Quando conhecemos um poeta/escritor por indicação de um outro bucaneiro camarada ligado às artes, é lógico que a tendência é a boa surpresa, o contentamento, a boniteza do descobrimento. É quase uma regra isso, raríssimo dar errado. Quando o escritor Rômulo César Melo me falou sobre o Newton Messias, já fiquei naquele aguardo esperançoso. Aí com pouco tempo recebi em casa o livro EM MAR ALBERTO – 101 RETRANCAS (Mondrongo, 2019), e foi como eu ter colocado a bola na marca do pênalti. Estava tudo pronto.
O livro do Newton é um evento completo. Palco, torcida, árbitros, jogadores (os versos), traves… Newton é o treinador, e por sê-lo escolheu a “retranca”, forma poética invencionada e difundida em primeiras doses por Alberto da Cunha Melo, uma espécie de Telê Santana neste estilo de jogo poético. Mesmo eu, meio avesso às formas fixas na literatura em geral, não tive como esconder o engraçamento instantâneo para com as letras que estavam diante dos meus olhos quando da leitura do EM MAR ALBERTO… foi num zás e pronto, já havia lido o rebento do Newton.
Primeiro: gostei deveras por estar ali aprendendo sobre uma forma de poesia ainda desconhecida para mim. Segundo: o Newton me provou que é um poeta que, apesar de escolher a “retranca”, gosta mesmo é de jogar no ataque. E em time que está ganhando, meus nobres, não se pode mexer nem ousar falar mal. Encantado com aquele time de poemas logo de cara, coloquei-me como um torcedor na arquibancada. Fui torcendo, torcendo, torcendo, a cada novo poema, a cada novo terceto, a cada novo quarteto, a cada novo dístico, a cada nova composição. Resultado: o time de poemas que o técnico Newton Messias colocou em campo não só ganhou o jogo, como também se classificou para as finalíssimas do campeonato, universo em que só os bons ou muito aguerridos conseguem chegar.
O livro está dividido em quase uma dezena de partes: espelho dágua (um poeta mais voltado para si, com toques narcísico-filosóficos bastante proeminentes); água no joelho (um poeta que prefere falar sobre táticas de guerra “literária” e adendos; arrecifes (um poeta livre em seus cotidianos de fé e de voragem); água nos ombros – retrancas de Peroba (um poeta dentro-e-fora do mar, perscrutando a sinfonia de Poseidon; água nos ombros – retrancas de Aldeia (um poeta ainda mais dentro dos chãos e mais perto das luas engaivotadas); sereias: mar aberto (um poeta com os seus, domando a Poesia – leoa marinha); água sobre a cabeça (um poeta ferido, salvo pela dor salina do viver). Ao todo, um bom e grosso apanhado sobre um pouco de todas as coisas do mundo embebido em uma forma estável, porém apta à causa das instabilidades gerais dos instantes.
O livro EM MAR ALBERTO – 101 RETRANCAS nos leva diretamente para os oceanos albertinos das primevas inovações, mas também possui a capacidade de nos revelar maduros traços senso-musicais e semântico-discursivos de um Newton Messias gaio, sabedor das errâncias, obra com águas de lastro suficientes para pousar em cabeceiras insones de leitores ávidos por uma voz de poesia realmente nova e firme.
GERMANO XAVIER – Newton, por que a Retranca?
NEWTON MESSIAS – Porque tenho simpatia pelas formas fixas. Logo que conheci as retrancas do Alberto da Cunha Melo, comecei a escrever nessa forma muito interessante e mais na medida para a linguagem contemporânea do que o soneto.
GERMANO XAVIER – Quem é Alberto da Cunha Melo para você e como anda o cenário poético ligado à produção de “Retranca” na poesia nacional? Há algum poeta que usa esta forma em outro país?
NEWTON MESSIAS – Alberto da Cunha Melo foi um poeta pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, falecido em 2007. Sua obra completa foi publicada pela Record em 2017, contendo seus livros lançados e uma grande quantidade de poemas não publicados em vida. Sua obra mais conhecida é o narrativo Yacala, de 1999, todo escrito em retrancas. Em 2018, a editora Mondrongo lançou a Antologia Brasileira da Retranca, com a participação de 35 poetas de todo país, mostrando que o poeta e sua forma não são tão desconhecidos quanto alguns, inclusive eu, achavam.
GERMANO XAVIER– Por gentileza, Newton, fale-nos um pouco mais acerca do seu EM MAR ALBERTO – 101 RETRANCAS (Mondrongo, 2019)? Como foi o processo criativo da obra?
NEWTON MESSIAS – Em Mar Alberto é o meu segundo livro de poesia, o primeiro, Passagem, foi uma edição pessoal. Comecei a trabalhar com as Retrancas no início de 2017. Estimulado pela Cláudia Cordeiro, grande divulgadora da obra do Alberto, seu companheiro, cheguei ao número de 101 poemas no final de 2018. O Gustavo Felicíssimo, dono da Mondrongo, que tem um livro só de Retrancas, e que conheci pela internet em 2017, topou publicar a coletânea. No livro, passeio por diversos temas: poesia, política, sociedade, religião, amor, etc. A influência da dicção albertina é bem evidente, mas procurei imprimir um estilo pessoal, o que espero ter alcançado. Foi assim.
GERMANO XAVIER – Vou repetir a mesma pergunta que fiz recentemente para o escritor Rômulo César Melo: parafraseando e ampliando o pensamento de David Lodge, para o qual todo texto implica em uma constante troca, envolvendo estruturas formais e todas as aberturas que a vida nos possibilita, o que você pensa sobre a relação Forma fixa (Retranca) x Poesia x Contemporaneidade?
NEWTON MESSIAS – nenhum poeta cria a partir do nada, apesar de alguns imaginarem poderem fazer algo bom sem partir de alguma tradição. Ilusão. Tenho muito respeito pelos poetas que me precederam, e reconheço no que faço a forte influência de vários deles e delas. Não acho que a forma fixa e o verso rimado morreram. Também não acho que faz sentido escrever sonetos como os parnasianos escreviam. Os temas e o estilo devem refletir as preocupações do complexo mundo contemporâneo, com sua fragmentação, angústias e crises. Valorizo igualmente tanto a tradição quanto a inovação, o passado e o futuro, o verso medido e o livre. As formas estão a serviço da poesia e do poeta, nunca o contrário.
GERMANO XAVIER – Newton, você possui formação em Música. De que forma seus conhecimentos musicais perpassam o seu fazer literário? Há simbiose? Fale-nos um pouco sobre a importância da Geração de 65 para o cenário nacional, suas maiores referências e, se possível, fale-nos também sobre seus planos literários futuros.
NEWTON MESSIAS – A música me deu um bom ouvido para o som e para o ritmo do verso, sem dúvida, vários leitores já me disseram isso. No mais, não sei como minha formação afeta minha poesia. Espero que você me diga.
A geração de 65 é milagrosa: além do Alberto, gosto e leio Paulo Gustavo, Ângelo Monteiro e José Mário Rodrigues. Também Marcus Accoly, José Luiz, Frederico Spencer, Terezinha, etc. É um grupo que todo poeta pernambucano que valoriza a tradição deve conhecer pela qualidade de seus trabalhos.
Minha influência mais óbvia é o Alberto da Cunha Melo, mais, e o João Cabral de Melo Neto, menos. Também não dá pra escapar do Drummond e da Bíblia.
O próximo livro deve conter mais poemas em versos livres, mas também retrancas, sonetos, redondilhas, haicais, etc. Eu gosto dessa versatilidade em poesia. Minha musa é multiversátil.
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