Na última semana, celebramos a Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, período religioso e preparatório de 40 dias de duração e que antecede a Semana Santa, marco maior da Igreja Católica, quando então festejamos a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte.
Certa vez me questionaram: por que 40 dias? Interessante relatar que o período Quaresmal ou Quadragésima traz consigo um simbolismo único e deveras sagrado, girando em torno do número 40, muito presente também em várias passagens bíblicas, tanto no Antigo como no Novo testamento. Citamos, por exemplo, os 40 dias de duração do grande dilúvio (Gênesis 7:4-12); os 40 dias de Moisés no Monte Sinai (Êxodo 24:18); 40 dias de penitência dos moradores de Nínive em busca do perdão do GADU (Jonas 3:4-5); os 40 dias que o profeta Elias gastara para alcançar o Monte Horeb no qual encontrar-se-ia com D’us (I Reis 19:8); 40 anos duraram os reinados de Saul (Atos 13:21), Davi (II Samuel 5:4-5) e Salomão (I Reis 11:42) os três primeiros reis de Israel.
Como também as seguintes passagens no Evangelho: 40 dias após o nascimento, Jesus foi levado por Maria e José ao Templo para ser apresentado ao Senhor (Lucas 2:22); 40 dias de retiro de Jesus no deserto, em jejum, antes de iniciar sua pregação pública (Mateus 4:2 e Lucas 4:1-2); por 40 dias Jesus Ressuscitado visitara seus discípulos antes de subir ao Céu e enviar o Espírito Santo (Atos 1:1-3).
Vale ressaltar que, para adentrarmos em qualquer empreendimento em nossas vidas, quer projetos pessoais, familiares, educacionais ou laborais, é fundamental um planejamento adequado, pautado na sabedoria em buscar o conhecimento e planejar adequadamente como aplicá-lo, na força para perseverar diante das agruras e em muito treinamento pois, somente assim, evitaremos percalços e derrotas.
Como bem dissera Elmer G. Letterman, “a sorte (ou sucesso, em meu entendimento) é o encontro (justo e perfeito) da preparação com a oportunidade”. Desde uma reforma em casa ou escritório, à elaboração do orçamento doméstico, roteiro da viagem em família, aulas de reforço antes de provas e concursos, treinamento das equipes de saúde ou dos operários nas fábricas, enfim, todas essas medidas preventivas ajudam e fazem-nos entender melhor a missão dada e o caminho a ser seguido, tornando-nos mais confiantes e seguros e, por conseguinte, propensos em lograr êxito e receber a recompensa devida.
Somos, portanto, convocados neste momento para nos fortalecermos com o Espírito Santo, nos armarmos com as Sagradas Escrituras e nos prepararmos para cumprir o compromisso a nós confiado, combatendo o bom combate e guardando a fé, bem como o apóstolo Paulo nos ensinara. Devemos começar o tempo quaresmal com o “pé direito” e mormente de mente e coração abertos e preparados, passando a borracha nos problemas e vícios de experiências equivocadas de outrora, sendo conduzidos, pois, a virarmos a página rasurada do “livro da vida” e escrevermos doravante uma nova história, reconhecendo como premissa básica nossa pequenez ante o Tudo, que somos seres iguais entre si, sem qualquer distinção de raça, credo, nível intelectual ou classe social, tão insignificantes quanto o pó do qual nascemos e no qual, inevitavelmente, sucumbiremos.
Oxalá haja, nestas cinco semanas que ainda nos restam antes da Páscoa, verdadeira e sincera reconciliação com D’us e irmãos, reflexão profunda das nossas atitudes, intensos estudos e meditações, ações de caridade e, sobretudo, jejum e muita penitência, visto que ao reconhecermos nossas falhas, perdoando nossos algozes e praticando a benevolência, elevamo-nos espiritualmente, vencemos os obstáculos que se revelam a cada instante, sem perdermos os passos do Mestre dos Mestres, Jesus. Conhecendo a nós mesmos, assim como ensinara o filósofo grego, poderemos lidar com as diferenças e conquistar o mundo, não pela violência ou imposição, entretanto pelo convencimento e exemplo, lutando contra a ignorância, superstição e tirania e construindo templos à paz, harmonia e concórdia.
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41). “Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo” (Marcos 13:33).
Rogamos que a Quaresma e a Paixão de Cristo que ora nos são oportunizadas sejam um recomeço para humanidade tão carente, um entendimento entre os povos, bem como uma verdadeira fonte fecunda de tolerância política, justiça social, conforto para os vitimados pelas mais terríveis mazelas e, em especial, misericórdia aos milhares de irmãos assolados pelo terremoto na Turquia, desmoronamento em São Vicente e guerra na Ucrânia.
Vamos juntos!
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(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.