Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Parti de São Luís, minha Ilha do Amor, no derradeiro dia de 2023. Passei por duas megalópoles, São Paulo e Nova York, desembarquei na charmosa Amsterdã. Vi o frenesi das pessoas. De lá segui de trem para a pequena Leusden. Deixei o calorão e a violência do Brasil, e estou no frio europeu, em uma pequena e bucólica cidade no centro da Holanda. Gosto dessa alternância de lugares, de pessoas e climas. Como ser de transição, em constante movimento, gosto de viajar, estar em diferentes lugares. Sempre me fascinou a pluralidade de lugares no mundo.
Chove lá fora, faz frio, os dias aqui são mais curtos; nove da manhã e ainda está escuro. Enquanto escrevo, tomo um café quente, vejo pela janela a relva molhada, esquilos subindo em árvores. Folhas amareladas no chão.
Sou um nordestino que não gosta de calor. Gosto da tranquilidade e mansidão de Leusben. Sem correria, tenho a impressão de que o tempo por aqui parou. Às vezes, penso que o tempo age como um filtro, separando o passageiro do eterno.
“Há uma cor que não vem nos dicionários. É essa indefinível cor que têm todos os retratos, os figurinos da última estação… a cor do tempo”, escreveu Mário Quintana, o poeta das coisas simples.
Atravessei o mundo para nesta manhã fria usufruir de um tempo tranquilo, que perdi faz tempo. Não entendo tanta correria ao meu redor. Todos se queixando que não têm tempo para realizar pequenos desejos. Todos corridos, assoberbados em seus pequenos mundos, administrando seus infernos particulares. É comum ouvir de jovens, adultos, velhos, homens e mulheres, reclamações de que o tempo está passando rápido. Ledo engano, na verdade, são as pessoas que estão passando rápido: envelhecendo, adoecendo e morrendo, enquanto o tempo, impávido, segue seu curso.
Não sou homem de fazer promessas de ano novo, apenas tento melhorar algo que não gosto em mim. Uma coisa que gostaria de ter, ou resgatar em 2024, tempo para pequenos luxos: tempo para observar entardeceres, ouvir música, ler os livros que tenho e os que vou adquirir, de preferência em papel. Tempo para um café com pessoas queridas, que me têm atenção, e que gostem de conversar; pessoas que não se levem a sério, que saibam rir de pequenas coisas. Tempo para escrever. Tempo para ficar com meus filhos Rodrigo e Frederico, e com meus amigos de quatro patas, Duck e Fiona. Esses nasceram para amar incondicionalmente. São fontes de amor sem limite.
Com o tempo aprendi que quando me arrumo por dentro, consigo usufruir melhor do mundo lá fora.
Observo novamente pela janela, os patos singram um lago tranquilo. Um casal passa de bicicleta. Crianças caminham sem pressa. A Holanda deve estar classificada com blue zones, os lugares do mundo onde as pessoas vivem mais, e com melhor qualidade de vida.
As blue zones são regiões de diversos países, em que pesquisadores comparam hábitos dos moradores locais, a fim de identificar o que têm em comum, sendo hoje clarificada com “saúde extra”.
Caro leitor, amiga leitora, oxalá tenhamos um 2024 mais calmo, com tempo para realizar desejos e melhor qualidade de vida.
Texto muito bem escrito. Crónica leve e sedutora. O leitor viaja com o autor.
Também não sou muito afeito ao calor.
Meus cumprimentos.
Léo Mittaraquis