(*) Juliana Melo
Das 631 academias de ginástica existentes em Sergipe, cerca de 7% delas – pouco mais de 41 – solicitaram baixa junto ao Conselho Regional de Educação Física (20ª Cref) ou modificação da atividade. Isso significa que muitos profissionais estão sendo demitidos destas empresas. O presidente do Cref, Gilson Dória, afirma que 4.142 profissionais estão registrados no conselho, mas ele não sabe o número exato de demitidos. Desde meados de março que as academias estão fechadas e ainda não há nenhuma sinalização de quando elas serão reabertas.
O professor de Educação Física, Edvaldo Bezerra, proprietário da Academia Corpo São, no bairro Castelo Branco, foi obrigado a demitir os quatro funcionários – também professores – e diz que se não tivesse outra renda como funcionário público estadual estaria sem recursos para se sustentar.
“Mesmo com as portas fechadas, somos obrigados a pagar as taxas da academia que não foram prorrogadas. Precisamos pagar ao Cref, a taxa de localização e funcionamento, IPTU, e a taxa do contador. É difícil porque não geramos renda e precisamos pagar as despesas geradas pela academia. Se eu não tivesse outra renda, não sei o que iria fazer financeiramente” observa o empresário.
Com quatro anos de existência e 116 metros quadrados, a capacidade da Corpo São, diante de um decreto que possibilita a reabertura do local, seria em média 2 alunos por hora, sendo inviável para Edvaldo.
“Eu estou prescrevendo os treinos para os meus alunos. A maioria deles são alunos de corrida e como eles não têm esteira em casa e nem se sentem, às vezes, à vontade para correrem na rua, eu estou tentando levar algumas atividades diferentes para eles. Eu não sei como será o processo com um decreto de reabertura, visto que isso acontecerá gradativamente de forma que garanta um distanciamento entre os alunos, o que seria difícil para mim. Diante da realidade da minha academia a quantidade de alunos seria irrisória. Eu ainda não pensei como irei proceder” revela Bezerra.
Em casa
O coordenador da academia Salutem Fitness Wellness, localizada no bairro Farolândia, Magno Carvalho, criou o projeto “Salutem em sua casa”. Esse projeto tem por objetivo estimular a atividade física dos alunos diante da atual situação, além de trabalhar com o emocional de cada um dos alunos por meio de uma coach em desenvolvimento humano.
“O projeto é voltado para a realização de aulas online adaptando os treinos duas vezes, em algumas situações três vezes, por semana com horários nos três turnos. Nós ensinamos os exercícios de maneira adaptada ao, como dizem, novo normal. Ou seja, com materiais existentes em casa como garrafas pet, cadeiras, tapetes, cordas etc. Nos preocupamos muito com a saúde mental, com o psicológico dos alunos, porque uma coisa vai desencadeando outras. Síndromes e ansiedades, por exemplo, vão aumentar a alimentação, gerando obesidade, hipertensão, diabetes. O físico e o psíquico estão intimamente ligados, visando isso nós reforçamos o trabalho que nossa coach realiza”, explica Magno.
Com sete funcionários, a Salutem teve uma perda de 40% dos alunos. Magno, no início da pandemia, não tinha ideia da gravidade e do tempo que o isolamento iria perdurar. Diante da situação, que não apresentava melhoras, resolveu no fim de abril iniciar o projeto. O educador físico também é personal trainer, tinha antes do distanciamento social uma média de alunos particulares que variava entre oito a 12, atualmente a média são cinco alunos.
A academia está emprestando alguns equipamentos para os alunos, com hora marcada e respeitando todas as recomendações estabelecidas. Um aluno por vez pode ir à academia para retirar os equipamentos que foram disponibilizados, podendo ter posse sobre os mesmos por uma semana.
“Pesos, halters, anilhas e colchonetes são alguns aparatos para realização dos exercícios que eu estou disponibilizando para meus alunos. Nós fazemos um rodízio com eles. Assim que um dos alunos devolvem, nós fazemos toda a higienização dos equipamentos para poder passá-los adiante para o próximo aluno. Nossa proposta é ser uma academia não convencional, ou seja, nossa academia preza por um atendimento personalizado, trabalhando apenas com 10 alunos por horário. Dessa maneira podemos garantir uma maior assistência para cada um deles”, esclarece Magno.
Mexa-se, reinvente-se.
O estudante universitário Ícaro Figueiredo, 24, reside no bairro Farolândia, tenta se reinventar como pode para manter o físico e evitar a ansiedade.
“Antes da pandemia se instalar no mundo eu estava aos poucos adaptando o meu corpo para retomar as atividades físicas na academia, eu me exercitava por meio de caminhadas e através de aparelhos para realização de atividades físicas instalados nas praças da capital. Quando, enfim resolvi voltar, quando eu já me sentia adaptado para dar continuidade aos exercícios de musculação que eu praticava, para principalmente diminuir umas gordurinhas na minha barriga, que sinceramente me incomodam bastante, se iniciou a quarentena. Eu não tinha noção da quantidade de tempo que ela iria se instalar. A demora criou muita ansiedade em mim, justamente no momento em que eu já me sentia preparado para voltar”, frisa o estudante.
“Eu pratico meus exercícios em casa, com o que eu tenho. Pesquisei a realização desse tipo de treino pelo Youtube, montei meu próprio horário para a execução dessas atividades embasadas no meu conhecimento prévio em academias e montei minha rotina. É difícil por não ter os aparelhos, e não ter instrução. Por vezes tenho receio de cometer algum erro. Garrafas pet cheias de areia são uma das adaptações. Eu tenho pesos de pernas que utilizo nos braços, além de um cabo de vassoura que eu coloco uns pesos nele e vou fazendo. Eu me sinto desaminado para praticar, mas eu sempre venho me policiando porque eu sei a importância que isso gera para minha mente e para o bom funcionamento do meu corpo”, revela Ícaro.
Em contrapartida o universitário revela que as aulas online das academias são importantíssimas, mas um pouco inviáveis para ele pelo fato de não cumprir os horários das aulas, devido a outras atividades que realiza, e por preferir respeitar seu próprio tempo.
“Eu gosto da autonomia, em poder criar meu horário. Nas aulas online sou obrigado a cumprir um horário, então mesmo diante das dificuldades de não ter orientação eu optei por tentar sozinho. Estou praticando os treinos há praticamente dois meses e meio e me sinto realizado todas as vezes que os encerro, a sensação de dever cumprido me permite um deleite muito grande. Daqui a pouco mesmo já estarei indo pegar minhas garrafas pet, calçar meu tênis, colocar meu bonezinho irado e começar a trabalhar este corpo e essa mente inquieta, garantindo minha qualidade de vida”, disse o universitário.
(*) Estagiária sob supervisão do jornalista Antônio Carlos Garcia