quinta-feira, 21/11/2024

Por que as pessoas não conseguem poupar dinheiro?

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David de Andrade Rocha (*)

Existem várias teorias sobre o porquê de a maioria das pessoas não conseguir poupar dinheiro. Esse é um dos maiores problemas do país, já que sem a cultura de criar uma poupança as pessoas tendem a ficar desprotegidas em momentos de dificuldades financeiras e o governo também não consegue suprir todas as necessidades da população.

Um estudo feito nos Estados Unidos da América comprovou que em grande parte a população jovem do país não poupa dinheiro para os dias vindouros. Lá o dado foi alarmante, já que mostrava que apenas 23% dos jovens entre 20 e 30 anos (início da carreira profissional) tinham algum investimento.

 

A pergunta que vem à tona nesse caso é: Por que as pessoas não conseguem poupar?

A primeira resposta, inclusive correta por sinal, é que as pessoas não conseguem poupar porque gastam mais do que ganham. Verdade, em geral as pessoas gastam mais do que recebem e sabemos que isso é cultural. Logo, devemos nos aprofundar nesse problema que afeta muito nossas vidas e a de nossos conhecidos.

Esse gasto excessivo é muitas vezes realizado de forma inconsciente e de maneira a continuar um hábito que nos foi ensinado ou demonstrado quando éramos crianças. Esse hábito vem de gerações e é por isso que muitas vezes compramos algo que não precisamos, gastando um dinheiro que não deveríamos, isso tudo sem pensar direito no assunto. A verdade é que estamos seguindo um padrão social.

Vejamos. Não temos ainda no ensino primário aulas de educação financeira. Na verdade essas aulas não nos foram apresentadas nem mesmo no ensino fundamental ou no ensino médio. Mesmo nos cursos superiores de Economia, Administração e Contabilidade não temos nenhuma matéria chamada Educação Financeira ou mesmo Administração do Dinheiro.

Logo, tendemos a utilizar o dinheiro de forma intuitiva, o que permite inclusive que seja utilizado de forma impulsiva, e aí caímos na armadilha de gastar mais do que ganhamos, já que temos cartão de crédito e cheque especial para nos ajudar a comprar aquilo que está além de nossa renda mensal.

O problema é que depois nos sentimos culpados, ou culpamos os cartões, quando na verdade não necessariamente agimos errado, já que fomos ensinados assim e esse hábito está tão enraizado que quando nos sentimos culpados por ter comprado algo. Muitas vezes pensamos em comprar mais para calar aquela voz inquisitiva que nos perturba.

Devemos, na verdade, lutar contra o hábito e não encontrar culpados; depois devemos reprogramar o hábito para que possamos gastar menos do que ganhamos e a partir daí criamos uma reserva de dinheiro que nos permite investir para conseguir algo melhor no futuro e sem o sentimento de culpa.

Para reprogramar esses hábitos financeiros podemos usar as cinco dicas. Elas me foram bem úteis para reprogramar esses hábitos e ainda o são, pois as uso toda vez que percebo uma recaída ao impulso de comprar no momento.

Cinco dicas para poupar e gastar menos do que ganha.

1 – Poupe antes de tudo

Essa é bem clichê de tão recomendada que é, já que ela produz efeitos ótimos no curto prazo na forma como podemos acumular dinheiro para o futuro. Essa dica propõe que antes de pagar as contas ou até mesmo sacar o dinheiro, a pessoa poupe ao menos 10% de sua renda em uma conta que ela não mexa de jeito nenhum.

Isso faz com que à força a pessoa poupe e veja seu capital acumulado crescer enquanto rende, mesmo que pouco, a cada mês. Se a pessoa sabe que pode acabar caindo na tentação de gastar esse dinheiro que poupa mensalmente, ela deve guardá-lo em produtos de investimento que não permitam que ela gaste, por exemplo: Previdência Privada.

