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Os versos grávidos de Maíra Ferreira

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Por Germano Xavier(*)

 

“os velhos que um dia

seremos estão pedindo

perdão”

Excerto do poema face a face, de Maíra Ferreira

 

Maíra Ferreira é o nome da poetisa que estreia sua inaugural fatalidade no mundo das palavras impressas. A PRIMEIRA MORTE é o nome do livro da poetisa e é também o nome do poema que abre seu livro de poemas: “quando era criança tinha um medo/de borboletas como quem não suporta/tamanha delicadeza desde sempre”. Poema-fala de uma grandiosidade perigosa gerada a partir do que é sutil e mantido entre ternuras.

Figuras infantis brincando de ofuscar nossas fatigadas vistas são encontradas nas ladeiras que as estrofes não ousam subir nem descer, como em “entre os instantes e eu vejo pensando que é tudo/na verdade simples e o mundo é no fundo/isso mesmo só isso tudo isso”. Melhor deixar tudo intacto no meio do percurso. Esplendores alheios fazem o papel dos arruaceiros derrotadores de silêncios e iconoclastas.

Cantos de erros em datas importantes que maculam as imensidões, tal qual no trote “e logo é tarde e já se perdeu tudo/o que nunca se teve”. Parece poesia feita em rota marginal, apesar da nítida presença dos saberes universais de ordem. A veia de Maíra discute a pressa das horas sem construção, a vida gasta sem ter motivo real. E pede autorização para romper cada vez mais.

Poema lindo é “pequena princesa”, versos com sal. Referências depostas e provadas no abrir das rimas inexistentes, o livro de Maíra é um exemplo de paraíso caótico. Cada poema é uma viagem, cada um é uma chegada e cada qual uma partida. Somos atingidos. A poesia vence no final da escaramuça, eis a única certeza que o desavisado leitor tem logo no passeio das páginas primeiras.

A palavra como artefato. Arma para dizer, mesmo que nada se compreenda ou mesmo que nada sofra incorporações. A PRIMEIRA MORTE dá vida a uma voz nova que tem vez no singular mundinho das frases quebradas com sanha que todos os poetas inventam de inventar. Outra coisa: poesia que debocha e quem ri não é o leitor. O leitor antes sofre sabendo-se infame e partícipe de todas as peripécias devotadas. O leitor dessas primeiras mortes de Maíra é parte do cortejo. O funeral é de espantos.

Assim: “quando me perguntarem vou ser/completamente aberta/horrivelmente honesta/e por isso aviso/nenhuma verdade vai sair/de mim”. Maíra Ferreira, pois, é o nome da poesia que tem autoridade para ser inaugural, não decepcionar e, ainda mais, para ser horizonte no universo das palavras que mancham papéis de preto em tipos misturados. Falseia tudo cobrindo os equadores (centro) das coisas com o limão das bocas em ira. Palavras grávidas: logo nascerão outras de seu ventre. Favor, não duvidar. Favor, desejar.

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Germano Viana Xavier

(*) Nasceu em Iraquara, Chapada Diamantina-Bahia, em 1984. É jornalista pela UNEB e mestre em Letras pela UPE. Publicou o livro Clube de Carteado (Franciscana, 2006). Seu livro de contos intitulado Sombras Adentro (ainda não publicado) foi finalista do IV Prêmio Pernambuco de Literatura (2016). Em 2021, publicou o livro O Homem Encurralado (Penalux); e em 2022 , Esplanada do Tempo, que compreende a segunda parte da Trilogia do Centauro. Escreve para encontrar o equador de todas as coisas.

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