Por Nilton Santana (*)
O otimismo é uma palavra que possui um grandioso significado. As palavras são compreendidas facilmente pela nossa razão, porém, somente são intimamente conhecidas ou verdadeiramente conhecidas quando a “vivemos” de alguma forma.
Algumas palavras precisam ter vivência para serem conhecidas. Quer um exemplo? O beijo. Podemos definir o beijo como a ação de toque da boca em outra pessoa ou objeto. Frio, não é? Te dei uma definição racional sobre o beijo? Sim! Mas eu falei toda a verdade sobre o beijo? Claro que não! Qualquer pessoa que tenha beijado outra com enorme afeto ou desejo saberá que no beijo há intensas sensações que somente saberá quem realmente “beija”. Somente saberá quem passou pela experiência de beijar intensamente quem ama.
Mas é somente a experiência que nos diz o que é o beijo? Não somente a experiência. Mas a experiência acompanhada de reflexão. Quando temos alguma experiência e refletimos, estamos adquirindo aquilo que o humano poderá ter de mais valioso: a sabedoria. Palavra que inclusive deveria ser mais estudada. A sabedoria pode ser adquirida pela nossa experiência e reflexão, mas também pela experiência e reflexão de quem já estava aqui antes de nós. Por isso que dou um tremendo valor aos livros sagrados. Possuo o Baghavad Gita, o Ramayana, o Dhammapada, a Torá, o Alcorão, o Nahjul Balaghah, a Pequena Filocalia, e claro, a Bíblia. Os textos sagrados possuem milênios de sabedoria acumulada! A vida humana em qualquer tempo e espaço possui os mesmos estágios e as mesmas necessidades. Somos unos neste sentido!
O arguto leitor de textos sagrados saberá observar o que deve aprender de tais textos. Existe a leitura literal dos mitos sagrados, porém, não se deve ficar apenas nisso. Aliás, a verdadeira riqueza de um escrito sagrado está em seus símbolos e metáforas. Os símbolos e as metáforas possuem a força necessária para avançar no tempo e influenciar diversos povos. A humanidade não teria avançado tanto se não tivesse criado os símbolos. O nosso sistema político, a nossa forma de governo, o nosso ensino, o nosso comércio é constituído por símbolos. O comércio? Sim! Afinal de contas, a moeda é uma ferramenta simbólica de trocas. Atribuímos o valor a um pedaço de metal ou papel. E ultimamente atribuímos valor a algo que nem sequer tocamos porque a maioria das trocas são feitas por meio virtual.
As palavras são signos, quando transformadas em ideias e convencionadas coletivamente se transformam também em símbolos. Ser humano é isto, produzir símbolos. Somos intrinsecamente animais simbólicos. O símbolo está presente onde o ser humano estiver.
As palavras possuem grandioso poder de explicar símbolos, emoções, sentimentos, raciocínios, experiências sapienciais. Entretanto, quanto maior for o poder de uma palavra, mais ela é irresponsavelmente usada. O maior exemplo seria a palavra “amor”. Quantas pessoas fazem uso responsável da palavra “amor”? Quantas pessoas sabem o que é o amor “ágape” tão referido em textos sagrados? E o amor “philos”? E o amor “eros”? E o ainda menos conhecido amor “storge”?
Storge é o amor mais instintivo, aquele que nasce de forma natural, porque é a tradução para o “amor familiar”. Em seguida nós temos o Philos, sendo o amor que nasce da “amizade”. O Eros seria o amor proveniente do desejo, aquele que almeja a união com o outro, é o amor da “atração sexual”. E o ágape é o amor incondicional, é o amor conhecido por aqueles que se “tornaram amor”, é aquele amor que não é sentimento, é o amor que é “ação”. Todas as ações amorosas do ágape são praticadas por pessoas que vivem no “estado de amor”. O ágape engloba todas as demais formas de amor.