Nunca esqueça que esse dinheiro deve ser usado como uma forma de pagamento a si mesmo, antes de pagar as suas outras contas, como diz o seguinte texto retirado do livro “O homem mais rico da Babilônia”:

Você não paga pelas roupas e pelas sandálias que usa? Não paga pelas coisas que come? Consegue viver na Babilônia sem fazer despesas? O que tem para apresentar do que recebeu no mês passado? E de tudo quanto ganhou no último ano? Louco! Você paga a todo mundo, menos a si mesmo. Idiota, está trabalhando para os outros. Bem melhor do que isso faz o escravo, que trabalha para o seu dono em troca de roupa e comida”. – George S. Clason.

 

O autor usa palavras para chocar de tal maneira que a pessoa entenda que se trabalhar sem guardar nada para si, deveras estará em situação muito ruim, pois no dia em que a adversidade chegar ela estará desprevenida. Lógico que a importância de poupar ao menos 10% de tudo quanto ganhe antes de pagar as outras coisas vai bem além de poupar para as adversidades, já que quando temos uma reserva financeira podemos muito mais aproveitar oportunidades.

2 – Saiba de onde o seu dinheiro vem e para onde ele vai

Saber exatamente para onde está indo o dinheiro que recebemos é uma das coisas mais importantes que podemos fazer quando tratamos de controle financeiro. Para saber de onde vem e para onde vai nosso dinheiro não precisamos de uma planilha detalhada, na verdade, precisamos apenas de uma folha de caderno, onde anotamos acima a Receita, que é a soma de tudo o quanto ganhamos no mês. Passando uma linha abaixo da receita, escrevemos as Despesas, aqui anotamos todo o dinheiro que gastamos de nossa receita. Anotamos tudo, as contas pagas, coisas que compramos, supermercado e tudo mais, principalmente os gastos pequenos.

No fim da folha anotamos a Poupança, que deve ser no mínimo 10% do que a pessoa ganhou. Com isso faz a conta Receita-despesas-poupança e vê o quanto sobrou no fim do mês, não se surpreenda se sobrar dinheiro no fim do mês mesmo você já tendo anotado a poupança, seguindo essas dicas é normal que sobre dinheiro.

3 – Corte o desnecessário

Esse é outro clichê, mas cortar o desnecessário agora será bem mais fácil, já que já temos noção do que gastamos. Após uns três meses anotando tudo o que gastamos, podemos facilmente ver o que compramos apenas por hábito, ou seja, o que compramos sem nenhuma necessidade, assim podemos quebrar esse hábito e parar de comprar tais produtos, ou somente diminuir a quantidade que compramos, pois às vezes não damos importâncias a esses gastos por eles serem pequenos, mas a quantidade que compramos pode ser um problema.

4 – Tenha objetivos

Ninguém irá poupar, anotar os gastos e cortar o desnecessário se não tiver definido um objetivo financeiro. Então reflita: o que você mais quer que exige uma reserva financeira formada? Estabeleça objetivos de médio e longo prazo e foque nesses objetivos cada vez que for comprar algo por impulso. Um bom conselho que escutei no passado foi: tenha um objetivo, anote-o em um papel e cole em seu cartão de crédito, assim toda vez que você for comprar algo com o cartão, você verá o papel dizendo o seu objetivo. Isso tende a fazer com que a pessoa não compre por impulso.

Por exemplo:

Digamos que quero viajar em 18 meses para o exterior. Estou poupando e cortando gastos para que sobre algum dinheiro a mais no fim do mês, mas passando por uma loja no shopping eu vejo uma bota de couro que custa normalmente R$ 300,00 sendo vendida hoje por R$ 150,00. Penso que poderia ser uma boa levar aquela bota de couro, aliás, irei viajar e no país que vou pode fazer frio. Mas na hora de passar a bota vejo no cartão o objetivo. Logo, me vem à mente que aquele gasto não planejado pode ser adiado, pois fazê-lo hoje pressionaria as contas no mês seguinte, podendo ameaçar todo o planejamento da viagem.

