limoneno, representando mais de 81% do valor exportado. Os produtos tiveram como principais destinos os Países Baixos, Turquia, México, Rússia, Estados Unidos, Bolívia, Peru, entre outros.
SS – Há muito tempo que o suco congelado de laranja lidera o ranking das exportações. Esse não seria mais que um bom motivo para o governo estimular a produção de laranja?
RR – Todos os governos devem buscar incessantemente estimular as atividades produtivas, em especial as atividades que possuem maior potencial de fortalecimento da economia local, como é o caso da citricultura no estado de Sergipe.
SS – Se houvesse benefícios aos produtores de laranja, as exportações poderiam ser bem maiores, se expandiria esse mercado?
RR – Toda a cadeia produtiva da laranja deve ser incentivada para ganhar produtividade, gerando a possibilidade de ampliação da competitividade das indústrias sergipanas no mercado internacional.
SS – O Estado de Sergipe pode apresentar mais produtos a serem exportados? Como está esse trabalho?
RR – Sim, pode. Sergipe conta com muitas empresas com potencial exportador que diversificariam a sua pauta. No entanto, falta a essas empresas um ambiente propício para adentrar no mercado internacional. A FIES, através do seu Centro Internacional de Negócios – CIN/SE, atua na disseminação da cultura exportadora e ofertando apoio na busca de oportunidades de negócios e no aperfeiçoamento dos conhecimentos necessários para que as empresas possam ter sucesso em mercados internacionais.
SS – Quanto às importações, o trigo continua sendo o principal produto. Mas com a seca na Argentina e o risco do preço da saca subir, os sergipanos correm o risco de comer o pão mais caro. Esse problema climático deve afetar, também, a balança comercial?
RR – É muito difícil prever o que vai acontecer, pois existem diversos fatores envolvidos. Caso realmente o preço do trigo se eleve o resultado da balança será afetado.
SS – Se se confirmar o fechamento da Fafen, como quer a Petrobras, teremos mais problemas na balança comercial?
RR – O governo do Estado junto com a FIES está dialogando com a Petrobrás, na tentativa de encontrar uma solução para a situação da FAFEN. Estamos esperançosos de um desfecho positivo e por isso ainda é muito certo para fazer qualquer previsão sobre o assunto.
SS – Dos nove estados nordestinos, Sergipe aparece entre os cinco com déficit. É o menor por ser, também, o menor Estado do país?
RR – Não necessariamente. Em termos territoriais, estados brasileiros maiores não garantem superávits em suas balanças comerciais. Sergipe enfrenta baixa diversificação em sua pauta de exportações. Em março registramos envio de 26 diferentes mercadorias, ante 246 importadas. Como dito anteriormente, o estado precisa ampliar suas exportações através do aumento de produtos e empresas no comércio internacional, gerando melhores resultados para nossa balança comercial.