Todas as formas de amor mencionadas acima são válidas! Todas as formas de amor são sagradas! Todas conduzem para Deus! Aliás, Deus é outra palavra não muito compreendida. Quando pergunto acerca de Deus para alguém, passo a saber de forma indireta como essa pessoa enxerga o mundo. Alguns dirão que Deus é o amor, a bondade, já outros vão dizer que Deus é a justiça, e há ainda aqueles que acreditam que Deus seja uma energia, uma vibração, uma entidade não personificada. Visões monoteístas de Deus, visões politeístas de Deus, visões panteístas de Deus e visões panenteístas de Deus. E claro, não posso esquecer da visão gnóstica de Deus.
No fundo, tudo vai de como associamos a palavra “Deus”. Quais associações em nossas mentes fazemos quando pensamos na palavra “Deus”? Até mesmo um ateu ou um agnóstico fará algumas associações ao pensar na palavra “Deus”. A palavra “Deus” possui uma carga simbólica, psicológica e histórica muito acentuada, muito forte! É impossível pensar na palavra “Deus” sem que um turbilhão emocional seja ativado. Sendo de um ponto de vista negativo ou positivo, a palavra Deus possui uma influência enorme em nossa mente.
Não estou entrando aqui no mérito de que Deus existe ou não. Não dou grande importância a essa indagação. Diga primeiro o que é Deus para você, e daí eu digo se concordo ou não. Mas não vou julgar seu ateísmo ou seu teísmo. Existem pessoas que se dizem religiosas e são fervorosas ateias, e existem pessoas que se dizem ateias e que são religiosas. Religiosidade aqui é aplicado no sentido de espiritualidade. Não estou me referindo a religião institucionalizada.
O ser humano quando não compreende o mundo ao seu redor, quando não compreende a vida que possui, acaba “deusificando” ideologias, celebridades, personagens ou partidos políticos.
Mas e a palavra otimismo? Podemos pensar no motivo dela ser importante. O otimista muitas vezes é confundido como um ingênuo. Mas não penso assim. Os pessimistas também podem ser tão iludidos quanto os otimistas. Aliás, ser realista não é ver o lado negativo de tudo, na verdade, ser realista é ter uma visão ampla da vida, observando os riscos e as oportunidades. O realista é pessimista para observar os riscos e otimista para observar as oportunidades. Durante muito tempo, eu confesso que acalentei o pessimismo, porém, digo que o pessimismo pode te fazer perder chances valiosas na vida.
O pessimismo te congela, o otimismo te leva para a ação! Mas esta ação tem que ser balanceada com a prudência. A prudência te leva a refletir e a tomar as devidas ações em momentos certos. Sem o otimismo, a humanidade jamais teria chegado onde chegou. Não teríamos construído a civilização se não fôssemos otimistas. A civilização e todo o seu conforto foi historicamente construída por otimistas.
O otimismo é a força que nos mantém firmes mediante as adversidades que possamos enfrentar. O otimismo é o que nos faz ter grandes conquistas. É o que nos faz traçar estratégias, táticas para conseguir melhorar a nossa situação.
Aprenda com o passado, aproveite o presente e seja otimista para conquistar o que quiser no futuro. Paradoxalmente, somente aprende com o passado, aquele que está vivendo o presente. Somente traça boas estratégias para o futuro, aquele que vive no presente. Aproveite todo o processo de aprendizado do passado, ele acontece no presente, tenha prazer nisso. Delineie as estratégias para o futuro, isso também acontece no presente, inclusive tenha prazer em cada momento que foi tracejado. E claro, lembre de desfrutar cada momento de lazer com aqueles que te amam, estes são os melhores momentos da vida. Sei que o idioma português nos permite expressar com precisão e beleza muitos pensamentos e sentimentos. Mas a vida é em qualquer idioma “inefável”! Assim como Deus, a vida é inefável, em outras “palavras”, não podemos descrever a vida por causa de toda a sua beleza.