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Claudefranklin Monteiro Santos (*)

Há duas máximas em torno da reflexão entre o bem o mal que me chamam muita a atenção. A primeira, muito conhecida, atribuída a Santo Agostinho: “O mal é ausência de bem”. Portanto, o mal não tem existência própria. E a outra, da lavra de Albert Einstein que diz: “Deus não criou o mal. O mal é o resultado da ausência de Deus nos corações dos seres humanos”. Ambas, como outras pérolas da sabedoria humana, nos levam a refletir sobre demandas de nosso tempo e como, verdadeiramente cristãos, devemos lidar da melhor forma com elas, tendo ao nosso lado o Espírito Santo.

Pois bem. Esta semana, ao ver um trecho do documentário “Amém: Francisco Responde”, de Jordi Évole e Màrius Sánchez, no qual o Papa Francisco dialoga com uma jovem adolescente, chamada Célia, dei-me conta, mais uma vez, como amar é mais simples, prático e eficiente do que normas e preceitos morais e religiosos. Ela perguntou para o Sumo Pontífice se ele sabia o que era pessoa não-binária. A honestidade e a leveza paternal dele, em sua resposta, fizeram com que ela abrisse seu coração para ele.

Confesso que fui às lágrimas, o que não é nenhuma novidade para quem me conhece na intimidade. Gostei, de modo muito particular, quando Francisco disse que pessoas que se preocupam demais com a sexualidade dos outros na Igreja são, na verdade, infiltradas, e que nutrem sérios problemas pessoais mal resolvidos. Embora esta postura escandalize os mais pudicos, sou plenamente de acordo com ele e penso que podemos avançar um pouco mais nessa discussão e tirar grandes lições de solidariedade, tolerância e respeito.

Cheguei a ser aconselhado a não tocar no assunto e até mesmo rendê-lo, mas penso que para além do ativismo pastoral na Igreja Católica, nós, os católicos precisamos rever muitas posturas, sob pena de não somente colocar em risco a instituição mas também a própria mensagem do Cristo tão deturpada, mal interpretada e manipulada ideologicamente ao longo dos séculos. E isso não fica limitado ao seguimento católico mas também àqueles que pretendem ser mais cristãos do que o Cristianismo.

Cartaz de divulgação do documentário “Amém. Perguntando ao Papa” da Disney + na Espanha

Meu ponto de partida é o próprio Jesus, em Mateus 7, 15: “Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores”. Ora, foi o que mais vimos nos últimos anos, notadamente no Brasil. A subversão da Palavra de Deus para direcionar uma parte da população a defender ideias e realizar atos, além dos pretendidos e frustrados, que contrariam em grande medida a mensagem cristã.

Frente ao nível de perversão e desumanidade que alcançou o mundo no nosso tempo, mais do que nunca precisamos estar atentos ao que é efetivamente BEM e o que é MAL. Em tese, o bem nunca quer o mal. Portanto, é só uma questão de lógica de fé. Novamente recorro a Mateus para corroborar o que estou dizendo: “Quem tem ouvidos, ouça” (8,13). Mas, se o problema é cegueira ou dureza de coração, aí há muito o que ser feito. Primeiro, orar por essas pessoas, muitas vezes movidas por preconceitos, ódios e que costumam fazer acepção de pessoas. E pasmem: em nome de Deus!

Quando adolescente, fui, durante um tempo, acredito que até antes de entrar na UFS, fissurado pelas profecias de Nostradamus (1503-1566). Costumava lê-las e estudá-las, fazendo-o à luz do Livro do Apocalipse, de São João. Não me recordava até pouco tempo onde e não sei se isso poderia ser atribuído a ele, mas li algo, mais ou menos, assim: “Haverá tempos em que a fumaça de satanás entrará pelas frestas da Igreja”. Depois fiz uma pesquisa, e, salvo engano, é da autoria do papa Paulo VI (1972): “Tenho a sensação de que, por alguma fresta, a fumaça de satanás entrou no templo de Deus. Há dúvidas, incertezas, problemas, inquietações, confrontos… Não há mais confiança na Igreja. […] Infiltrou-se a dúvida em nossas consciências, por fendas que deviam estar abertas à luz”.

Ora, o que mais pode ser representativo que as frestas se elas não forem os infiltrados a que se refere o Papa Francisco? A verdade é que precisamos, não necessariamente por senso crítico, mas, sobretudo, por inspiração do Espírito Santo, cingirmos nossos rins, expressão usada na Bíblia, e estarmos atentos e vigilantes, fazendo filtros, sem necessariamente condenarmos. Como pombas, mansos (Mateus 10, 16-23); mas, como serpentes (prefiro águia), atentos e vigilantes e, principalmente, exercitando o amor.

 

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(*) Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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Claudefranklin Monteiro

Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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