Por Emerson Sousa (*)
Aceita, porque dói menos: nós somos Pobres!
Isso quer dizer que os nossos níveis de renda são incapazes de atenderem, efetivamente, a totalidade de nossos desejos, de nossas vontades e de nossas necessidades.
E isso faz de nós Pobres!
Assim, por sermos Pobres, nós precisamos continuamente vender nossas forças, nossas habilidades, nossas aptidões e nossas competências se quisermos manter ou melhorar os nossos estilos de vida.
Ricos não precisam disso, eles já possuem mais do que necessitam, muito mais!
Então, nós não poupamos, apenas postergamos o consumo.
Nós não temos capital. No máximo, alguns privilegiados conseguem acumular alguma reserva, que se esvai na primeira emergência.
Nós somos uma espécie tão despossuída que, atualmente, metade da população mundial adulta recebe, individualmente, até algo equivalente a R$ 1.900,00 por mês.
Sim, essa é uma realidade que atinge todo o planeta!
Logo, se a ampla maioria de nós é assim, o esperado é que a organização do circuito produtivo seja feita de um modo em que sejam atenuados os efeitos de nossa pobreza.
Noutras palavras, a economia deveria ser estruturada a fim de atender aos interesses dos Pobres.
No entanto, não é isso que acontece.
Na verdade, toda a economia é organizada sob a óptica de sua mais garimpada minoria: os Ricos.
Nossa estrutura produtiva não é conduzida sob a necessidade de diminuir as deficiências dos Pobres e sim, apenas, para garantir a acumulação dos Ricos.
Isso é um erro, porque enviesa a forma como o ser humano emprega os fatores de produção.
Os esforços produtivos não são direcionados para atender as carências humanas.
Pelo contrário!
Eles são inicialmente feitos para garantir a lucratividade dos ricos.
Se isso acabar resultando na melhoria da qualidade de vida para o resto da população, ótimo.
Se não, paciência!
Ocorre que isso resulta em uma série de problemas sociais, políticos, econômicos e ambientais.
Degradação dos recursos naturais, concentração de riqueza, desequilíbrio de poder, persistência da fome e das endemias, explosão da violência, atentados contra a democracia e as mais diversas formas de exclusão social derivam dessa anomalia.
É preciso que isso seja modificado.
Os Ricos já não podem ser mais o objetivo da organização do sistema produtivo. Esse deve ser modificado em favor do atendimento e da solução dos problemas enfrentados por nós, os pobres.
Enquanto os Ricos forem inseridos nos modelos que procuram debelar as mazelas sociais, essas não serão erradicadas, porque o interesse deles é diametralmente oposto ao interesse coletivo.
A sociedade anseia por ampliar os níveis de cidadania e de bem-estar, os Ricos focam apenas no aumento de suas taxas de rentabilidades.
E, muito raramente, esses dois objetivos se equilibram.
Não é por acaso que o 1% mais rico da população mundial usurpa para si 19% da renda e 38% da riqueza, enquanto o 50% mais pobre fica somente com 8% da renda e menos de 1,8% da riqueza.
E há lugares no planeta em que esse quadro é ainda mais horroroso, como é o caso do Brasil.
Logo, nós temos que mudar o eixo da forma como a política é feita e colocarmos o interesse dos Ricos em segundo ou terceiro plano.
A nossa dignidade é que deve vir em primeiro lugar.
A nós, Pobres, interessa apenas a redução das desigualdades, a sustentabilidade ambiental, a ampliação dos níveis de cidadania, incrustados no aumento da oferta de serviços públicos, e a criação de um contexto de pleno emprego.
Em suma, nós devemos nos empenhar por criar uma política para os Pobres!
Ou seja, uma política para nós e não para os Ricos.
O resto é secundário, devendo ser apenas encarado como acessório ou decorrência.
Parabéns pelo artigo!
Claro, objetivo e muito explicativo.
Vou planejar uma aula para debatê-lo.
Obrigada.