A política é a prática social que permite a coordenação da conduta coletiva em prol de uma estabilidade comunitária.
Por conta disso, desejar saúde após um espirro, dizer “amém” após uma prece, parar no sinal vermelho, exercer o direito de greve, ocupar uma fazenda improdutiva ou destinar fundos para escolas públicas são atos políticos.
O geógrafo Milton Santos via na política a arte de sonhar a mudança e colocá-la em prática; já o jurista Rui Barbosa a percebia como a “a higiene dos povos moralmente sadios”.
Ao contrário de todos nós, esses dois baianos (Alô, Sandro Fantinel!) sabiam dimensionar exatamente o que é e para que serve a política.
Foi por meio da política que, milênios atrás, descemos das árvores e hoje estamos a caminho de Marte.
Em 1983, antes do advento da Constituição Cidadã de 1988, o Brasil possuía 30% de sua população vivendo na extrema pobreza. Em 2014, depois de 20 anos de governos sociais-democratas, a política conseguiu reduzir essa proporção para 3,3% do total de habitantes.
Sem política não há civilidade e nem desenvolvimento social.
Mas, então, voltando à pergunta-título: Por que odiamos fazer política?
A resposta é mais simples ainda: Porque somos idiotas!
Sim, a palavra é justamente essa.
Tendo na origem o termo latino “Idhios”, sem a atual carga pejorativa, na Roma Antiga dava-se o epíteto de “Idiota” àquela pessoa que trabalhava, estudava, ia para o templo, pagava impostos, protegia sua família, cuidando apenas de seus afazeres e pensando somente em “vencer na vida”, sem grandes preocupações com o ambiente político.
Em contrapartida, àquele indivíduo que devotava real interesse pelas coisas da cidade – pólis, em grego – os romanos denominavam cidadão.
Logo, complementando a última resposta, nós não nos importamos devidamente com a política porque, como diriam os romanos, nós somos idiotas e não cidadãos e cidadãs.
Não é por acaso que os Parlamentos e as sedes dos Governos estão lotados de ricos e de empresários, ou de seus representantes, enquanto estão carentes de professores, comerciários, bancários, urbanitários, profissionais da saúde, camponeses e servidores públicos.
Por causa de nossa Idiotia, na acepção romana da palavra, atualmente a política é feita justamente por aqueles que pouco ou nenhum interesse têm na real solução dos verdadeiros problemas sociais.
Basicamente, a Plutocracia subjugou a Democracia. E a nossa Idiotia é causa primeira desse fenômeno.
A nossa Idiotia é tão grande que nós não nos sindicalizamos, não nos associamos, não nos partidarizamos (nem à reunião do condomínio nós vamos!), mas nós queremos o fornecimento de serviços públicos de qualidade.
É óbvio que a política é coalhada de defeitos e vícios, mas ela é assim justamente porque ela é o melhor espelho da nossa condição enquanto espécie. Pouquíssimas coisas são mais humanas do que a política.
Por sinal, parafraseando o apóstolo Paulo, em outras situações cotidianas, como quando, por exemplo, professamos uma religião, nós estamos nos encarando, em enigma, como se por um vitral, mas quando fazemos política, nós estamos nos vendo face a face, da forma mais crua e honesta possível.
Então, a política será tão boa quão melhor for a nossa forma de participação.
Por isso que é importante que nós façamos política, que nós nos sindicalizemos, que nós nos associemos, que nós nos partidarizemos.
Façamos política em escala industrial, porque se assim não for, não teremos capacidade para, retornando a Milton Santos, sonhar com a mudança e colocá-la em prática.
Façamos política de modo ostensivo, porque senão, nunca chegaremos ao status de cidadãos e cidadãs, continuando tão somente como simples idiotas.
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(*) É doutor em Administração pelo NPGA/UFBA e mestre em Economia pelo NUPEC/UFS