A professora titular do curso de Farmácia da Universidade Tiradentes e do programa de pós-graduação em Saúde e Ambiente também da Instituição de Ensino Superior, pesquisadora do Instituto Tecnologia e Pesquisa (ITP), Juliana Cordeiro, disse que os resultados das vacinas para conter a pandemia da Covid-19, mesmo sem publicação em revista científica, são confiáveis.
Ela explica que “existe uma comissão independente de avaliação para cada um desses dados de vacina”. Essa comissão é formada por “pesquisadores renomados da área que não têm nenhum conflito de interesse, ou seja, não recebem nenhum dinheiro, não tem nenhuma relação com a indústria e eles vão analisar friamente os dados. Uma coisa é mercado e outra é a publicação em revista científica. A publicação numa revista traz mais respaldo. Existe uma muita coisa, muita fiscalização no meio”, assegura.
Desde o primeiro registro de coronavírus até agora, já se passaram 10 meses, e os cientistas buscando desenvolver vacina eficaz para conter a pandemia que paralisou setores econômicos e sociais em quase todos os países. No Brasil, nenhum laboratório solicitou ainda o registro de sua vacina à Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o órgão diz que precisará de pelo menos 60 dias para analisar eventuais pedidos, mas o governo federal apresentou plano de imunização.
Esse plano, que será concluído após registro de uma imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), terá quatro fases. Em cada etapa serão atendidos determinados tipos de públicos, escolhidos a partir do risco da evolução para quadros graves diante da infecção, da exposição ao vírus e de aspectos epidemiológicos da manifestação da pandemia no país.
Questionada sobre em que consiste estudos em fases três, Juliana explicou que são testes para verificar a eficácia. “Em um primeiro momento, os laboratórios fizeram de fase dois, que é para checar os efeitos adversos, mas em uma pequena população. Agora, aumentaram o número de pessoas e estão vendo se realmente vai contra o coronavírus. Imagine que tem 100 pacientes, 50 deles vão receber a vacina de verdade e 50 um placebo. Quando 100 pessoas foram infectadas, vão verificar quem foi infectado, quem foi vacinado ou não. Por isso, se fala em cobertura de 90%, isto é, de 100 pessoas, 90 estavam no grupo placebo e 10 no grupo vacinado”.
OMS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre as quase 200 propostas de vacinas em testes, 44 chegaram à fase de experimentação em humanos, chamada de estudos clínicos. Dessas, um grupo de 10 projetos atingiu a fase três de estudos, em que dezenas de milhares de voluntários são recrutados para comprovar se a vacina é mesmo capaz de proteger sem causar danos à saúde.
Por ainda apresentar grande circulação do vírus, o que acelera as pesquisas, o Brasil tem sediado alguns desses testes com milhares de participantes. Receberam autorização para experimentos de larga escala no país as vacinas desenvolvidas pelos laboratórios AstraZeneca/Oxford, Sinovac, Janssen e Pfizer/Biontech/Fosun Pharma.
Impacto
Na avaliação da pesquisadora, o desenvolvimento da vacina contra o coronavírus impacta no domínio de novas tecnologias na produção farmacológica. “A indústria farmacêutica se alimenta da ciência. O domínio de novas tecnologias na produção de vacinas será grande. As indústrias que produzem vacinas deram salto muito grande. Quando uma empresa domina uma tecnologia e patenteia isso, ela lucra por muitos anos. É um investimento a longo prazo”, explica.
Cuidados
Enquanto a vacina não está disponível, a população deve seguir os protocolos de segurança, respeitando distanciamento social, usando máscaras e higienizando as mãos.
Na noite da quarta-feira, 02, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) divulgou o boletim epidemiológico do coronavírus, com 534 casos e quatro novos óbitos. Em Sergipe, 90.920 pessoas já testaram positivo para covid-19 e 2.316 morreram. Em Aracaju são 42.347 casos e 849 mortes.