Por isso ter objetivos é, em suma, muito importante, já que podemos frear o impulso de compra. Já sobre ter um objetivo de médio prazo e um de longo nos permite aproveitar um pouco do engajamento em poupar para nos divertir. Isso é psicologicamente importante, pois já foi comprovado que se nos esforçamos a poupar de forma a não aproveitar nada disso, no longo prazo tendemos a desistir e gastar todo o dinheiro acumulado apenas para buscar satisfação imediata.

Logo, ter um objetivo a ser concluído em 12 a 18 meses e outro em 60 meses, muitas vezes dá mais certo do que apenas poupar para comprar, digamos, um carro daqui a 60 meses, pois só tenderíamos a desistir no meio do caminho.

Então, sempre tenha objetivos reais e concretizáveis.

5 – Preste atenção aos pequenos valores

Lembra que falei que muitas vezes, quando anotamos os gastos, vemos que os itens de pequenos valores nos passam despercebidos e por isso compramos em grande quantidade, o que faz com que percamos bastante dinheiro.

Imagine aquelas moedas do troco que jogamos em algum lugar do carro e damos ao primeiro rapaz que nos pede uma moeda em um sinal ou ao flanelinha que supostamente garante a segurança de nosso carro na rua; ou talvez imagine quanto gastamos de cafezinho ou em balinhas quando a moça do caixa não tem trocado para nos devolver.

Na verdade, esses e outros pequenos gastos consomem uma grande quantidade de dinheiro quando falamos de um período anual. Um exemplo disso foi dado em 2013 por André Morais em um vídeo chamado “Se afastando da manada”, nesse vídeo ele dizia que se você reduzir apenas uma xícara de café por dia e um copo de chopp por semana em São Paulo, em dois anos você compraria uma moto 125 cilindradas, em cinco anos seria possível comprar um carro popular, isso, claro, alocando esse dinheiro em algum lugar que rendesse ao menos 1% ao mês.

Com esse exemplo podemos ver como, na verdade, tendemos a não prestar atenção nos pequenos valores. Por isso, anotá-los nos dará uma grande vantagem nesse aspecto. Some a isso o fato de não termos em geral uma cultura de pedir descontos quando vamos comprar itens de valores mais elevados, ou mesmo de negociar os valores de alguns planos como, por exemplo, o de internet móvel.

Em seu livro “Os 10 mandamentos da Prosperidade”, Marcos Silvestre mostra com cálculos detalhados que se conseguirmos reduzir nossas despesas mensais em R$ 50,00 apenas, e investindo esse valor na Caderneta de Poupança (produto mais conhecido do brasileiro quando se fala de investimentos) em dois anos seria possível fazer uma viagem ao exterior com tudo incluso. Em cinco anos poderia comprar uma moto nova, em seis anos seria possível fazer um intercâmbio completo e em 10 anos seria possível comprar um carro popular novo.

Os dois exemplos mostram, cada um à sua maneira, como cortando os pequenos gastos podemos poupar para conquistar algumas coisas que desejamos. Claro que há diferença de tempo entre os dois exemplos, pois os cálculos do André fariam com que a pessoa economizasse bem mais que R$ 50,00 por mês, já que um cafezinho no exemplo dele custava R$ 2,50, ele pouparia só nisso por volta de R$ 65,00 e ainda reduzia um chopp por semana e investiria esse dinheiro com retorno de 1% a.m. No outro exemplo, era R$ 50,00 por mês investido a 0,5% a.m.

Essas cinco dicas podem te ajudar a poupar e melhor, gastar menos do que ganha. É um trabalho de fato prazeroso colocar essas dicas em prática e ver seus resultados com o passar do tempo é ainda mais magnífico.

Até a próxima.

(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.

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